Nas revoluções há duas espécies de homens: os que as fazem e os que delas aproveitam.
Passagens sobre Revolução
161 resultadosCrĂłnica de Natal
Todos os anos, por esta altura, quando me pedem que escreva alguma coisa sobre o Natal, reajo de mau modo. «Outra vez, uma histĂłria de Natal! Que chatice!» — digo. As pessoas ficam muito chocadas quando eu falo assim. Acham que abuso dos direitos que me sĂŁo conferidos. Os meus direitos sĂŁo falar bem, assim como para outros nĂŁo falar mal. Uma vez, em Paris, um chauffeur de táxi, desses que se fazem castiços e dizem palavrões para corresponder Ă fama que tĂŞm, aborreceu-me tanto que lhe respondi com palavrões. Ditos em francĂŞs, a mim nĂŁo me impressionavam, mas ele levou muito a mal e ficou amuado. Como se eu pisasse um terreno que nĂŁo era o meu e cometesse um abuso. Ele era malcriado mas eu – eu era injusta. Cada situação tem a sua justiça prĂłpria, Ă© isto Ă© duma complexidade que o cĂłdigo civil nĂŁo alcança.
Mas dizia eu: «Outra vez o Natal, e toda essa boa vontade de encomenda!» Ponho-me a percorrer as imagens que sĂŁo de praxe, anjos trombeteiros, pastores com capotes de burel e meninos pobres do tempo da Revolução Industrial inglesa. Pobres e explorados, mas, entretanto, nĂŁo excluĂdos do trato social atravĂ©s dos seus conflitos prĂłprios,
As revoluções só têm geralmente como resultado imediato uma mudança de lugar da servidão.
E o povo Ă© como a barca em plenas vagas,
A tirania Ă© o tremedal das plagas,
O porvir – a amplidĂŁo.
Homens! Esta lufada que rebenta
É o furor da mais lôbrega tormenta
Ruge a revolução.
A nossa pátria é o mundo inteiro. A nossa lei é a liberdade. Temos apenas um único pensamento, a revolução nos nossos corações.
Assim como não se Faz um omelete Sem quebrar os ovos Ninguém faz uma revolução Sem destruir os povos.
A Doença da Disciplina
Das feições de alma que caracterizam o povo português, a mais irritante é, sem dúvida, o seu excesso de disciplina. Somos o povo disciplinado por excelência. Levamos a disciplina social àquele ponto de excesso em que cousa nenhuma, por boa que seja — e eu não creio que a disciplina seja boa — por força que há-de ser prejudicial.
TĂŁo regrada, regular e organizada Ă© a vida social portuguesa que mais parece que somos um exĂ©rcito de que uma nação de gente com existĂŞncias individuais. Nunca o portuguĂŞs tem uma acção sua, quebrando com o meio, virando as costas aos vizinhos. Age sempre em grupo, sente sempre em grupo, pensa sempre em grupo. Está sempre Ă espera dos outros para tudo. E quando, por um milagre de desnacionalização temporária, pratica a traição Ă Pátria de ter um gesto, um pensamento, ou um sentimento independente, a sua audácia nunca Ă© completa, porque nĂŁo tira os olhos dos outros, nem a sua atenção da sua crĂtica.
Parecemo-nos muito com os alemĂŁes. Como eles, agimos sempre em grupo, e cada um do grupo porque os outros agem.
Por isso aqui, como na Alemanha, nunca Ă© possĂvel determinar responsabilidades; elas sĂŁo sempre da sexta pessoa num caso onde sĂł agiram cinco.
O Amor Ă© o ContraegoĂsmo
Cada vez mais pessoas estĂŁo preocupadas consigo mesmas. Cuidam de si de uma forma tĂŁo dedicada que se poderia supor que estĂŁo a construir algo de verdadeiramente belo e forte; mas nĂŁo… os resultados sĂŁo normalmente fracos e frágeis. Gente manipulável que se deixa abater por uma simples brisa… cultivam o eu como a um deus, mas sĂŁo facilmente derrubados pela mĂnima contrariedade.
Tendo a originalidade por moda não será paradoxal que a sociedade esteja a tornar-se cada vez mais uniforme? Como a multidão tende sempre a nivelar-se por baixo, estamos a tornar-nos cada vez piores.
Hoje parece não haver tempo nem espaço para um cuidado mais fundo com a nossa essência – são poucos os que hoje têm amigos verdadeiros com quem aprendem, a quem se dão e de quem recebem valores essenciais.
Por medo da solidĂŁo quer-se conhecer gente, cada vez mais gente. Talvez o facto de se buscar uma quantidade de amizades mais do que a qualidade das mesmas explique por que, afinal, há cada vez mais solidĂŁo… sempre que prefiro partir em busca do novo, escolho abandonar aquele(s) com quem estava.O sucesso das redes virtuais Ă© hoje um sintoma,
Na primeira segunda-feira do mês de abril de 1625, a vila de Meung onde nasceu o autor do Romance da Rosa, parecia encontrar-se numa revolução tão completa como se os huguenotes lá tivessem ido fazer uma segunda Rochela.
Não são os homens que fazem as revoluções, as revoluções é que se servem dos homens.
Para a polĂtica o homem Ă© um meio; para a moral Ă© um fim. A revolução do futuro será o triunfo da moral sobre a polĂtica.
Todas as revoluções se evaporam e deixam atrás de si apenas o limo de uma nova burocracia.
Qualquer revolução que não se realize dentro dos costumes e das ideias fracassa.
Insurreição: uma revolução que não teve sucesso. Tentativa fracassada de opositores que pretendem substituir um governo mau por outro que não sabe governar.
As Oscilações da Personalidade
Pretender que a nossa personalidade seja mĂłvel e susceptĂvel de grandes mudanças Ă©, por vezes, noção um pouco contrária Ă s idĂ©ias tradicionais atinentes Ă estabilidade do “eu”. A sua unidade foi durante muito tempo um dogma indiscutĂvel. Factos numerosos vieram provar quanto esta ideia era fictĂcia.
O nosso “eu” Ă© um total. Compõe-se da adição de inumeráveis “eu” celulares. Cada cĂ©lula concorre para a unidade de um exĂ©rcito. A homogeneidade dos milhares de indivĂduos que o compõem resulta somente de uma comunidade de acção que numerosas coisas podem destruir.
É inĂştil objectar que a personalidade dos seres parece, em geral, bastante estável. Se ela nunca varia, com efeito, Ă© porque o meio social permanece mais ou menos constante. Se subitamente esse meio se modifica, como em tempo de revolução, a personalidade de um mesmo indivĂduo poderá transformar-se por completo. Foi assim que se viram, durante o Terror, bons burgueses reputados pela sua brandura tornarem-se fanáticos sanguinários. Passada a tormenta e, por conseguinte, representando o antigo meio e o seu impĂ©rio, eles readquiriram sua personalidade pacifica. Desenvolvi, há muito tempo, essa teoria e mostrei que a vida dos personagens da Revolução era incompreensĂvel sem ela.
De que elementos se compõe o “eu”,
Sendo a literatura o produto variável e flutuante de cada sociedade, está por isso sujeita Ă s mudanças sociais e Ă s revoluções do espĂrito humano, cujas evoluções segue, reflectindo as ideias e paixões que agitam os homens, e quinhoando das suas preocupações.
Nas revoluções, a abstracção tenta sublevar-se contra o real: por isso o fracasso é consubstancial às revoluções.
O homem recentemente elevado ao poder pela revolução não tem outra preocupação senão a de se fazer aristocrata.
O Homem de Carácter
Os homens de carácter sĂŁo a consciĂŞncia da sociedade a que pertencem. A medida natural dessa força Ă© a resistĂŞncia Ă s circunstâncias. Os homens impuros julgam a vida pela versĂŁo reflectida nas opiniões, nos acontecimentos e nas pessoas. NĂŁo sĂŁo capazes de prever a acção atĂ© que ela se concretize. Todavia, o elemento moral da acção preexistia no autor e a sua qualidade, boa ou má, era de fácil predição. Tudo na natureza Ă© bipolar, ou tem um pĂłlo positivo e um pĂłlo negativo. Há um macho e uma fĂŞmea, um espĂrito e um facto, um norte e um sul. O espĂrito Ă© o positivo, o facto Ă© o negativo. A vontade Ă© o norte, a acção Ă© o pĂłlo sul. O carácter pode ser classificado como tendo o seu lugar natural no norte. Distribui as correntes magnĂ©ticas do sistema. Os espĂritos fracos sĂŁo atraĂdos para o pĂłlo sul, ou pĂłlo negativo. SĂł vĂŞem na acção o lucro, ou o prejuĂzo que podem encerrar.
NĂŁo podem vislumbrar um princĂpio, a nĂŁo ser que este se abrigue noutra pessoa. NĂŁo desejam ser amáveis mas amados. Os de carácter gostam de ouvir falar dos seus defeitos; aos outros aborrecem as faltas;
O princĂpio moral das revoluções Ă© instruir, nĂŁo destruir.