Nua
I
Nua
como Eva.
A cabeleira
beija-lhe o rosto oval e flutua;
o corpo
Ă© ĂĄgua de torrente…Eva adolescente,
com reflexos de lua
e tons de aurora…!Roseira que enflora…!
Desflorada por tanta gente…
II
Teu corpo,
mal o toquei…SĂł te abracei
de leve…Foi todo neve
o sonho que alonguei…Asas em voo,
quem, um dia, as teve?Os sonhos que eu sonhei!
III
Jeito de ave
e criança,
suave
como a dança
do ramo de ĂĄrvore
que o vento beija e balança!Nave
de sonho
no temporal medonho
silvando agoiro!Quem destrançou os teus cabelos de oiro?
IV
Corpo fino,
delicado,
sereno, sem desejos…TĂŁo macio,
tĂŁo modelado…Beijos… Beijos… Beijos…
V
No meu sono
ela flutua
a cada passo…Nua,
riscando o espaço
numa nĂ©voa de outono…
Poemas sobre Tom de SaĂșl Dias
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MĂșsica
A doce, iriada melodia,
roxa sombra na tarde escarlate,
chorosa, ouço-a; bate
e verte quentura na minha alma fria.Quantos anos galgaram lépidos,
furtivos, maldosos, sobre a minha cabeça!
E nĂŁo hĂĄ tempo que, hĂșmido, arrefeça
a toada suave de tons tĂ©pidos…RemĂ©dio para as minhas feridas,
para os nervos pacĂfico brometo,
quando eu seguir no caixĂŁo preto,
entre velas e ladainhas,meus ouvidos tapados a algodĂŁo
hĂŁo-de ouvi-la, tal como nessa tarde,
tĂŁo discreta, suave e sem alarde,
sobrepondo-se ao cantochĂŁo…