O Sentimento de Poder
Ao fazer o bem e mal, exercemos o nosso poder sobre aqueles a quem se é forçado a fazê-lo sentir; porque o sofrimento é um meio muito mais sensível, para esse fim, do que o prazer: o sofrimento procura sempre a sua causa enquanto o prazer mostra inclinação para se bastar a si próprio e a não olhar para trás. Ao fazer bem ou ao desejarmos o bem exercemos o nosso poder sobre aqueles que, de uma maneira ou de outra, estão já na nossa dependência (quer dizer que se habituaram a pensar em nós como nas suas causas); queremos aumentar o seu poder porque assim aumentamos o nosso, ou queremos mostrar-lhes a vantagem que há em estar em nosso poder; ficarão mais satisfeitos com a sua situação e mais hostis aos inimigos do nosso poder, mais prontos a combatê-los. O facto de fazermos sacrifícios para fazer o bem ou o mal não altera em nada o valor definitivo dos nossos actos; mesmo se arriscarmos a nossa vida, como o mártir pela sua igreja, é um sacrifício que fazemos à nossa necessidade de poder, ou a fim de conservar o nosso sentimento de poder.
Passagens sobre Procura
542 resultadosSenta-te aí
Está na hora de ouvires o teu pai
Puxa para ti essa cadeira
Cada qual é que escolhe aonde vai
Hora-a-hora e durante a vida inteiraPodes ter uma luta que é só tua
Ou então ir e vir com as marés
Se perderes a direcção da Lua
Olha a sombra que tens colada aos pésEstou cansado. Aceita o testemunho
Não tenho o teu caminho pra escrever
Tens de ser tu, com o teu próprio punho
Era isto o que te queria dizerSou uma metade do que era
Com mais outro tanto de cidade
Vou-me embora que o coração não espera
À procura da mais velha metade
A inteligência procura, mas quem encontra é o coração.
A Imprecisa Melancolia
Nada o distrairia
nessa procura, disse.
Este o recado
da contingência:era verão e fazia
muito calor.
Saía cedo, cortando
a passos lentos
a sombra das 9:30.
Caminhar até à vertiginosa
queda dos poentes.
Assinalar uma cinza,a imprecisa melancolia
O Fim da Personagem
Hoje, após tantas experiências, a personagem está ameaçada de ser suprimida exclusivamente a favor do escritor. A arborescência de memória, sombras de fantasia, suspeitas de sensibilidade ou a conversas fúteis, monólogos e solilóquios, parece estar reduzido a única personagem ainda hoje possível, isto é, aquela que diz «eu». É significativo que esta redução coincida com a procura atenta duma linguagem narrativa que satisfaça as ampliadas exigências estéticas do tempo. Em conclusão, depois do romance ter sido durante tanto tempo uma questão de conteúdo parece agora resolver-se por um compromisso formal. Teremos depois da lírica pura o romance puro? Como se vê estamos bem longe do romance oitocentista.
Evidentemente que a crise da personagem corresponde a uma crise semelhante do conceito do homem. O homem moderno não passaria duma entidade numérica dentro da colectividade entre as mais formidáveis que a humanidade já conheceu. Não existiria por si só mas como parte de qualquer outra coisa, de um organismo, de um sentimento, de um conceito colectivo. Com um tal homem é bastante difícil fazer uma personagem, pelo menos no sentido tradicional da palavra.
Mas neste ponto há necessidade de acentuar que muito mais do que a personagem conta a experiência metafísica e moral a partir da qual nasce a personagem mesmo.
A Nossa Vez
É o frio que nos tolhe ao domingo
no Inverno, quando mais rareia
a esperança. São certas fixações
da consciência, coisas que andam
pela casa à procura de um lugare entram clandestinas no poema.
São os envelopes da companhia
da água, a faca suja de manteiga
na toalha, esse trilho que deixamos
atrás de nós e se decifra sem esforço
nem proveito. É a esperae a demora. São as ruas sossegadas
à hora do telejornal e os talheres
da vizinhança a retinir. É a deriva
nocturna da memória: é o medo
de termos perdido sem querera nossa vez.
Os Cavalleiros
– Onde vaes tu, cavalleiro,
Pela noite sem luar?
Diz o vento viajeiro,
Ao lado d’elle a ventar…
Não responde o cavalleiro,
Que vae absorto a scismar.
– Onde vaes tu, torna o vento,
N’esse doido galopar?
Vaes bater a algum convento?
Eu ensino-te a rezar.
E a lua surge, um momento,
A lua, convento do Ar.
– Vaes levar uma mensagem?
Dá-m’a que eu vou-t’a entregar:
Irás em meia viagem
E eu já de volta hei-de estar.
E o cavalleiro, á passagem,
Faz as arvores vergar.
– Vaes escalar um mosteiro?
Eu ajudo-t’o a escalar:
Não ha no mundo pedreiro
Que a mim se possa egualar!
Não responde o cavalleiro
E o vento torna a fallar:
– Dize, dize! vaes p’ra guerra?
Monta em mim, vou-te levar:
Não ha cavallo na Terra
Que tenha tão bom andar…
E os trovões rolam na serra
Como vagas a arrolar!
– E as guerras has-de ganhal-as,
Que por ti hei-de velar:
Ponho-me á frente das balas
Para a força lhes tirar!
Hora que Passa
Vejo-me triste, abandonada e só
Bem como um cão sem dono e que o procura
Mais pobre e desprezada do que Job
A caminhar na via da amargura!Judeu Errante que a ninguém faz dó!
Minh’alma triste, dolorida, escura,
Minh’alma sem amor é cinza, é pó,
Vaga roubada ao Mar da Desventura!Que tragédia tão funda no meu peito!…
Quanta ilusão morrendo que esvoaça!
Quanto sonho a nascer e já desfeito!Deus! Como é triste a hora quando morre…
O instante que foge, voa, e passa…
Fiozinho d’água triste… a vida corre…
DIATRIBE
Dois zoilos mui completos deste mundo,
Dois zoilos há terríveis e zelosos,
Que estando sem fazer, mui ociosos
Só tratam dum falar nauseabundo.Eu sei mui bem seus nomes — não confundo
Com esses bem sensatos, talentosos,
Com esses lidadores mui briosos
Que têm estudo imenso e bem profundo!Mas ah! pra que tempo hei-de gastar
Com quem só vive imerso na caligem
D’inveja torpe e vil a esbravejar!Isto, meus amigos, é impigem
Que quanto se procura mais coçar
Tanto e tanto mais só dá prurigem!
Mentimos para Proteger o nosso Prazer
A mentira é essencial à humanidade. Nela desempenha porventura um papel tão importante como a procura do prazer, e de resto é comandada por essa mesma procura. Mentimos para proteger o nosso prazer, ou a nossa honra se a divulgação do prazer for contrária à honra. Mentimos ao longo de toda a nossa vida, até, e sobretudo, e talvez apenas, àqueles que nos amam. Só estes, com efeito, nos fazem temer pelo nosso prazer e desejar a sua estima.
Quanto mais o homem procura apenas que o admirem, mais longe está de conseguir o seu objectivo.
A Melhor Forma de Combater o Inimigo é tê-lo perto de Ti
Se receias que alguém se aproveite da tua ausência para fazer queixas ou espalhar calúnias contra ti, arranja um pretexto amigável e pede-lhe que te acompanhe na viagem, na caçada ou na guerra. Vigia-o e, quando estiveres na sua companhia, à mesa ou noutro sítio, não deixes que se afaste. De igual modo, para evitar que uma nação aproveite uma das tuas expedições para te declarar guerra, leva contigo o escol dessa nação – como se não tivesses aliados mais fiéis -, mas procura que essa gente seja escoltada por um pequeno grupo de homens armados dedicados ao teu serviço.
No momento em que um artista descobre o que as pessoas querem e procura atender a demanda, ele deixa de ser um artista e torna-se um artesão maçante ou divertido, um negociante honesto ou desonesto. Perde o direito de ser considerado artista.
Velhice
Água do rio Letes, onde passas?
Venha a mim o teu curso benfazejo
Que sepulta alegrias ou desgraças
No mesmo esquecimento sem desejo.Quero beber-te por contínuas taças…
E às horas do passado que revejo,
Pedir-te que as afogues e desfaças
Na carícia e na esmola do teu beijo!Quem de si nunca esteve satisfeito
E com novas empresas só procura
Corrigir seu engano ou seu defeito,Não pode recordar sem amargura
Que a mais nenhum esforço tem direito
Na ruína presente e na futura…
O homem a pé é uma inteligência que procura; o homem a cavalo uma inteligência que conquista; o homem a pé é um filósofo que observa e pensa; o homem a cavalo é um pensamento que devora o espaço e que domina o mundo.
Eu sou quem você não procura.
A Humana Súmula
A Piedade deixaria de existir
Se não fizéssemos nós os Pobres de pedir;
E a Compaixão também acabaria
Se a todos, como nós, feliz chegasse o dia.E a paz se alcança com mútuo terror,
Até crescer o egoísmo do amor:
A Crueldade tece então a sua rede,
E lança seu isco, cuidadosa, adrede.Senta-se depois com temores sagrados,
E de lágrimas os chãos ficam regados;
A raiz da Humildade ali então se gera
Debaixo do seu pé, atenta, espera.Em breve sobre a cabeça se lhe estende
A sombra daquele Mistério que ofende;
É aí que Verme e Mosca se sustentam
Do Mistério que ambos acalentam.E o fruto que gera é o do Engano
Doce ao comer e tão malsano;
E o Corvo o seu ninho ali o faz
No mais espesso da sombra que lhe apraz.Todos os Deuses, quer da terra quer do mar,
P’la Natureza esta Árvore foram procurar;
Mas foi em vão esta procura insana,
Esta Árvore cresce só na Mente Humana.Tradução de Hélio Osvaldo Alves
Na Paz Não Há Verdadeiro Progresso, o Egoísmo Impera
A ciência e a arte progridem sempre num primeiro período imediato a uma guerra. A guerra renova-as, rejuvenesce-as, fomenta, fortalece, as ideias e imprime-lhes certo impulso. Numa larga paz, pelo contrário, sucumbe também a ciência. Indiscutivelmente o culto da ciência requer valor e até espírito de sacrifício. Mas quantos sábios resistem à praga da paz? A falsa honra, o egoísmo e a ânsia de prazeres superficiais, bestiais, fazem também mossa no seu espírito. Procure o senhor acabar com uma paixão como a inveja, por exemplo; é ordinário e vulgar, mas com tudo isso penetra até nas nobílissimas almas dos sábios. Também o sábio acaba por querer ter a sua parte no brilho e esplendores gerais. Que significa, ante o triunfo da riqueza, o triunfo de uma descoberta científica, a menos que seja tão estrondosa como a descoberta de um novo planeta? Parece-lhe que em tais circunstâncias haverá ainda muitos escravos do trabalho para o bem geral?
Longe disso, procura-se a glória e cai-se no charlatanismo, na procura do efeito, e antes de mais nada no utilitarismo… visto que também se quer, ao mesmo tempo, ser rico. Na arte acontece o mesmo que na ciência: idêntica ânsia do efeito,
Pouso
Pervaguei muito tempo a procura de um pouso
como alguém que batesse em vão de porta em porta
– meu olhar, parecia perguntar ansioso:
quem me dá sua mão?… quem minha alma conforta!Caminheiro sem rumo, a alma já quase morta,
via ao longe o caminho intérmino e sinuoso…
– (quanta coisa afinal na vida se suporta
antes de conseguir-se um pouco de repouso!)Minha vida era assim… – uma estrada vazia…
E eu caminhava a olhar buscando o que surgisse
a frente, – e ao meu redor tudo aos poucos fugia…Até que te encontrei! … E se não te encontrasse,
– talvez ha muito tempo eu já não existisse!
– talvez que ha muito tempo eu já não caminhasse!
O Liberalismo
O regime liberal é aquele em que os direitos da pessoa são apenas considerados inalienáveis aos interesses da comunidade. Por isso, nele se procura assegurar nas leis e na prática o respeito da pessoa mediante o efetivo exercício daqueles direitos, mas não a destruição dela pela anarquia totalitária ou libertária.
(…) Se se entende por liberal todo aquele que acha indispensável que qualquer solução política respeite as liberdades e os direitos fundamentais da pessoa humana, sou efetivamente liberal. Se, por outro lado, se limita a conceção de liberalismo ao campo exclusivamente económico e se tem como liberal aquele que preconiza a abstenção do poder político em relação ao campo económico e ao campo social, nesse sentido não sou liberal.