Passagens sobre Prática

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Frases sobre prática, poemas sobre prática e outras passagens sobre prática para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Que louvável e útil prática essa de gastar com as despesas de casamento a terça parte do dote e de começar a empobrecer, com o acúmulo de coisas supérfluas, dando ao estofador uma parte das economias que se guardam para comer e dormir sossegados!

Um Calculador de Improbabilidades

O poeta é
um calculador de improbabilidades limita
a informação quantitativa fornecendo
reforçada informação estésica.
É uma máquina eta-erótica em que as discrepâncias
são a fulgurância da máquina.
A crueldade elegante da máquina resulta da
competição pirotécnica da circulação íntima
e fulgurante do seu maquinismo erótico.
A psicologia do maquinal sabe que basta
que se crie um pólo positivo para que o pólo
negativo surja
ou vice-versa
e as evoluções telecinéticas pela força
das catástrofes desenvolvem suas faculdades
latentes ou absorvem-nas como a esponja absorve
as águas variáveis dos humores
que transforma em polaridade.
O maquinal eta-erótico está em astrogação
curso hipnótico dos polímeros.
Digo com precisão fenomenológica: o maquinal
circula em sua hiperesfera da maneira mais
excêntrica.
Digo e garanto:
o maquinal absolutamente absorve suas águas
variáveis e isso é o seu amplexo.
O maquinal eta-erótico é tu-eu.
O maquinal tu-eu
cuja tarefa árdua não é
definir a verdade está no meio da profusão
dos objectos
e considera o consumo a verdade deslocada
deslocação de grande tonelagem
laboriosa alfaiataria de eros
constante moribunda
e esse opróbrio dispersivo e vexável
indifere a vida esponjosa.

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A Justiça em Estado Puro

Quero que me ensinem também o valor sagrado da justiça — da justiça que apenas tem em vista o bem dos outros, e para si mesma nada reclama senão o direito de ser posta em prática. A justiça nada tem a ver com a ambição ou a cobiça da fama, apenas pretende merecer aos seus próprios olhos. Acima de tudo, cada um de nós deve convencer-se de que temos de ser justos sem buscar recompensa. Mais ainda: cada um de nós deve convencer-se de que por esta inestimável virtude devemos estar prontos a arriscar a vida, abstendo-nos o mais possível de quaisquer considerações de comodidade pessoal. Não há que pensar qual virá a ser o prémio de um acto justo; o maior prémio está no facto de ele ser praticado. Mete também na tua ideia aquilo que há pouco te dizia: não interessa para nada saber quantas pessoas estão a par do teu espírito de justiça. Fazer publicidade da nossa virtude significa que nos preocupamos com a fama, e não com a virtude em si.

Os doentes obterão a cura quando se arrependerem de sua falta de agradecimento pela saúde que antes possuíam e, crendo já terem se recuperado, aprofundarem o sentimento de gratidão através da prática da Meditação Shinsokan. Os que sofrem da vista serão curados quando se arrependerem de não terem sido gratos pela visão perfeita que possuíam e, mentalizando que são dotados de olhos perfeitos, aprofundarem o sentimento de gratidão. Na vida de agradecimento total não existe doença.

O Mérito só Existe se Enaltecido por Outros

O relato das conversas de Sócrates que os seus amigos nos legaram tem a nossa aprovação apenas porque nos sentimos intimidados pela aprovação geral delas. Não se trata de uma coisa que venha do nosso conhecimento; uma vez que não se adaptam às nossas práticas; se alguma coisa de semelhante viesse a ser produzida nos nossos dias poucos haveria que as tivessem em grande consideração. Não somos capazes de apreciar qualquer honra que não esteja salientada, inflaccionada e aumentada pelo artíficio. Tais honras que tantas vezes surgem disfarçadas com a ingenuidade e a simplicidade, dificilmente seriam notadas por uma visão interior tão grosseira como a nossa… Para nós não será a ingenuidade um parente próximo da simplicidade de espírito e uma qualidade merecedora de censura? Sócrates fazia mover a sua alma com o movimento natural das pessoas comuns: assim fala um camponês, assim fala uma mulher… As suas induções e comparações são retiradas das mais comuns e mais conhecidas actividades do homem; qualquer pessoa é capaz de as compreender. Sob uma forma tão comum nos nossos dias nunca teríamos sido capazes de discernir a nobreza e esplendor destes conceitos espantosos; nós que estamos habituados a criticar todo aquele que não esteja inchado pela erudição para ser base e lugar-comum e que não temos consciência dos ricos a não ser quando pomposamente exibidos.

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Barrow-on-Furness

I

Sou vil, sou reles, como toda a gente
Não tenho ideais, mas não os tem ninguém.
Quem diz que os tem é como eu, mas mente.
Quem diz que busca é porque não os tem.

É com a imaginação que eu amo o bem.
Meu baixo ser porém não mo consente.
Passo, fantasma do meu ser presente,
Ébrio, por intervalos, de um Além.

Como todos não creio no que creio.
Talvez possa morrer por esse ideal.
Mas, enquanto não morro, falo e leio.

Justificar-me? Sou quem todos são…
Modificar-me? Para meu igual?…
— Acaba já com isso, ó coração!

II

Deuses, forças, almas de ciência ou fé,
Eh! Tanta explicação que nada explica!
Estou sentado no cais, numa barrica,
E não compreendo mais do que de pé.

Por que o havia de compreender?
Pois sim, mas também por que o não havia?
Água do rio, correndo suja e fria,
Eu passo como tu, sem mais valer…

Ó universo, novelo emaranhado,
Que paciência de dedos de quem pensa
Em outras cousa te põe separado?

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O Progresso não se Deve ao Instinto Prático

Precisamos de nos desfazer do actual preconceito que atribui o desenvolvimento da ciência moderna, vista a sua aplicabilidade, a um desejo pragmático de melhorar as condições da vida humana na terra. A história mostra claramente que a moderna tecnologia resultou não da evolução daquelas ferramentas que o homem sempre havia inventado para atenuar o labor e de erigir o artifício humano, mas exclusivamente da busca de conhecimento inútil, inteiramente desprovido de senso prático.
Assim, o relógio, um dos primeiros instrumentos modernos não foi inventado para os fins da vida prática, mas exclusivamente para a finalidade altamente «teórica» de realizar certas experiências com a natureza. É certo que esta intervenção, logo que a sua utilidade prática foi percebida, mudou o ritmo e a própria fisionomia da vida humana; mas isto, do ponto de vista dos inventores, foi um mero acidente.
Se tivéssemos de confiar apenas nos chamados instintos práticos do homem, jamais teria havido qualquer tecnologia digna de nota; e, embora as invenções técnicas hoje existentes tragam em si um dado impulso que, provavelmente, gerará melhoras até um certo ponto, é pouco provável que o nosso mundo condicionado à técnica pudesse sobreviver, e muito menos continuar a desenvolver-se, se conseguíssemos convencer-nos de que o homem é,

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Não Estás a Ver

Todos os dias, todos nós assistimos – seja como utentes, vítimas ou observadores – a uma prática irritantemente portuguesa.
Alguém faz uma longa e pormenorizada descrição de uma coisa extraordinária (ou, mais amiúde, banal) que lhe aconteceu. Nós ouvimos, com paciência e empatia exageradas, e comentamos conforme as mais bem equilibradas expectativas.
Descrevem-nos um momento de horror (“atravessou-se um gato na estrada, tive de desviar-me e quase bati noutro carro”) e, quando nós simpatizamos (muitos de nós tendo passado pela mesma experiência de medo de morrer ou matar), o nosso interlocutor dá como perdidos os quartos de hora que gastou a dar-nos uma narrativa completa e, apesar da nossa sincera afirmação de empatia (“Coitado! Sei exactamente o que sentiste!”), atira-nos invariavelmente à cara a mesma psicopática acusação: “Não estás a ver!”
É português pensar que aquilo que se sente ou que nos acontece não pode ser sentido ou acontecer a mais ninguém. Temos a ideia estúpida, avançada por Camões – do saber de experiência feito -, que cada um sabe o que sabe e vive o que vive. Dizer “não estás a ver” a quem vê perfeitamente – o mais das vezes espontaneamente – é uma espécie de distanciação.

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As Novas Verdades

Nenhuma verdade nova, e completamente estranha às opiniões correntes, quando demonstrada pelo primeiro que dela se apercebeu, ainda que com uma evidência e uma exactidão idênticas ou semelhantes às da geometria, conseguiu nunca, se as demonstrações não foram de natureza material, introduzir-se e fixar-se no mundo imediatamente, mas só com o decorrer do tempo, através da prática e do exemplo: habituando-se os homens a acreditar nela como em qualquer outra coisa; ou melhor, acreditando geralmente por habituação e não pela exactidão de experiências concebidas no seu espírito.
Até que por fim essa verdade, começando a ser ensinada às crianças, é comummente aceite, evocado com espanto o seu desconhecimento, e escarnecidas as opiniões diferentes, tanto dos antepassados como dos contemporâneos. E isto com tanto mais dificuldade e demora quanto maiores e mais importantes foram essas novas e incríveis verdades, e, por conseguinte, subversoras de um maior número de opiniões radicadas nos espíritos. Nem mesmo os intelectos perspicazes e treinados sentem facilmente toda a eficiência das razões que demonstram essas verdades ianuditas e que excedem em muito os limites dos conhecimentos e dos hábitos desses intelectos, principalmente quando essas razões e essas verdades se opõem às crenças neles arreigadas.

Fatos empíricos:
Um: Todos nós somos capazes de sentir amor por outros seres humanos.
Dois: Impomos limitações a esse amor.
Três: Podemos transcender a todas essas limitações – se nos aprouver. (É uma questão de observação que, quem quer que o deseje, poderá vencer a repugnância pessoal, o sentimento de classe, o ódio nacional, o preconceito de cor. Não é coisa fácil; mas podemos conseguir, se tivermos vontade e soubermos pôr em prática as nossas boas intenções.)
Quatro: Amor que se manifesta em bom tratamento cria amor. Ódio que se manifesta em mau tratamento cria ódio.
À luz desses fatos é óbvio quais deveriam ser os comportamentos políticos entre pessoas, entre classes, entre nações. Mas, ainda uma vez, o saber não basta. Saber, todos nós sabemos; onde quase todos nós fracassamos é em fazer. E a questão está, habitualmente, em achar os melhores métodos de dar cumprimento às intenções. Entre outras coisas, a propaganda da paz deve consistir numa série de instruções para a arte de modificar o caráter.

Um dos grandes deveres da Universidade é implantar suas práticas profissionais ao seio do povo.

Um Único Estilo de Vida não é Viver, é Ser

Não nos devemos apegar assim tão fortemente às nossas tendências e temperamento. O nosso talento principal é sabermos aplicar-nos a práticas diversas. O estar vinculado, e necessariamente obrigado, a um único estilo de vida não é viver, é ser. As almas mais belas são as que têm mais variedade e flexibilidade.
Se me fosse possível constituir-me a meu modo, não haveria nenhuma forma, por melhor que fosse, na qual eu me quisesse fixar de sorte que não fosse capaz de dela me apartar. A vida é um movimento desigual, irregular e multiforme. Não é ser amigo, e muito menos senhor, de si mesmo, deixar-se incessantemente conduzir por si e estar preso às próprias inclinações que não possa desviar-se delas nem torcê-las – é ser escravo de si próprio.
Digo-o neste momento por não me poder facilmente desembaraçar da importunidade da minha alma que consiste em ela normalmente não saber ocupar-se senão do que a absorve, nem aplicar-se senão por inteiro e de forma tensa. Por mais trivial que seja o assunto que se lhe dê, ela logo o aumenta e estica a ponto de ter de se empenhar nele com todas as forças. A sua ociosidade é-me, por esta causa,

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O Poeta

Este grave ofício de poeta
que exerço enquanto o tempo vai
dando mais terra à minha sombra,
não o aprendi com meu pai.

Este meu alibi de cantar
para ausentar-me do que sou,
de minha mãe não o herdou
o filho rebelde e sem lar.

Este ritmo que celebrei
no contraponto com a viola,
jamais o aprendi na escola
e a mim mesmo o ensinei.

Sou o inventor do que sou
e, embora neto de avós,
tenho de próprio a minha voz,
bússola do Norte aonde vou.

Entre ícaro e Prometeu
viajo e tenho o céu e o chão.
Comando as pedras de Anfião.
Faço a segunda voz de Orfeu.

E nem me pergunteis se gosto
de ocupação menos errática:
meu verso é a minha vida prática,
salário e suor do meu rosto.

Deixai-me só com minhas lavras,
e com Hamlet, meu porta-voz,
e esta verdade entre nós:
palavras palavras palavras.

Ideais Insanos

Um homem louco é aquele cuja maneira de pensar e agir não se coaduna com a maioria dos seus contemporâneos. A sanidade mental é uma questão de estatística. Aquilo que a maioria dos Homens faz em qualquer dado lugar e período é a coisa ajuizada e normal a fazer. Esta é a definição de sanidade mental na qual baseamos a nossa prática social. Para nós, aqui e agora, são muitos os de mentalidade sã e poucos os loucos. Mas os julgamentos, aqui e agora, são por sua natureza provisórios e relativos. O que nos parece sanidade mental, a nós, porque é o comportamento de muitos, pode parecer, sub specie oeternitalis, uma loucura. Nem é preciso invocar a eternidade como testemunho. A História é suficiente. A maioria auto-intitulada de mentalmente sã, em qualquer dado momento, pode parecer ao historiador, que estudou os pensamentos e acções de inumeráveis mortos, uma escassa mão-cheia de lunáticos. Considerando o assunto de outro ponto de vista, o psicólogo pode chegar à mesma conclusão. Ele sabe que a mente consiste de tais e tais elementos, que existem e devem ser tidos em conta. Se um homem tenta viver como se certos destes elementos constituintes do seu ser não existissem,

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Vida Real e Actividade Intelectual

O que, em última instância, importa para o nosso bem-estar é aquilo que preenche e ocupa a consciência. No geral, toda a ocupação puramente intelectual proporcionará, ao espírito capaz de a executar, muito mais do que a vida real com as suas alternâncias constantes entre sucesso e fracasso, acompanhados de abalos e tormentos. Decerto, no entanto, para tal ocupação já são exigidas disposições intelectuais preponderantes. Além disso, deve-se observar que, assim como a vida activa voltada para o exterior nos distrai e desvia dos estudos, retirando do espírito a tranquilidade e a concentração necessárias, a ocupação espiritual incessante também nos torna mais ou menos inaptos para as agitações e tumultos da vida real. Dessa maneira, é aconselhável suspender inteiramente tal ocupação por algum tempo, quando surgirem circunstâncias que exijam de algum modo uma actividade prática e enérgica.

Dactilografia

Traço, sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano,
Firmo o projeto, aqui isolado,
Remoto até de quem eu sou.

Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tique-taque estalado das máquinas de escrever.
Que náusea da vida!
Que abjeção esta regularidade!
Que sono este ser assim!

Outrora, quando fui outro, eram castelos e cavaleiros
(Ilustrações, talvez, de qualquer livro de infância),
Outrora, quando fui verdadeiro ao meu sonho,
Eram grandes paisagens do Norte, explícitas de neve,
Eram grandes palmares do Sul, opulentos de verdes.

Outrora.

Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tique-taque estalado das máquinas de escrever.

Temos todos duas vidas:
A verdadeira, que é a que sonhamos na infância,
E que continuamos sonhando, adultos, num substrato de névoa;
A falsa, que é a que vivemos em convivência com outros,
Que é a prática, a útil,
Aquela em que acabam por nos meter num caixão.

Na outra não há caixões, nem mortes,
Há só ilustrações de infância:
Grandes livros coloridos, para ver mas não ler;
Grandes páginas de cores para recordar mais tarde.

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O estado proíbe ao indivíduo a prática de actos infractores, não porque deseje aboli-los, mas sim porque quer monopolizá-los.