MĂșsica
A doce, iriada melodia,
roxa sombra na tarde escarlate,
chorosa, ouço-a; bate
e verte quentura na minha alma fria.Quantos anos galgaram lépidos,
furtivos, maldosos, sobre a minha cabeça!
E nĂŁo hĂĄ tempo que, hĂșmido, arrefeça
a toada suave de tons tĂ©pidos…RemĂ©dio para as minhas feridas,
para os nervos pacĂfico brometo,
quando eu seguir no caixĂŁo preto,
entre velas e ladainhas,meus ouvidos tapados a algodĂŁo
hĂŁo-de ouvi-la, tal como nessa tarde,
tĂŁo discreta, suave e sem alarde,
sobrepondo-se ao cantochĂŁo…
Poemas sobre Sombra de SaĂșl Dias
3 resultadosPoeta
– Poeta errante,
de olhar vago e distante
e azul,
o teu perfil singular
recorta-se angular
ao norte e ao sul.– Os teus fatos coçados
bate-os o vento
e leva-os aos bocados…E os sapatos gastos
pedem grandes repastos,
abrem bocas, esfomeados.(Nos bolsos, imagino
asas de borboletas,
molhos de folhas secas,
poeiras e papĂ©is…)– Poeta errante,
caem por terra os livros e a estante,
e as torres esguias das igrejas,
e as paredes velhas dos bordĂ©is!…– Poeta errante,
vamos dormir na sombra dos vergĂ©is!…
A Minha Hora
Que horas sĂŁo? O meu relĂłgio estĂĄ parado,
HĂĄ quanto tempo!…
Que pena o meu relĂłgio estar parado
E eu nĂŁo poder marcar esta hora extraordinĂĄria!
Hora em que o sonho ascende, lento, muito lento,
Hora som de violino a expirar… Hora vĂĄria,
Hora sombra alongada de convento…Hora feita de nostalgia
Dos degredados…
Hora dos abandonados
E dos que o tĂ©dio abate sem cessar…
Hora dos que nunca tiveram alegria,
Hora dos que cismam noite e dia,
Hora dos que morrem sem amar…Hora em que os doentes de corpo e alma,
Pedem ao Senhor para os sarar…
Hora de febre e de calma,
Hora em que morre o sol e nasce o luar…
Hora em que os pinheiros pela encosta acima,
SĂŁo monges a rezar…Hora irmĂŁ da caridade
Que dĂĄ remĂ©dio aos que o nĂŁo tĂȘm…
Hora saudade…
Hora dos Pedro Sem…
Hora dos que choram por nĂŁo ter vivido,
Hora dos que vivem a chorar alguĂ©m…Hora dos que tĂȘm um sonho ĂĄguia mas… ai!
Ăguia sem asas para voar…