O Que Amamos Está Sempre Longe de Nós
O que amamos está sempre longe de nós:
e longe mesmo do que amamos – que nĂŁo sabe
de onde vem, aonde vai nosso impulso de amor.O que amamos está como a flor na semente,
entendido com medo e inquietude, talvez
sĂł para em nossa morte estar durando sempre.Como as ervas do chĂŁo, como as ondas do mar,
os acasos se vĂŁo cumprindo e vĂŁo cessando.
Mas, sem acaso, o amor lĂmpido e exacto jaz.NĂŁo necessita nada o que em si tudo ordena:
cuja tristeza unicamente pode ser
o equĂvoco do tempo, os jogos da cegueiracom setas negras na escuridĂŁo.
Poemas sobre Sempre de CecĂlia Meireles
4 resultadosO Tempo Seca o Amor
O tempo seca a beleza,
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
desunido para sempre
como as areias nas águas.O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco,
vestĂgio do musgo humano,
na densa turfa mortuária.Esperarei pelo tempo
com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque,
nĂŁo na terra, Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.
Recado aos Amigos Distantes
Meus companheiros amados,
nĂŁo vos espero nem chamo:
porque vou para outros lados.
Mas Ă© certo que vos amo.Nem sempre os que estĂŁo mais perto
fazem melhor companhia.
Mesmo com sol encoberto,
todos sabem quando Ă© dia.Pelo vosso campo imenso,
vou cortando meus atalhos.
Por vosso amor Ă© que penso
e me dou tantos trabalhos.NĂŁo condeneis, por enquanto,
minha rebelde maneira.
Para libertar-me tanto,
fico vossa prisioneira.Por mais que longe pareça,
ides na minha lembrança,
ides na minha cabeça,
valeis a minha Esperança.
Timidez
Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve. . .— mas só esse eu não farei.
Uma palavra caĂda
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes..— palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,— que amargamente inventei.
E, enquanto nĂŁo me descobres,
os mundos vĂŁo navegando
nos ares certos do tempo,
atĂ© nĂŁo se sabe quando…— e um dia me acabarei.