Poemas sobre SĂ©rios de Fernando Pessoa

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Dizem que Finjo ou Minto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. NĂŁo.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa Ă© que Ă© linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
SĂ©rio do que nĂŁo Ă©,
Sentir, sinta quem lĂŞ!

Abismo

Olho o Tejo, e de tal arte
Que me esquece olhar olhando,
E sĂşbito isto me bate
De encontro ao devaneando —
O que é sério, e correr?
O que é está-lo eu a ver?

Sinto de repente pouco,
Vácuo, o momento, o lugar.
Tudo de repente é oco —
Mesmo o meu estar a pensar.
Tudo — eu e o mundo em redor —
Fica mais que exterior.

Perde tudo o ser, ficar,
E do pensar se me some.
Fico sem poder ligar
Ser, idéia, alma de nome
A mim, Ă  terra e aos cĂ©us…

E sĂşbito encontro Deus.