VerĂŁo

Eu te chamo tumulto
e virei sobre ti
ao fogo dos frutos
na hora em que a polpa da tarde
fende
e pelo campo escorrem farelos de ouro
Ă  luz azul da bruma.

Para ti alço
com a rigidez de um bico,
garras, cĂłrneas, penas descendo
em teu tremor,
instante todo de corpo a nĂŁo ser
mais que carcassa, maré, esvaimento.

E quando, inerte
— casca ou pele, gretado
o teu querer nĂŁo for mais que apetĂȘncia
ou saudade,
o sangue a escorrer ainda
escondendo os talos da grama mais pequena,
hĂĄ-de permanecer aos olhos que o nĂŁo vĂȘem
Ă­ntimo sinal de uniĂŁo
entre a fĂȘmea e o macho
— o que penetra
e quanto, deixando penetrar
inaugura.