o tempo subitamente solto
o tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
eram os teus olhos, labirintos de ĂĄgua, terra, fogo, ar,
que eu amava quando imaginava que amava. era a tua
a tua voz que dizia as palavras da vida. era o teu rosto.
era a tua pele. antes de te conhecer, existias nas ĂĄrvores
e nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde.
muito longe de mim, dentro de mim, eras tu a claridade.
Poemas sobre Terra de JosĂ© LuĂs Peixoto
3 resultadosA Mulher Mais Bonita do Mundo
estĂĄs tĂŁo bonita hoje. quando digo que nasceram
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estĂĄs bonita.entro na casa, entro no quarto, abro o armĂĄrio,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde estĂĄ o teu fio
de ouro.entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.hå o céu, a casa, o quarto, e tu estås dentro de mim.
estĂĄs tĂŁo bonita hoje.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lĂĄbios.
estĂĄs dentro de algo que estĂĄ dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lĂĄbios.
de encontro ao silĂȘncio, dentro do mundo,
estĂĄs tĂŁo bonita Ă© aquilo que quero dizer.
arte poética
o poema nĂŁo tem mais que o som do seu sentido,
a letra p nĂŁo Ă© a primeira letra da palavra poema,
o poema Ă© esculpido de sentidos e essa Ă© a sua forma,
poema nĂŁo se lĂȘ poema, lĂȘ-se pĂŁo ou flor, lĂȘ-se erva
fresca e os teus lĂĄbios, lĂȘ-se sorriso estendido em mil
ĂĄrvores ou cĂ©u de punhais, ameaça, lĂȘ-se medo e procura
de cegos, lĂȘ-se mĂŁo de criança ou tu, mĂŁe, que dormes
e me fizeste nascer de ti para ser palavras que nĂŁo
se escrevem, LĂȘ-se paĂs e mar e cĂ©u esquecido e
memĂłria, lĂȘ-se silĂȘncio, sim tantas vezes, poema lĂȘ-se silĂȘncio,
lugar que nĂŁo se diz e que significa, silĂȘncio do teu
olhar doce de menina, silĂȘncio ao domingo entre as conversas,
silĂȘncio depois de um beijo ou de uma flor desmedida, silĂȘncio
de ti, pai, que morreste em tudo para sĂł existires nesse poema
calado, quem o pode negar?, que escreves sempre e sempre, em
segredo, dentro de mim e dentro de todos os que te sofrem.
o poema nĂŁo Ă© esta caneta de tinta preta, nĂŁo Ă© esta voz,