Hino Ă Alegria
Tenho-a visto passar, cantando, Ă minha porta,
E Ă s vezes, bruscamente, invadir o meu lar,
Sentar-se Ă minha mesa, e a sorrir, meia morta,
Deitar-se no meu leito e o meu sono embalar.Tumultuosa, nos seus caprichos desenvoltos,
Quase meiga, apesar do seu riso constante,
De olhos a arder, lábios em flor, cabelos soltos,
A um tempo Ă© cortesĂŁ, deusa ingĂ©nua ou bacante…Quando ela passa, a luz dos seus olhos deslumbra;
Tem como o Sol de Inverno um brilho encantador;
Mas o brilho é fugaz, — cintila na penumbra,
Sem que dele irradie um facho criador.Quando menos se espera, irrompe de improviso;
Mas foge-nos também com uma presteza igual;
E dela apenas fica um pálido sorriso
Traduzindo o desdĂ©m duma ilusĂŁo banal.Onda mansa que sĂł Ă superfĂcie corre,
Toda a alegria Ă© vĂŁ; sĂł a Dor Ă© fecunda!
A Dor é a Inspiração, louro que nunca morre,
Se em nĂłs crava a raiz exaustiva e profunda!No entanto, eu te saĂşdo e louvo, hora dourada,
Em que a Alegria vem extinguir,
Poemas sobre Sublime
25 resultadosAmor MĂstico
Quando a minha alma nasceu
Para onde olhou primeiro,
E viu tudo um nevoeiro,
Foi lá cima para o cĂ©u…
Que a alma nunca lhe passa
De ideia a fonte da graça!Em toda a ânsia de luz,
Em toda a ânsia de gozo,
Sempre aquele olhar ansioso
Nesse ideal de Jesus…
Nesse bem que nĂŁo se exprime…
ĂŠxtase de amor sublime!Olhava da solidĂŁo,
Onde se sentia presa,
Com a natural tristeza
Dos ferros de uma prisĂŁo…
Ă€ espera sempre da hora
Que lhe raiasse a aurora!Bem a chamavam de cá
Sempre os cuidados do dia;
Ela, que nunca os ouvia,
Olhava, mas para lá…
Donde ela mesmo viera,
Donde todo o bem se espera!Um dia (nem eu sei qual,
Que em suma foi isso há tanto!)
VĂŞ com uns olhos de espanto
Romper-se a névoa geral;
E como um sol recortado
Nesse mar enevoado…E dentro desse clarĂŁo,
Como em cĂrculo de prata,
Que imagem se lhe retrata,
Fosse verdade ou visĂŁo?
Os Amantes
Amor, Ă© falso o que dizes;
Teu bom rosto Ă© contrafeito;
Busca novos infelizes
Que eu inda trago no peito
Mui frescas as cicatrizes;O teu meu Ă© mel azedo,
NĂŁo creio em teu gasalhado,
Mostras-me em vĂŁo rosto ledo;
Já estou muito escaldado,
Já d’águas frias hei medo.Teus prĂ©mios sĂŁo pranto e dor;
Choro os mal gastados anos
Em que servi tal senhor,
Mas tirei dos teus enganos
O sair bom pregador.Fartei-te assaz a vontade;
Em vĂŁos suspiros e queixas
Me levaste a mocidade,
E nem ao menos me deixas
Os restos da curta idade?És como os cães esfaimados
Que, comendo os troncos quentes
Por destro negro esfolados,
Levam nos ávidos dentes
Os ossos ensanguentados.Bem vejo a aljava dourada
Os ombros nus adornar-te;
Amigo, muda de estrada,
Põe a mira em outra parte
Que daqui nĂŁo tiras nada.Busca algum fofo morgado
Que, solto já dos tutores,
Ao domingo penteado,
Vá dizendo à toa amores
Pelas pias encostado;
Natal cada Natal
Quando na mais sublime dor,
A mulher dá à luz,
Há sempre um Anjo Anunciador
A murmurar-lhe ao coração — Jesus!Cada criança é o Céu que vem
Pra nos remir do pecado
E as palhas d’oiro de Belém
Espalham-se no berço, como um Sol espelhadoPor sobre o lar presepial , o brilho
Da estrela abre o convite dos portais:
— Vinde adorar a floração do filho
No alvoroço da raiz dos pais.
Gargalhada
Hornem vulgar! Homem de coração mesquinho!
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
Dobra essa orelha grosseira, e escuta
o ritmo e o som da minha gargalhada:Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!NĂŁo vĂŞs?
É preciso jogar por escadas de mármore baixelas de ouro.
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
e atirar para longe os pandeiros e as liras…O riso magnĂfico Ă© um trecho dessa mĂşsica desvairada.
Mas Ă© preciso ter baixelas de ouro,
compreendes?
— e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
E as lâmpadas, Deus do céu!
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trĂ©mulas…Escuta bem:
Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!Só de três lugares nasceu até hoje esta música heróica:
do céu que venta,
do mar que dança,
e de mim.