Neste Leito de AusĂȘncia

Neste leito de ausĂȘncia em que me esqueço
desperta o longo rio solitĂĄrio:
se ele cresce de mim, se dele cresço,
mal sabe o coração desnecessårio.

O rio corre e vai sem ter começo
nem foz, e o curso, que Ă© constante, Ă© vĂĄrio.
Vai nas ĂĄguas levando, involuntĂĄrio,
luas onde me acordo e me adormeço.

Sobre o leito de sal, sou luz e gesso:
duplo espelho — o precário no precário.
Flore um lado de mim? No outro, ao contrĂĄrio,
de silĂȘncio em silĂȘncio me apodreço.

Entre o que Ă© rosa e lodo necessĂĄrio,
passa um rio sem foz e sem começo.

[Poemas Portugueses]