Poemas sobre Saudades de Ricardo Reis

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Poemas de saudades de Ricardo Reis. Leia este e outros poemas de Ricardo Reis em Poetris.

Assim Choram os Deuses

Os deuses desterrados.
Os irmĂŁos de Saturno,
Às vezes, no crepĂșsculo
VĂȘm espreitar a vida.

VĂȘm entĂŁo ter conosco
Remorsos e saudades
E sentimentos falsos.
É a presença deles,
Deuses que o destronĂĄ-los
Tornou espirituais,
De matéria vencida,
LongĂ­nqua e inativa.

VĂȘm, inĂșteis forças,
Solicitar em nĂłs
As dores e os cansaços,
Que nos tiram da mĂŁo,
Como a um bĂȘbedo mole,
A taça da alegria.

VĂȘm fazer-nos crer,
Despeitadas ruĂ­nas
De primitivas forças,
Que o mundo Ă© mais extenso
Que o que se vĂȘ e palpa,
Para que ofendamos
A JĂșpiter e a Apolo.

Assim até à beira
Terrena do horizonte
Hiperion no crepĂșsculo
Vem chorar pelo carro
Que Apolo lhe roubou.

E o poente tem cores
Da dor dum deus longĂ­nquo,
E ouve-se soluçar
Para além das esferas

Assim choram os deuses.

O Passado é o Presente na Lembrança

Se recordo quem fui, outrem me vejo,
E o passado é o presente na lembrança.
Quem fui é alguém que amo
Porém somente em sonho.
E a saudade que me aflige a mente
NĂŁo Ă© de mim nem do passado visto,
SenĂŁo de quem habito
Por trĂĄs dos olhos cegos.
Nada, senĂŁo o instante, me conhece.
Minha mesma lembrança é nada, e sinto
Que quem sou e quem fui
SĂŁo sonhos diferentes.