Males de Anto
A Ares n’uma aldeia
Quando cheguei, aqui, Santo Deus! como eu vinha!
Nem mesmo sei dizer que doença era a minha,
Porque eram todas, eu sei lá! desde o odio ao tedio.
Molestias d’alma para as quaes não ha remedio.
Nada compunha! Nada, nada. Que tormento!
Dir-se-ia accaso que perdera o meu talento:
No entanto, ás vezes, os meus nervos gastos, velhos,
Convulsionavam-nos relampagos vermelhos,
Que eram, bem o sentia, instantes de Camões!
Sei de cór e salteado as minhas afflicções:
Quiz partir, professar n’um convento de Italia,
Ir pelo Mundo, com os pés n’uma sandalia…
Comia terra, embebedava-me com luz!
Extasis, spasmos da Thereza de Jezus!
Contei n’aquelle dia um cento de desgraças.
Andava, á noite, só, bebia a noite ás taças.
O meu cavaco era o dos mortos, o das loizas.
Odiava os homens ainda mais, odiava as Coizas.
Nojo de tudo, horror! Trazia sempre luvas
(Na aldeia, sim!) para pegar n’um cacho d’uvas,
Ou n’uma flor. Por cauza d’essas mãos… Perdoae-me,
Aldeões! eu sei que vós sois puros. Desculpae-me.Mas, atravez da minha dor,
Poemas sobre Saudades
143 resultadosCantiga de Amigo
Nem um poema nem um verso nem um canto
tudo raso de ausĂŞncia tudo liso de espanto
e nem Camões VirgĂlio Shelley Dante
– o meu amigo está longe
e a distância é bastante.Nem um som nem um grito nem um ai
tudo calado todos sem mĂŁe nem pai
Ah nĂŁo Camões VirgĂlio Shelley Dante!– o meu amigo está longe
e a tristeza Ă© bastante.Nada a nĂŁo ser este silĂŞncio tenso
que faz do amor sozinho o amor imenso.
Calai Camões VirgĂlio Shelley Dante:
o meu amigo está longe
e a saudade Ă© bastante!
A Tua Morte em Mim
Ă€ memĂłria de Raquel Moacir
A tua morte Ă© sempre nova em mim.
NĂŁo amadurece. NĂŁo tem fim.
Se ergo os olhos dum livro, de repente
tu morreste.
Acordo, e tu morreste.
Sempre, cada dia, cada instante,
a tua morte Ă© nova em mim,
sempre impossĂvel.E assim, atĂ© Ă noite final
irás morrendo a cada instante
da vida que ficou fingindo vida.
Redescubro a tua morte como outros
descobrem o amor,
porque em cada lugar, cada momento,
tu estás viva.Viverei até à hora derradeira a tua morte.
Aos goles, lentos goles. Como se fosse
cada vez um veneno novo.
NĂŁo Ă© tanto a saudade que dĂłi, mas o remorso.
O remorso de todo o perdido em nossa vida,
coisas de antes e depois, coisas de nunca,
palavras mudas para sempre, um gesto
que sem remédio jamais teve destino,
o olhar que procura e nunca tem resposta.O Ăşnico presente verdadeiro Ă© teres partido.