Os moralistas são pessoas que coçam onde os outros têm comichão.
Passagens de Samuel Beckett
15 resultadosÉ o Fim que Confere o Significado às Palavras
Apenas as palavras quebram o silĂŞncio, todos os outros sons cessaram. Se eu estivesse silencioso, nĂŁo ouviria nada. Mas se eu me mantivesse silencioso, os outros sons recomeçariam, aqueles a que as palavras me tornaram surdo, ou que realmente cessaram. Mas estou silencioso, por vezes acontece, nĂŁo, nunca, nem um segundo. TambĂ©m choro sem interrupção. É um fluxo incessante de palavras e lágrimas. Sem pausa para reflexĂŁo. Mas falo mais baixo, cada ano um pouco mais baixo. Talvez. TambĂ©m mais lentamente, cada ano um pouco mais lentamente. Talvez. É-me difĂcil avaliar. Se assim fosse, as pausas seriam mais longas, entre as palavras, as frases, as sĂlabas, as lágrimas, confundo-as, palavras e lágrimas, as minhas palavras sĂŁo as minhas lágrimas, os meus olhos a minha boca. E eu deveria ouvir, em cada pequena pausa, se Ă© o silĂŞncio que eu digo quando digo que apenas as palavras o quebram. Mas nada disso, nĂŁo Ă© assim que acontece, Ă© sempre o mesmo murmĂşrio, fluindo ininterruptamente, como uma Ăşnica palavra infindável e, por isso, sem significado, porque Ă© o fim que confere o significado Ă s palavras.
Tenta. Fracassa. NĂŁo importa. Tenta outra vez. Fracassa de novo. Fracassa melhor.
O hábito é uma grande surdina.
Todos nĂłs nascemos loucos. Alguns permanecem.
NĂŁo importa. Tente outra vez. Fracasse outra vez. Fracasse melhor.
É de mim agora que eu preciso falar, mesmo se eu tiver que fazĂŞ-lo com sua lĂngua, será um começo, um passo em direção ao silĂŞncio e ao fim da loucura.
Sim, a partir do momento em que se conhece o porquê, tudo se torna mais fácil, uma simples questão de magia.
A Vida é um Hábito
O hábito Ă© o balastro que prende o cĂŁo ao seu vĂłmito. Respirar Ă© um hábito. A vida Ă© um hábito. Ou melhor, a vida Ă© uma sucessĂŁo de hábitos, porque o indivĂduo Ă© uma sucessĂŁo de indivĂduos […] «Hábito» Ă© pois o termo genĂ©rico para os inĂşmeros contratos celebrados entre os inĂşmeros sujeitos que constituem o indivĂduo e os seus inĂşmeros objectos correlativos. Os perĂodos de transição que separam as consecutivas adaptações […] representam as zonas perigosas na vida do indivĂduo, perigosas, penosas, misteriosas e fĂ©rteis, em que, por um momento, o tĂ©dio de viver Ă© substituĂdo pelo sofrimento de ser.
As lágrimas do mundo são inalteráveis. Para cada um que começa a chorar, em algum lugar outro pára. O mesmo vale para o riso.
Toda palavra é como uma mácula desnecessária no silêncio e no nada.
Toda a palavra é como uma mácula desnecessária no silêncio e no nada.
A virtude absoluta mata o ser humano com tanta segurança como o vĂcio absoluto, pela letargia e pomposidade que provocam.
A arte sempre foi isto – interrogação pura, questão retórica sem a retórica – embora se diga que aparece pela realidade social.
Quem É Que Tu Amas?
– Quem é que tu amas? – continuou Murphy. – Eu, tal como sou. Podes desejar o que não existe, não podes amá-lo. – Nada mal, para um Murphy. – Se assim é, por que diabo te esforças tanto para me modificar? Para poderes deixar de me amar – aqui, a voz subiu e atingiu uma nota bastante honrosa – para deixares de estar condenada a amar-me, para seres dispensada de me amar.