Natal Divino
Natal divino ao rés-do-chão humano,
Sem um anjo a cantar a cada ouvido.
Encolhido
Ă€ lareira,
Ao que pergunto
Respondo
Com as achas que vou pondo
Na fogueira.O mito apenas velado
Como um cadáver
Familiar…
E neve, neve, a caiar
De triste melancolia
Os caminhos onde um dia
Vi os Magos galopar…
Poemas sobre Tristes de Miguel Torga
4 resultadosO Poeta
Triste, lá vai à ronda dos segredos
O maluco que rouba quanto vĂŞ.
Branco, do coração aos dedos,
É todo antenas onde apenas lê.Murcha-lhe nos pés o rosmaninho
E a prĂłpria rosa, de o sentir, descora;
Mas Ă© um Deus que passeia o seu caminho
A beber a amargura de quem chora.Magro, lá passa, e lá se vai consigo
A luz das coisas e a flor de tudo.
É um bruxo lento, tenebroso e antigo,
Pálido, sério, solitário e mudo.
Canção para a Minha Mãe
E sem um gesto, sem um nĂŁo, partias!
Assim a luz eterna se extinguia!
Sem um adeus, sequer, te despedias,
Atraiçoando a fé que nos unia!Terra lavrada e quente,
Regaço de um poeta criador,
Ias-te embora antes do sol poente,
Triste como semente sem calor!Ias, resignada, apodrecer
Ă€ sombra das roseiras outonais!
Cor da alegria, cântico a nascer,
Trocavas por ciprestes pinheirais!
Liberdade
— Liberdade, que estais no cĂ©u…
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.— Liberdade, que estais na terra…
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silĂŞncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pĂŁo da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.