Namorados do Mirante
Eles eram mais antigos que o silĂȘncio
A perscrutar-se intimamente os sonhos
Tal como duas sĂșbitas estĂĄtuas
Em que apenas o olhar restasse humano.
Qualquer toque, por certo, desfaria
Os seus corpos sem tempo em pura cinza.
A Remontavam Ă s origens â a realidade
Neles se fez, de substĂąncia, imagem.
Dela a face era fria, a que o desejo
Como um hictus, houvesse adormecido
Dele apenas restava o eterno grito
Da espĂ©cie â tudo mais tinha morrido.
CaĂam lentamente na voragem
Como duas estrelas que gravitam
Juntas para, depois, num grande abraço
Rolarem pelo espaço e se perderem
Transformadas na magma incandescente
Que milénios mais tarde explode em amor
E da matéria reproduz o tempo
Nas galĂĄxias da vida no infinito.Eles eram mais antigos que o silĂȘncio…
Poemas sobre Vida de Vinicius de Moraes
3 resultadosA Mulher que Passa
Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio Ă© um campo de lĂrios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!Oh! Como és linda, mulher que passas
que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!Teus sentimentos sĂŁo poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pĂȘlos leves sĂŁo relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!Porque me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?Por que nĂŁo voltas, mulher que passa?
Por que nĂŁo enches a minha vida?
Por que nĂŁo voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que nĂŁo voltas Ă minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Poema de Natal
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos â
Por isso temos braços longos para os adeuses
MĂŁos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim serĂĄ nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois tĂșmulos â
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silĂȘncio.
NĂŁo hĂĄ muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai â
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos coraçÔes
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte â
De repente nunca mais esperaremos…
Hoje a noite Ă© jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.