O Indiferente
Posso amar tanto louras como morenas,
A que cede à abundância e a que trai por pobreza,
A que busca a solidĂŁo e a que se mascara e brinca,
Aquela que o campo cultivou e a da cidade,
A que acredita, e a que hesita,
A que ainda lacrimeja com olhos esponjosos,
E a rolha seca que nunca chora.
Eu posso amar essa e esta, e tu, e tu,
Posso amar qualquer uma, desde que nĂŁo seja leal.Nenhum outro vĂcio vos satisfará?
Não vos será útil fazer como as vossas mães?
Ou, gastos todos os velhos vĂcios, inventaram novos?
Ou atormenta-vos o medo de que os homens sejam fiéis?
Oh, não o somos, não o sejais vós também,
Deixai-me conhecer, eu e vĂłs, mais de vinte.
Roubem-me, mas nĂŁo me prendam, deixai-me ir.
Devo eu, que vim a estas dores através de vós
Tornar-me vosso fiel súbdito, porque sois leais?Vénus ouviu-me suspirar esta canção,
E pela maior doçura do amor, a variedade, jurou
Que a não ouvira até então, e não mais seria assim.
E foi-se,
Poemas sobre VĂcio de John Donne
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