O DilĂșvio
HĂĄ muitos dias jĂĄ, hĂĄ jĂĄ bem longas noites
que o estalar dos vulcÔes e o atroar das torrentes
ribombam com furor, quais råbidos açoites,
ao crebro rutilar dos coriscos ardentes.Pradarias, vergéis, hortos, vinhedos, matos,
tudo desapar’ceu ao rude desabar
das constantes, hostis, raivosas cataratas,
que fizeram da Terra um grande e torvo mar.Ă flor do torvo mar, verde como as gangrenas,
onde homens e leÔes bóiam agonizantes,
imprecando com fĂșria e angĂșstia, erguem-se apenas,
quais monstros colossais, as montanhas gigantes.Ă aĂ que, ululando, os homens como as feras
refugiar-se vĂŁo em trĂĄgicos cardumes,
O mar sobe, o mar cresce. e os homens e as panteras,
crianças e reptis caminham para os cumes.Os fortes, sem haver piedade que os sujeite,
arremessam ao chĂŁo pobres velhos cansados.
e as mães largam. cruéis, os filhinhos de leite,
que os que seguem depois pisam, alucinados.Um sinistro pavor; crescente e sufocante,
desnorteia, asfixia a turba pertinaz:
ouvem-se urros de dor, e os que vĂŁo adiante
lançam pedras brutais aos que ficam pra trås.
Poemas sobre VĂtimas de EugĂ©nio de Castro
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