Poemas sobre SilĂȘncio de Miguel Torga

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Liberdade

— Liberdade, que estais no cĂ©u…
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

— Liberdade, que estais na terra…
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silĂȘncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pĂŁo da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.

SĂșplica

Agora que o silĂȘncio Ă© um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
NĂŁo respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
JĂĄ tĂŁo longe de ti, como de mim.

Perde-se a vida, a desejĂĄ-la tanto.
SĂł soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
HĂĄ calmaria…
NĂŁo perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz, seria
Matar a sede com ĂĄgua salgada.