Poemas sobre SilĂȘncio de Alberto Caeiro

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Poemas de silĂȘncio de Alberto Caeiro. Leia este e outros poemas de Alberto Caeiro em Poetris.

Meto-me para Dentro

Meto-me para dentro, e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e dĂŁo as boas noites,
E a minha voz contente dĂĄ as boas noites.
OxalĂĄ a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O Ășltimo olhar amigo dado ao sossego das ĂĄrvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito.
E lĂĄ fora um grande silĂȘncio como um deus que dorme.

Eu Nunca Guardei Rebanhos

Eu nunca guardei rebanhos,
Mas Ă© como se os guardasse.
Minha alma Ă© como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das EstaçÔes
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pĂŽr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planĂ­cie
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.

Mas a minha tristeza Ă© sossego
Porque Ă© natural e justa
E Ă© o que deve estar na alma
Quando jĂĄ pensa que existe
E as mĂŁos colhem flores sem ela dar por isso.

Como um ruĂ­do de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos sĂŁo contentes.
SĂł tenho pena de saber que eles sĂŁo contentes,
Porque, se o nĂŁo soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.

Pensar incomoda como andar Ă  chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.

Não tenho ambiçÔes nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.

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