Poemas sobre Velhos de Bertolt Brecht

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Poemas de velhos de Bertolt Brecht. Leia este e outros poemas de Bertolt Brecht em Poetris.

Louvor do Esquecimento

Bom Ă© o esquecimento.
SenĂŁo como Ă© que
O filho deixaria a mĂŁe que o amamentou?
Que lhe deu a força dos membros e
O retém para os experimentar.

Ou como havia o discĂ­pulo de abandonar o mestre
Que lhe deu o saber?
Quando o saber está dado
O discĂ­pulo tem de se pĂ´r a caminho.

Na velha casa
Entram os novos moradores.
Se os que a construíram ainda lá estivessem
A casa seria pequena de mais.

O fogĂŁo aquece. O oleiro que o fez
Já ninguém o conhece. O lavrador
NĂŁo reconhece a broa de pĂŁo.

Como se levantaria, sem o esquecimento
Da noite que apaga os rastos, o homem de manhĂŁ?
Como Ă© que o que foi espancado seis vezes
Se ergueria do chão à sétima
Pra lavrar o pedregal, pra voar
Ao céu perigoso?

A fraqueza da memória dá
Fortaleza aos homens.

Tradução de Paulo Quintela

Dos Restos de Velhos Tempos

Para exemplo ainda continua a Lua
Nas noites por sobre os novos edifĂ­cios;
Entre as coisas de cobre
É ela
A mais inutilizável.   Já
As mĂŁes contam de animais,
Chamados cavalos, que puxavam carros.
E verdade que quando se fala de continentes
Já não são capazes de acertar com os nomes:
Pelas grandes antenas novas
Já dos velhos tempos
Se nĂŁo conhece nada.

Tradução de Paulo Quintela

Prazeres

O primeiro olhar da janela de manhĂŁ
O velho livro de novo encontrado
Rostos animados
Neve, o mudar das estações
O jornal
O cĂŁo
A dialéctica
Tomar duche, nadar
Velha mĂşsica
Sapatos cĂłmodos
Compreender
MĂşsica nova
Escrever, plantar
Viajar, cantar
Ser amável.

O «Ensina-me»

Quando era novo, mandei fazer numa tábua
A canivete e nanquim a figura dum velho
A coçar-se no peito por causa da sarna
Mas de olhar implorativo porque esperava que o ensinassem.
Uma segunda tábua pra o outro canto do quarto,
Que devia representar um moço a ensiná-lo,
Nunca mais foi feita.

Quando era novo tinha a esperança
De encontrar um velho que se deixasse ensinar.
Quando for velho, espero
Que se encontre um moço e eu
Me deixe ensinar.

Tradução de Paulo Quintela