Os Meios de Comunicação Têm Sempre Razão
A dominação intelectual é difícil se não dispomos de uma tribuna mediática. Em vez de perdermos longos anos a reflectir sobre o sentido da vida, as relações entre homens e mulheres, a influência da alimentação transgénica na produção leiteira das vacas normandas (conheço um investigador que passou quarenta anos a estudar as térmitas; admite não ter conseguido desvendar-lhes o segredo que, no seu entender, existe!) ou qualquer assunto mais ou menos relacionado com o destino da Humanidade, mais vale começarmos por arranjar meios de aceder à redacção de um jornal ou, melhor, de um canal televisivo. Com efeito, é a importância do meio de comunicação em termos de audiência que determina a supremacia de uma opinião. Qualquer tolice catódica emitida entre as 20 e as 20:30 horas é mais credível que a conclusão amadurecida de um colóquio de especialistas. Porquê mais credível? Porque mais acreditada.
O público aprecia a confirmação de que é verdade aquilo que sente como verdadeiro (por exemplo, que os políticos são podres ou que a Madonna é a mulher mais sensual do mundo). Este género de opinião, no entanto, só passa a ser uma evidência depois de ter sido santificado por um meio de comunicação.
Passagens sobre Quarenta
58 resultadosA Pressa Febril da Vida Moderna
A lentidão da nossa vida é tão grande que não nos consideramos velhos aos quarenta anos. A velocidade dos veículos retirou a velocidade às nossas almas. Vivemos muito devagar e é por isso que nos aborrecemos tão facilmente. A vida tornou-se para nós uma zona rural. Não trabalhamos o suficiente e fingimos trabalhar demasiado. Movemo-nos muito rapidamente de um ponto onde nada se faz para outro onde não há nada que fazer, e chamamos a isto a pressa febril da vida moderna. Não é a febre da pressa, mas sim a pressa da febre. A vida moderna é um lazer agitado, uma fuga ao movimento ordenado por meio da agitação.
Aos vinte anos reina a vontade, aos trinta o engenho, aos quarenta o juízo.
Os quarenta anos são uma idade terrível. É a idade em que nos tornamos naquilo que somos.
Aquele que não for atraente aos vinte, nem forte aos trinta, nem rico aos quarenta, nem sensato aos cinquenta, nunca será atraente, forte, rico ou sensato.
Os primeiros quarenta anos de vida dão-nos o texto: os trinta anos seguintes, dão-nos o comentário sobre ela.
Jesus sai de um julgamento injusto, de um interrogatório cruel e fita os olhos de Pedro. E Pedro chora. Nós pedimos-Lhe que nos olhe, que nos dê a graça da vergonha, para podermos – como Pedro, quarenta dias mais tarde – responder-Lhe: «Tu sabes que Te amo.»
Ao Espelho
E de repente chegas aos
quarenta e tal anose palavras como colesterol
hipertensão astigmatismocomeçam a invadir a tua
vida… Olhas para trás eo que vês? Uma pomba
com uma das asas feridacondenada ao mais terrí-
vel pedestrianismo
Dos quarenta anos para riba, não molhes a barriga.
A superioridade espiritual, mesmo a maior, fará valer a sua preponderância decisiva na conversação só após os quarenta anos de idade. Pois a maturidade dos anos e os frutos da experiência podem ser superados em muitos sentidos, mas nunca substituídos pela superioridade espiritual.
Os Deuses Reclinados
… Por todos os lados as estátuas de Buda, de Lorde Buda… As severas, verticais, carcomidas estátuas, com um dourado de resplendor animal, com uma dissolução como se o ar as desgastasse… Crescem-lhes nas faces, nas pregas das túnicas, nos cotovelos, nos umbigos, na boca e no sorriso pequenas máculas: fungos, porosidades, vestígios excrementícios da selva… Ou então as jacentes, as imensas jacentes, as estátuas de quarenta metros de pedra, de granito areento, pálidas, estendidas entre as sussurrantes frondes, inesperadas, surgindo de qualquer canto da selva, de qualquer plataforma circundante… Adormecidas ou não adormecidas, estão ali há cem anos, mil anos, mil vezes mil anos… Mas são suaves, com uma conhecida ambiguidade ultraterrena, aspirando a ficar e a ir-se embora… E aquele sorriso de suavíssima pedra, aquela majestade imponderável, mas feita de pedra dura, perpétua, para quem sorriem, para quem, sobre a terra sangrenta?… Passaram as camponesas que fugiam, os homens do incêndio, os guerreiros mascarados, os falsos sacerdotes, os turistas devoradores…
E manteve-se no seu lugar a estátua, a imensa pedra com joelhos, com pregas na túnica de pedra, com o olhar perdido e não obstante existente, inteiramente inumana e de alguma forma também humana, de alguma forma ou de alguma contradição estatuária,
Carta (a um Amigo que me Pediu Versos)
Como hei-de ser um Petrarca,
Cantar como um rouxinol,
Se o meu termómetro marca
Quarenta e dois graus ao sol!Da lira bárbara e tosca
Nem saem trovas d’Alfama.
Enxota o Pégaso a mosca,
E eu durmo a sesta na cama.A hipocondria maciça
Conduzo-a, não há remédio,
Na jumenta da preguiça
Pelas charnecas do tédio.Eu trago a inspiração oca,
Ando abatido, ando mono;
Meus versos abrem a boca,
Como os porteiros com sono.Não tenho a rima imprevista,
Os guizos d’oiro ou de opala,
Que à asa da estrofe o artista
Sublime prende ao largá-la.P’ra lapidar à vontade
Um belo verso radiante,
Falta-me a tenacidade,
Que é como o pó do diamante.A musa foi-se-me embora;
Para onde foi nem me lembro;
Só a torno a ver agora
Lá para os fins de Setembro.Anda talvez nas florestas
Fazendo orgias pagãs,
Entre os aromas das giestas
E os braços dos Egipãs.Deixá-la andar lá dois meses
Colhendo imagens e flores,
O Fla-Flu surgiu quarenta minutos antes do nada.
Napoleão foi vítima de ilusão de ótica ao ver quarenta séculos olhando do alto das pirâmides.
Até aos quarenta anos, a mulher apenas tem no coração quarenta primaveras; mas, depois dos quarenta, tem quarenta invernos.
Amor e Intimidade
Toda a gente tem medo da intimidade — ter ou não ter consciência desse medo é outra história. A intimidade significa expor-se perante um estranho — e todos nós somos estranhos; ninguém conhece ninguém. Somos mesmo estranhos a nós próprios, porque não sabemos quem somos.
A intimidade aproxima-o de um estranho. Tem de deixar cair todas as suas defesas; só assim a intimidade é possível. E o seu medo é que se deixar cair todas as suas defesas, todas as suas máscaras, quem sabe o que o estranho lhe poderá fazer. Todos nós andamos a esconder mil e uma coisas, não só dos outros mas de nós próprios, porque fomos criados por uma humanidade doente com toda a espécie de repressões, inibições e tabus. E o medo é que, com alguém que seja um estranho — e não importa se se viveu com a pessoa durante trinta ou quarenta anos; a estranheza nunca desaparece —, parece mais seguro manter uma ligeira defesa, uma pequena distância, porque alguém se poderá aproveitar das suas fraquezas, da sua fragilidade, da sua vulnerabilidade.
Toda a gente tem medo da intimidade. O problema torna-se mais complicado porque toda a gente quer intimidade. Toda a gente quer intimidade porque,
Retrato das Mulheres em Todas as Idades
Mulher, de quinze a vinte é fresca rosa;
De vinte, a vinte e cinco é de exp’rimenta.
De vinte cinco a trinta, a graça aumenta:
Ditoso nesta idade quem a goza!De trinta a trinta e cinco é mal gostosa
Porém, pode passar, com sal, pimenta,
Mas já dos trinta e cinco aos quarenta
Vai-se tornando assaz fastidiosa.De quarenta e cinco ela é bachareleira,
Fala fanhoso e é já de pouco gabo.
De cinquenta cerrados é santeira!Aos sessenta este seu retrato acabo:
Menina, moça, velha benzedeira,
Bruxa gogosa, então, leve-a o diabo!
Até aos quarenta anos o homem permanece louco; quando então começa a reconhecer a sua loucura, a vida já passou.
Quarenta anos é a velhice dos jovens; cinqüenta anos é a juventude dos velhos.
Corrupção Intemporal
Não existe república, qualquer que seja a maneira como é governada, onde haja mais de quarenta a cinquenta cidadãos que chegam a postos de comando. Ora, como é um número muito pequeno, é fácil mantê-los sob controle, seja tomando a decisão de suprimi-los, seja dando a cada um a parcela de honras e empregos que lhes convém.