Por um Rosto Chego ao Teu Rosto
Por um rosto chego ao teu rosto,
noutro corpo sei o teu corpo.
Num autocarro, num café me pergunto
porque nĂŁo falam o que vai
no seu silĂȘncio aqueles cujo olhar
me fala da solidĂŁo.
Esqueço-me de mim. Tão quieto
pensando na sua pouca coragem, a minha
sempre adiada. Por um rosto
chegaria o teu rosto, mesmo de um convite
ousado fugiria, esta mĂŁo conhece-te
e desenha no ar o hĂĄbito
por que andou antes de saĂres
do espaço à sua volta. Estås longe,
sĂł assim podes pedir algumas horas
aos meus dias. Sem fixar a voz
a tua voz Ă© uma corda, a minha
um fio a partir-se.
Poemas sobre SilĂȘncio de Helder Moura Pereira
2 resultadosEscrevias pela Noite Fora
Escrevias pela noite fora. Olhava-te, olhava
o que ia ficando nas pausas entre cada
sorriso. Por ti mudei a razĂŁo das coisas,
faz de conta que nĂŁo sei as coisas que nĂŁo queres
que saiba, acabei por te pensar com crianças
à volta. Agora hå prédios onde havia
laranjeiras e romĂŁs no chĂŁo e as palavras
nem o sabem dizer, apenas apontam a rua
que foi comum, o quarto estreito. Um livro
Ă© suficiente neste passeio. Quando nĂŁo escreves
estĂĄs a ler e ao lado das ĂĄrvores o silĂȘncio
Ă© maior. Decerto te digo o que penso
baixando a cabeça e tu respondes sempre
com a cabeça inclinada e o fumo suspenso
no ar. As verdades nunca se disseram. Queria
prender-te, tornar a perder-te, achar-te
assim por acaso no meu dia livre a meio
da semana. MantĂȘm-se as causas iguais
das pequenas alegrias, longe da alegria, a rotina
dos sorrisos vem de nenhum vĂcio. Este abandono
custa. Porque estou contigo e me deixas
a tua imagem passa pelas noites sem sono,
estĂĄ aqui a cadeira em que te sentaste
a escrever lendo.