À força de prazeres a nossa felicidade cai no abismo.
Passagens sobre Prazer
1016 resultadosNo estudo encontro prazer e consolo, e nada é tão agradável, que com ele não seja mais agradável, nada tão triste, que com ele não fique menos triste.
O grande prazer que nos dá falarmos de nós próprios deve fazer-nos recear não darmos nenhum aos que nos ouvem.
Um dos maiores prazeres da vida é repetir e toda a gente só se concentra no que não se repete.
Os Grandes Homens
Daqueles que comandaram batalhões e esquadrões só resta o nome. O género humano nada tem para mostrar duma centena de batalhas travadas. Mas os grandes homens de que vos falo prepararam puros e perenes prazeres para os homens que ainda hão-de nascer. Uma eclusa a ligar dois mares, um quadro de Poussin, uma bela tragédia, uma nova verdade – são coisas mil vezes mais preciosas do que todos os anais da corte ou todos os relatos de campanhas militares. Sabeis que, comigo, os grandes homens são os primeiros e os heróis os últimos.
Chamo «grandes homens» a todos aqueles que se distinguiram na criação daquilo que é útil ou agradável. Os saqueadores de províncias são meros heróis.
Posse Cega
Afligir-se com o que se perdeu e não se rejubilar com o que foi salvo é necedade; só uma criança faria berreiro e atiraria fora o restante dos seus brinquedos se um lhe fosse tomado. Assim procedemos nós, quando a Fortuna nos é adversa num particular: tomamos o resto improfícuo com chorar e lamentarmo-nos.
– Que é que possuímos? – pode-se perguntar.
Que é que não possuímos? Este homem uma reputação, esse uma família, aquele uma esposa, aquele outro um amigo. No seu leito de morte, Antipater de Tarso fez um inventário das boas coisas que lhe haviam sucedido na vida e nele incluiu, mesmo, uma viagem feliz, que fizera de Cilícia a Atenas. As coisas simples não devem ser negligenciadas, mas levadas em conta. Devemo-nos sentir gratos por estarmos vivos, bem, e por nos ser dado ver o sol; por não haver guerra nem revolução; por a terra e o mar estarem ao dispor de quem deseje plantar ou velejar; por nos ser consentido escolher entre falar e agir ou ficar quietos, em paz, gozando do nosso repouso.
A presença destas bençãos aumentará ainda mais o nosso contentamento se imaginarmos como seria se não estivessem presentes;
A Juventude e a Literatura
Os jovens são, geralmente, melhores juízes das obras destinadas a estimular sentimentos e imagens do que os homens maduros ou velhos. Mas por outro lado, vê-se que os jovens que não são educados para a leitura procuram nela um prazer mais do que humano, infinito, e de características absurdas; e não encontrando isso nela, desprezam os escritores; o que por vezes acontece também noutras idades, por razões idênticas, com os iliteratos.
E aqueles jovens que se dedicam às letras facilmente preferem, não só quando escrevem mas também quando avaliam as obras dos outros, o excessivo ao moderado, a sumptuosidade ou a afectação das expressões e dos ornamentos ao simples e ao natural, e as belezas ilusórias às verdadeiras, em parte devido à sua pouca experiência e em parte ao arrebatamento próprio da idade. Donde se deduz que os jovens, que são sem dúvida, entre todos os homens, aqueles que estão mais dispostos a louvar o que lhes parece bom, por serem mais sinceros e ingénuos, raramente são capazes de apreciar a hábil e perfeita boa qualidade das obras literárias. Com o avançar dos anos, aumenta a capacidade que se adquire com o treino e diminui a natural. Contudo,
Consciência Plena
Levas-me, consciência plena, desejante deus,
por todo o mundo.
Neste mar terceiro,
quase oiço tua voz; tua voz do vento
ocupante total do movimento;
das cores, das luzes
eternas e marinhas.Tua voz de fogo branco
na totalidade da água, do barco, do céu,
traçando as rotas com prazer,
gravando-me com fúlgido minha órbita segura
de corpo negro
com o diamante lúcido em seu dentro.Tradução de José Bento
Quanto Mais Pode Amor num Peito Humano
Quanto mais pode amor num peito humano,
Tanto se mostra mais não ter firmeza,
Pois quando dá mor gosto e mor alteza,
Então é mais cruel e desumano;Põe debaixo do bem um falso engano,
Promete-vos prazer, dá-vos tristeza,
Seus afagos e gostos são crueza,
O mor gosto que tem é ser tirano.Alto me pôs a fé e o pensamento,
Por que mor queda assim fizesse dar-me
Amor, que em ser cruel é tão isento;Foi-me desenganar por segurar-me;
Assim, quanto me deu, foi tudo vento,
Desenganou-me enfim, para enganar-me!
A dor e o prazer não são imagens gémeas ou simétricas uma da outra, pelo menos não o são em termos de suas funções no apoio à sobrevivência. De certa forma, e a maior parte das vezes, é a informação associada à dor que nos desvia do perigo iminente, tanto no momento presente como no futuro antecipado, É difícil imaginar que os indivíduos e as sociedades que se regem pela busca do prazer, tanto ou ainda mais que pela fuga à dor, consigam sobreviver.
A Alma Transforma-se em Sensações
Eis um efeito que me será contestado, e que só apresento aos homens que, digamos, são bastante infelizes para terem amado com paixão durante longos anos, dum amor contrariado por obstáculos invencíveis:
A vista de tudo o que é extremamente belo, tanto na natureza como nas artes, traz-nos a recordação do que amamos, com a rapidez de um relâmpago. É que, pelo processo do ramo de árvore guarnecido de diamantes da mina de Salzburgo, tudo o que no mundo é belo e sublime faz parte da beleza do que amamos, e esta visão imprevista da felicidade enche-nos os olhos de lágrimas num instante. É assim que o amor do belo e o amor se dão vida um ao outro.
Uma das infelicidades da vida é que a ventura de ver a quem amamos e de lhe falar não deixa recordações distintas. Aparentemente, a alma está demasiado perturbada pelas suas emoções para poder prestar atenção ao que as causa ou as acompanha. Transforma-se na própria sensação. É talvez porque estes prazeres não se podem renovar sempre que queremos, por simples força de vontade, que se renovam com tanta força, desde que um objecto qualquer nos venha tirar da meditação consagrada à mulher que amamos,
A Espera Do Prazer
O prazer que tu esperas varia na razão inversa do tempo de o esperares. E da inquietação também. Porque quanto mais esperas e te inquietas, menos prazer ele é. Espera-o no infinito para te não inquietares. E que ele seja depois o prazer que for.
Mas o contrário também é verdadeiro.
A Natureza criou os prazeres, o homem criou os excessos.
Trabalho intelectual é uma expressão errada. Não é uma expressão errada. Não é trabalho é prazer, dissipação nossa maior recompensa.
Não abandones um velho amigo, visto que o novo não é igual a ele
Não abandones um velho amigo, visto que o novo não é igual a ele. Vinho novo, amigo novo: deixa-o envelhecer, e o beberás com prazer.
O pudor inventou a roupa para que se tenha mais prazer com a nudez.
Prazer e sofrimento. Toda minha vida, defini o prazer e a dor como duas sensações vizinhas.
LXXII
Já rompe, Nise, a matutina aurora
O negro manto, com que a noite escura,
Sufocando do Sol a face pura,
Tinha escondido a chama brilhadora.Que alegre, que suave, que sonora,
Aquela fontezinha aqui murmura!
E nestes campos cheios de verdura
Que avultado o prazer tanto melhora!Só minha alma em fatal melancolia,
Por te não poder ver, Nise adorada,
Não sabe inda, que coisa é alegria;E a suavidade do prazer trocada,
Tanto mais aborrece a luz do dia,
Quanto a sombra da noite lhe agrada.
A Crise do Idealismo
Cada vez será menor a «elite» que os possui [valores], perante o desvairo do nosso tempo em que a sede dos prazeres materiais e a dissolução dos costumes, apoiadas por uma organização industrial ad hoc, corromperam a riqueza e as suas fontes, o trabalho e as suas aplicações, a família e o seu valor social. Há no Mundo uma grande crise do idealismo, do espiritualismo de virtudes cívicas e morais, e não parece que sem eles possamos vencer as dificuldades do nosso tempo. Sem rectificarmos a série de valores com que lidamos – valores económicos e morais – , sem outro conceito diverso da civilização e do progresso humano, sem ao espírito ser dada primazia sobre a matéria e à moral sobre os instintos, a humanidade não curará os seus males e nem sequer tirará lucro do seu sofrimento.
De espírito forte devem ser considerados, e com razão, os que, mesmo conhecendo claramente as dificuldades da situação e apreciando os prazeres da vida, justamente por isso não se retiram diante dos perigos.