Obscuro DomĂnio
Amar-te assim desvelado
entre barro fresco e ardor.
Sorver o rumor das luzes
entre os teus lĂĄbios fendidos.Deslizar pela vertente
da garganta, ser mĂșsica
onde o silĂȘncio aflui
e se concentra.IrreprimĂvel queimadura
ou vertigem desdobrada
beijo a beijo,
brancura dilaceradaPenetrar na doçura da areia
ou do lume,
na luz queimada
da pupila mais azul,no oiro anoitecido
entre pétalas cerradas,
no alto e navegĂĄvel
golfo do desejo,onde o furor habita
crispado de agulhas,
onde faça sangrar
as tuas ĂĄguas nuas.
Poemas sobre Vertigem de Eugénio de Andrade
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Desde a Aurora
Como um sol de polpa escura
para levar Ă boca,
eis as mĂŁos:
procuram-te desde o chĂŁo,entre os veios do sono
e da memĂłria procuram-te:
Ă vertigem do ar
abrem as portas:vai entrar o vento ou o violento
aroma de uma candeia,
e subitamente a ferida
recomeça a sangrar:é tempo de colher: a noite
iluminou-se bago a bago: vais surgir
para beber de um trago
como um grito contra o muro.Sou eu, desde a aurora,
eu â a terra â que te procuro.