Todo o Amor em Nosso Amor se Encerra
Minha moça selvagem, tivemos
que recuperar o tempo
e caminhar para trás, na distância
das nossas vidas, beijo a beijo,
retirando de um lugar o que demos
sem alegria, descobrindo noutro
o caminho secreto
que aproximava os teus pés dos meus,
e assim tornas a ver
na minha boca a planta insatisfeita
da tua vida estendendo as raĂzes
para o meu coração que te esperava.
E entre as nossas cidades separadas
as noites, uma a uma,
juntam-se Ă noite que nos une.
Tirando-as do tempo, entregam-nos
a luz de cada dia,
a sua chama ou o seu repouso,
e assim se desenterra
na sombra ou na luz nosso tesouro,
e assim beijam a vida os nossos beijos:
todo o amor em nosso amor se encerra:
toda a sede termina em nosso abraço.
Aqui estamos agora frente a frente,
encontrámo-nos,
nĂŁo perdemos nada.
Percorremo-nos lábio a lábio,
mil vezes trocámos
entre nĂłs a morte e a vida,
tudo o que trazĂamos
quais mortas medalhas
atirámo-lo ao fundo do mar,
tudo o que aprendemos
de nada serviu:
começámos de novo,
Poemas sobre Tesouro de Pablo Neruda
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A Infinita
VĂŞs estas mĂŁos? Mediram
a terra, separaram
os minerais e os cereais,
fizeram a paz e a guerra,
derrubaram as distâncias
de todos os mares e rios
e, no entanto,
quando te percorrem
a ti, pequena,
grĂŁo de trigo, calhandra,
nĂŁo conseguem abarcar-te,
fatigam-se ao agarrar
as pombas gémeas
que repousam ou voam no teu peito,
percorrem as distâncias das tuas pernas,
enrolam-se na luz da tua cintura.
Para mim tu Ă©s tesouro mais rico
de imensidade do que o mar e seus cachos
e Ă©s branca e azul e extensa como
a terra nas vindimas.
Nesse territĂłrio,
desde os pés à fronte,
andando, andando, andando,
passarei a vida.