Poemas sobre SolidĂŁo de Mia Couto

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Poemas de solidĂŁo de Mia Couto. Leia este e outros poemas de Mia Couto em Poetris.

Amei-te sem Saberes

No avesso das palavras
na contrĂĄria face
da minha solidĂŁo
eu te amei
e acariciei
o teu imperceptĂ­vel crescer
como carne da lua
nos nocturnos lĂĄbios entreabertos

E amei-te sem saberes
amei-te sem o saber
amando de te procurar
amando de te inventar

No contorno do fogo
desenhei o teu rosto
e para te reconhecer
mudei de corpo
troquei de noites
juntei crepĂșsculo e alvorada

Para me acostumar
Ă  tua intermitente ausĂȘncia
ensinei Ă s timbilas
a espera do silĂȘncio

SolidĂŁo

Aproximo-me da noite
o silĂȘncio abre os seus panos escuros
e as coisas escorrem
por Ăłleo frio e espesso

Esta deveria ser a hora
em que me recolheria
como um poente
no bater do teu peito
mas a solidĂŁo
entra pelos meus vidros
e nas suas enlutadas mĂŁos
solto o meu delĂ­rio

É então que surges
com teus passos de menina
os teus sonhos arrumados
como duas tranças nas tuas costas
guiando-me por corredores infinitos
e regressando aos espelhos
onde a vida te encarou

Mas os ruĂ­dos da noite
trazem a sua esponja silenciosa
e sem luz e sem tinta
o meu sonho resigna

Longe
os homens afundam-se
com o caju que fermenta
e a onda da madrugada
demora-se de encontro
Ă s rochas do tempo