Canto Esponjoso
Bela
esta manhĂŁ sem carĂŞncia de mito,
E mel sorvido sem blasfémia.Bela
esta manhĂŁ ou outra possĂvel,
esta vida ou outra invenção,
sem, na sombra, fantasmas.Umidade de areia adere ao pé.
Engulo o mar, que me engole.
Valvas, curvos pensamentos, matizes da luz
azul
completa
sobre formas constituĂdas.Bela
a passagem do corpo, sua fusĂŁo
no corpo geral do mundo.
Vontade de cantar. Mas tĂŁo absoluta
que me calo, repleto.
Poemas sobre Sombra de Carlos Drummond de Andrade
3 resultadosO Procurador do Amor
Amor, a quanto me obrigas.
De dorso curvo e olhar aceso,
troto as avenidas neutras
atrás da sombra que me inculcas.Esta sombra que se confunde
com as mulheres gordas e magras,
entra numa porta, sai por outra
como nos filmes americanos,
e reaparece olhando as vitrinas.Meu olhar desnuda as passantes.
Ă€s vezes um bico de seio
vale mais que o melhor Baedeker.
Mas onde seio para minha sede?O andar, a curva de um joelho,
vinco de seda no quadril
(nĂŁo sabia quanto eras pura),
faço a polĂcia dos dessous.Eu sei que o ĂŞxtase supremo,
o looping no céu espiritual
pode enredar-se, malicioso,
no que as mulheres mais (?) escondem
no que meus olhos mais indagam.O dia se emenda com a noite
As mulheres vĂŁo para a rua
mas a mulher que tu me destinas
talvez ainda esteja em Peiping.Desiludido ainda me iludo.
Namoro a plumagem do galo
no ouro pérfido do coquetel.
Enquanto as mulheres cocoricam
os homens engolem veneno.
A Palavra Mágica
Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se nĂŁo a encontro,
nĂŁo desanimo,
procuro sempre.Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.