A umas Mãos
Senhora, estas vossas mãos
São sobre belas tão lindas,
Que dão de mão aos arminhos
Na candidez, com que brilham.
Formou-as a natureza
De excelências tão subidas,
Que por essas mãos perder-me.
Senhora são mãos perder-me.
A graça tem às mãos cheas
Essas vossas mãos benignas,
Tanto que em mãos de papel
Nunca todas caberiam.
Se alguém tocá-las pertende,
As retirais tão esquiva,
Tão depressa, que de mão
Sempre ganhais na fugida.
Nas mãos vos vi umas letras,
Que dizem serem mui lindas,
E com ter as mãos impressas,
Pareciam manuscritas.
Não quero jogar convosco
As mãos, pois sois tão ladina,
Que como sois mão no jogo,
Temo ter a mão perdida.
Perder a mão pouco temo,
Se nas vossas mãos caíra,
Porque cair-vos nas mãos,
Era bem feliz caída.
Não digo mais destas mãos,
Porque são mãos tão benignas,
Que as trazem todos nas palmas
Das mãos por final de estima.
Somente digo, que basta,
Pra mãos encarecidas,
Dizer um dia um Cigano,
Que eram mãos de buena dicha.
Poemas sobre Sempre de Jerónimo Baía
2 resultadosRetrato
Pintar o rosto de Márcia
Com tal primor determino,
Que seja logo seu rosto
Pela pinta conhecido.
Anda doudo de prazer
Seu cabelo por tão lindo,
Pois mal lhe vai uma onda,
Quando outra já lhe tem vindo.
Sua testa com seus arcos
Do Turco Império castigo
Vencido tem Solimão,
Meias Luas tem vencido.
Dormidos seus olhos são,
Porém Planetas tão ricos
Nunca já foram sonhados,
Bem que sempre são dormidos.
A dormir creio se lançam
Por ter de mortais, e vivos
Tão boa fama cobrado,
Nome tão grande adquirido.
Entre seus raios se mostra
O grande nariz bornido,
Por final que entre seus raios
Prova o nariz de aquilino.
Nas taças de suas faces
Feitas do metal mais limpo,
Como certos Reverendos,
Mistura o branco co’tinto.
As perlas dos dentes alvos,
Os rubins dos beiços finos
Tem desdentado o marfim,
E a cor mais viva comido.
O passadiço da voz
Nem é neve, nem é vidro,
Nem mármore, nem marfim,
Nem cristal, mas passadiço.