Somos Estrangeiros Onde quer que Estejamos
Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros
Onde que quer que estejamos.Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros
Onde quer que moremos, tudo é alheio
Nem fala língua nossa.
Façamos de nós mesmos o retiro
Onde esconder-nos, tímidos do insulto
Do tumulto do mundo.
Que quer o amor mais que não ser dos outros?
Como um segredo dito nos mistérios,
Seja sacro por nosso.
Passagens sobre Segredos
568 resultadosQue a sua casa seja como um santuário impenetrável. Se o apetite invencível o impelir à comunhão de manjares, que a sociedade digere, à custa de um penoso trabalho do coração, vá, mas deixe-a a ela no segredo da sua vida, como anjo depositário do bálsamo das feridas com que vossa excelência se refugiará do tumulto das paixões degeneradas para o abrigo da amizade íntima, sem a qual o amor é impossível.
Para mim os poetas chegam mais longe do que os filósofos. As suas poesias contêm segredos que vão para além. A nossa inteligência não é capaz de os desvendar, a gente sente, mas não desvenda.
É por Ti que Vivo
Amo o teu túmido candor de astro
a tua pura integridade delicada
a tua permanente adolescência de segredo
a tua fragilidade acesa sempre altivaPor ti eu sou a leve segurança
de um peito que pulsa e canta a sua chama
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro
ou à chuva das tuas pétalas de prataSe guardo algum tesouro não o prendo
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto
que dure e flua nas tuas veias lentas
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solarOfereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva
para que sintas a verde frescura
de um pomar de brancas cortesias
porque é por ti que vivo é por ti que nasço
porque amo o ouro vivo do teu rosto
Ninguém guarda melhor um segredo que uma criança.
A Companhia do Amor
O que eu sinto não seria para si uma coisa nova de que necessitasse uma clara afirmação; é o mesmo que eu sentia quando passeávamos ambos nas areias da Costa Nova. Ou antes, não é o mesmo sentimento: é outro mais belo, mais completo; porque tendo, apesar de tudo, ficado comigo, desde que nos separámos, e tendo sido o doce e fiel companheiro da minha vida desde então – esse sentimento penetrou-me de um modo mais absoluto e mais absorvente, exaltou-se e idealizou-se, e de tal sorte me invadiu todo que eu cheguei a não ter pensamento, ideia, esperança, plano, a que não estivesse misturada a sua imagem. E na Costa Nova ainda não era assim. Dizer porque é que eu, apesar de tudo, insistia em pensar em si, não sei. O facto de não serem dependentes da vontade os movimentos do coração não é uma suficiente explicação: porque eu podia resistir à importunidade desta ideia, e em lugar disso abandonava-me a ela como à minha única alegria. Devo portanto concluir que havia um pressentimento latente, uma vaga quase certeza, uma fé secreta de que a afinidade que existe entre as nossas naturezas se viria um dia a manifestar apesar de tudo,
Com ordem e tempo se encontra o segredo de fazer tudo, e fazê-lo bem.
Nenhuma Morte Apagará os Beijos
Nenhuma morte apagará os beijos
e por dentro das casas onde nos amámos ou pelas ruas
[clandestinas da grande cidade livre
estarão para sempre vivos os sinais de um grande amor,
esses densos sinais do amor e da morte
com que se vive a vida.Aí estarão de novo as nossas mãos.
E nenhuma dor será possível onde nos beijámos.
Eternamente apaixonados, meu amor. Eternamente livres.
Prolongaremos em todos os dedos os nossos gestos e,
profundamente, no peito dos amantes, a nossa alma líquida
[e atormentadadesvenderá em cada minuto o seu segredo
para que este amor se prolongue e noutras bocas
ardam violentos de paixão os nossos beijos
e os corpos se abracem mais e se confundam
mutuamente violando-se, violentando a noite
para que outro dia, afinal, seja possível.
A música é o tipo de arte mais perfeita: nunca revela o seu último segredo.
Notícias do Bloqueio
Aproveito a tua neutralidade,
o teu rosto oval, a tua beleza clara,
para enviar notícias do bloqueio
aos que no continente esperam ansiosos.Tu lhes dirás do coração o que sofremos
nos dias que embranquecem os cabelos…
tu lhes dirás a comoção e as palavras
que prendemos – contrabando – aos teus cabelos.Tu lhes dirás o nosso ódio construído,
sustentando a defesa à nossa volta
– único acolchoado para a noite
florescida de fome e de tristezas.Tua neutralidade passará
por sobre a barreira alfandegária
e a tua mala levará fotografias,
um mapa, duas cartas, uma lágrima…Dirás como trabalhamos em silêncio,
como comemos silêncio, bebemos
silêncio, nadamos e morremos
feridos de silêncio duro e violento.Vai pois e noticia com um archote
aos que encontrares de fora das muralhas
o mundo em que nos vemos, poesia
massacrada e medos à ilharga.Vai pois e conta nos jornais diários
ou escreve com ácido nas paredes
o que viste, o que sabes, o que eu disse
entre dois bombardeamentos já esperados.
O coração da mulher é um abismo. Este axioma é já tão velho, que não é habilidade nenhuma repeti-lo. Habilidade é sondar o dito abismo e adivinhar a mulher. Muitos o tentam, e poucos conseguem vir a lume com a pedra filosofal. É uma exploração perigosa como a dos exploradores. É como as viagens do pólo, em cujos gelos ficam sepultados os nautas atrevidos. E, se não fosse assim difícil a conquista, a mulher não valia nada. O que a faz preciosa é o segredo.
Senhora II
No calmo colo meus segredos pouso
Senhora que cavalga meu sendeiro.
Convoco vossa ajuda neste escorço
para viver a vida por inteiro.Não sei se o vero verbo em que repouso
vem me afogar no mais turvo atoleiro
mas sei pela certeza que em meu fosso
nunca se afunda o trato companheiro.Meu rosto depressivo de exilado
alberga-se em vossa aura na fadiga
trazendo o sal dos olhos marejados.Águas que são garoa da cantiga
de recorrentes gotas despejadas
as vossas mãos regando, amada e amiga.
Soneto III
A D. Fernão Martins Mascarenhas quando o fizeram Bispo.
Espanta crecer tanto o Crocodilo
Só por seu acanhado nascimento,
Que se maior nascera, mais isento
Estivera d’espanto o pátrio Nilo.Em vão levantará meu baixo estilo
Vosso Pontifical novo ornamento,
Pois no ventre o imortal merecimento
Vo-lo talhou, para despois visti-lo.Tardou, mas veio, que a quem mais merece
Muito mais tarde vir o prémio é certo,
E sempre tarda, inda que venha cedo.Os Céus, que do primeiro estão mais perto,
Mais devagar se movem; quem soubesse
Trás d’aquele segredo, este segredo?
A Cada Virtude Corresponde um Vício
Habituo-me a só pensar bem dos meus amigos, a confiar-lhe os meus segredos e o meu dinheiro; não tarda que me traiam. Se me revolto contra uma perfídia sou eu, sempre, a sofrer o castigo. Esforço-me por amar os homens em geral; faço-me cego aos seus erros e deixo, indulgente ao máximo, passar infâmias e calúnias: uma bela manhã acordo cúmplice. Se me afasto de uma sociedade que considero má, bem depressa sou atacado pelos demónios da solidão; e procurando amigos melhores, acho os piores.
Mesmo depois de vencer as paixões más e chegar, pela abstinência, a uma certa tranquilidade de espírito, sinto uma auto-satisfação que me eleva acima do próximo; e temos à vista o pecado mortal, a vaidade imediatamente castigada.
Os homens da nossa laia têm às vezes a chave de grandes segredos. Se não temos uma alta inteligência, compensou-nos a natureza com um braço forte. Às vezes aprecia-se mais um punhal num braço popular, que um grande pensamento na cabeça de um doutor em física.
Para Quê?
Ao velho amigo João
Para quê ser o musgo do rochedo
Ou urze atormentada da montanha?
Se a arranca a ansiedade e o medo
E este enleio e esta angústia estranhaE todo este feitiço e este enredo
Do nosso próprio peito? E é tamanha
E tão profunda a gente que o segredo
Da vida como um grande mar nos banha?Pra que ser asa quando a gente voa,
De que serve ser cântico se entoa
Toda a canção de amor do Universo?Para quê ser altura e ansiedade,
Se se pode gritar uma Verdade
Ao mundo vão nas sílabas dum verso?
Todos nós, sem excepção, passamos a vida à procura do segredo da vida. Pois bem: o segredo da vida reside na arte.
Jardim
Negro jardim onde violas soam
e o mal da vida em ecos se dispersa:
à toa uma canção envolve os ramos
como a estátua indecisa se refleteno lago há longos anos habitado
por peixes, não, matéria putrescível,
mas por pálidas contas de colares
que alguém vai desatando, olhos vazadose mãos oferecidas e mecânicas,
de um vegetal segredo enfeitiçadas,
enquanto outras visões se delineiame logo se enovelam: mascarada,
que sei de sua essência (ou não a tem),
jardim apenas, pétalas, presságio
O Segredo
Deus não sabe os meus segredos.
As paredes sem ouvidos não escutam
a confidência interminável.
O que perco, ninguém sabe. Dissolve-se em mim,
luminária secreta, sílaba que os lábios não ousam murmurar
diante de teu corpo no escuro,
constelação.E o sobejo de mim, último raio de sol,
fulge no deserto. E nos penhascos
ressoa
constelado
o meu grito de amor.
A Acção é o Segredo da Felicidade
Felicidade é a plena expansão dos instintos – e isso confunde-se com mocidade. Para a maioria dos homens, é o único período da vida em que realmente vivemos; depois dos quarenta anos tudo são reminiscências, cinzas do que já foi chama. A tragédia da vida está em que só nos vem a sabedoria quando a mocidade se afasta.
A saúde está na acção e portanto a saúde enfeita a mocidade. Ocupar-se sem parar é o segredo da graça e metade do segredo do contentamento. Não peças aos deuses riquezas – e sim coisas para fazer.
Na Utopia, disse Thoreau, cada criatura construirá a sua própria casa – e o canto brotará espontâneo do coração do homem, como brota do pássaro que constrói o ninho. Mas se não podemos construir a nossa casa, podemos, pelo menos, andar, pular, saltar, correr – velho é quem apenas assiste a isso. Brinquemos é tão bom como Rezemos – e de resultados mais seguros. Por isso a mocidade tem muita razão em preferir os campos desportivos às salas de aula – e em colocar o futebol acima da filosofia.