Em Viagem

Desde aquela dor tamanha
Do momento em que parti
Um sĂł prazer me acompanha,
Filha, o de pensar em ti:

Por sobre a negra paisagem
Do meu ermo coração
O luar branco da tua imagem
Veste um benigno clarĂŁo.

A tarde, no azul celeste,
Há uma estrela esmorecida,
Que Ă© o beijo que tu me deste
Na hora da despedida.

Beijo tĂŁo longo e dolente,
TĂŁo longo e cortado de ais,
Que o meu coração pressente
Que nĂŁo te torno a ver mais.

Conto no céu estrelado
Lágrimas de oiro sem fim:
É o pranto que tens chorado,
De dia e noite, por mim…

Quando me deito na cama
E vou quase adormecido,
Oiço a tua voz que me chama,
Num suplicante gemido.

Num gemido tĂŁo suave,
TĂŁo triste na noite escura,
Que é como uma queixa d’ave
Presa numa sepultura!…

Em sonho, Ă s vezes, meu Deus,
Cuido que vou expirar,
Sem levar nos olhos meus
O teu derradeiro olhar.

E sem extremo conforto
Que eu ness’hora quero ter:
Beijar a fronte do morto
Aquela que o fez viver.

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