A Liberdade é a Possibilidade do Isolamento
A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre.
E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do Destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti, se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo.
Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela.
Passagens sobre Seres
433 resultadosSem qualquer excepção, homens e mulheres de todas as idades, de todas as culturas, de todos os graus de instrução e de todos os níveis económicos têm emoções, estão atentos às emoções dos outros, cultivam passatempos que manipulam as suas próprias emoções, e governam as suas vidas, em grande parte, pela procura de uma emoção, a felicidade, e pelo evitar das emoções desagradáveis. À primeira vista, não existe nada de caracteristicamente humano nas emoções, uma vez que é bem claro que os animais também têm emoções. No entanto, há qualquer coisa de muito característico no modo como as emoções estão ligadas às ideias, aos valores, aos princípios e aos juízos complexos que só os seres humanos podem ter , sendo nessa ligação que reside a nossa ideia bem legítima de que a emoção humana é especial. A emoção humana não se reduz ao prazer sexual ou ao pavor de répteis. Tem a ver, igualmente, com o horror de testemunhar o sofrimento e com a satisfação de ver cumprida a justiça.
O Segredo dos Dias
Quando há muito para fazer, que é sempre, o melhor é fazer como se nada houvesse para fazer e deixar tudo para o pouco tempo – que infelizmente tem de ser medido – que resta para fazê-lo.
Nos dias de maior trabalho, permita-se o maior luxo. Não depois, mas antes. Ou melhor: antes para quem sente que roubou um pecado e tem de pagá-lo e depois para quem sente que merece uma recompensa por ter trabalhado tanto.Os seres humanos dividem-se entre os castigadores e os recompensadores. Talvez os primeiros sejam mais judeus e católicos e os segundos mais islâmicos e protestantes.
Para os castigadores o trabalho é o preço que se paga pelo prazer, pelo adiamento, pelo facto de não ter investido o tempo bastante para tentar urdir um resultado perfeito.
Para os recompensadores primeiro trabalha-se e depois celebra-se o ter trabalhado.Só agora me ocorre, tarde na vida, que ambas as atitudes são oprimentes, tornando-nos em porquinhos-da-índia que comem conforme põem a roda que está na jaula em movimento.
É um erro equiparar o trabalho ao prazer, seja anterior ou posterior. O trabalho é sempre um sofrimento, um esforço, uma coisa que,
Vontade de Mudança
Se achas que a situação da tua vida é insatisfatória ou até mesmo intolerável, só te rendendo primeiro conseguirás quebrar o padrão de resistência inconsciente que perpetua essa situação. Render-se é perfeitamente compatível com tomar providências, com iniciar uma mudança ou alcançar metas. Mas no estado de rendição há uma energia totalmente diferente, uma qualidade diferente que corre no que fizeres. Ao renderes-te, ligas-te novamente com a energia da fonte do Ser e, se o que fizeres estiver infuso do Ser, tornar-se-á numa celebração rejubilante da energia da vida, que te levará mais profundamente para dentro do Agora. Através da não-resistência, a qualidade da tua consciência e, por conseguinte, a qualidade de tudo o que fizeres ou criares, será incomensuravelmente realçada. Os resultados tomarão então conta de si próprios e reflectirão essa qualidade. Poderíamos chamar-lhe “acção rendida”. Não é o trabalho tal como o conhecemos desde há milhares de anos. À medida que mais seres humanos forem despertando, a palavra trabalho desaparecerá do nosso vocabulário, e talvez se crie uma palavra nova em sua substituição.
É a qualidade da tua consciência desse momento que é o factor determinante do tipo de futuro que vivenciarás, pelo que render-te é a coisa mais importante que podes fazer para provocar uma mudança positiva.
Passa-se a Vida Temendo ou Desejando a Morte
A morte pode dar ensejo a dois sentimentos opostos: ou fazer pensar que morrer é tornar-se o mais vulnerável dos seres, sem defesa contra o desconhecido; ou que é tornar-se invulnerável e afastado de todos os males possíveis. Em quase todos, esses dois sentimentos existem e alternam-se. Passa-se a vida temendo ou desejando a morte.
Amor E Crença
E sê bendita!
H. SienkiewiczSabes que é Deus?! Esse infinito e santo
Ser que preside e rege os outros seres,
Que os encantos e a força dos poderes
Reúne tudo em si, num só encanto?Esse mistério eterno e sacrossanto,
Essa sublime adoração do crente,
Esse manto de amor doce e clemente
Que lava as dores e que enxuga o pranto?!Ah! Se queres saber a sua grandeza,
Estende o teu olhar à Natureza,
Fita a cúp’la do Céu santa e infinita!Deus é o templo do Bem. Na altura Imensa,
O amor é a hóstia que bendiz a Crença,
ama, pois, crê em Deus, e… sê bendita!
Entre os seres humanos, mesmo se intimamente unidos, permanece sempre aberto um abismo que apenas o amor pode superar, e mesmo assim somente como uma passagem de emergência.
Ser Dos Seres
No teu ser de silêncio e d’esperança
A doce luz das Amplidões flameja.
Ele sente, ele aspira, ele deseja
A grande zona da imortal Bonança.Pelos largos espaços se balança
Como a estrela infinita que dardeja,
Sempre isento da Treva que troveja
O clamor inflamado da Vingança.Por entre enlevos e deslumbramentos
Entra na Força astral dos Sentimentos
E do Poder nos mágicos poderes.E traz, embora os íntimos cansaços,
Ânsias secretas para abrir os braços
Na generosa comunhão dos Seres!
Igualdade é o reconhecimento público, efetivamente expresso em instituições e modos, do princípio de que um grau igual de atenção é devido às necessidades de todos os seres humanos.
Liberdade e Eternidade
A liberdade que às vezes sentia não vinha de reflexões nítidas, mas de um estado como feito de percepções por demais orgânicas para serem formuladas em pensamentos. Às vezes no fundo da sensação tremulava uma ideia que lhe dava leve consciência de sua espécie e de sua cor.
O estado para onde deslizava quando murmurava: eternidade. O próprio pensamento adquiria uma qualidade de eternidade. Aprofundava-se magicamente e alargava-se, sem propriamente um conteúdo e uma forma, mas sem dimensões também. A impressão de que se conseguisse manter-se na sensação por mais uns instantes teria uma revelação — facilmente, como enxergar o resto do mundo apenas inclinando-se da terra para o espaço. Eternidade não era só o tempo, mas algo como a certeza enraizadamente profunda de não poder contê-lo no corpo por causa da morte; a impossibilidade de ultrapassar a eternidade era eternidade; e também era eterno um sentimento em pureza absoluta, quase abstracto. Sobretudo dava ideia de eternidade a impossibilidade de saber quantos seres humanos se sucederiam após seu corpo, que um dia estaria distante do presente com a velocidade de um bólido.
Definia eternidade e as explicações nasciam fatais como as pancadas do coração. Delas não mudaria um termo sequer,
Fecha os olhos para não seres cego.
A Giganta
No tempo em que a Natura, augusta, fecundanta,
Seres descomunais dava à terra mesquinha,
Eu quisera viver junto d’uma giganta,
Como um gatinho manso aos pés d’uma rainha!Gosta de assistir-lhe ao desenvolvimento
Do corpo e da razão, aos seus jogos terríveis;
E ver se no seu peito havia o sentimento
Que faz nublar de pranto as pupilas sensíveisPercorrer-lhe a vontade as formas gloriosas,
Escalar-lhe, febril, as colunas grandiosas;
E às vezes, no verão, quando no ardente soloEu visse deitar, numa quebreira estranha estranha,
Dormir serenamente à sombra do seu colo,
Como um pequeno burgo ao sopé da montanha!Tradução de Delfim Guimarães
Todos os seres são iguais, pela sua origem, seus direitos naturais e divinos e seu objetivo final.
Deves acreditar em Deus que está dentro de ti mesmo, presente em todos os seres e em todas as coisas, vivificando-os, e não em Deus distante, separado do ser humano.
O Divino
Nobre seja o homem,
Caridoso e bom!
Pois isso apenas
É que o distingue
De todos os seres
Que conhecemos.Glória aos incógnitos
Mais altos seres
Que pressentimos!
Que o homem se lhes iguale!
Seu exemplo nos ensine
A crer naqueles!Pois insensível
É a natureza:
O sol ‘spalha luz
Sobre maus e bons,
E ao criminoso
Brilham como ao santo
A lua e as ‘strelas.Vento e torrentes,
Trovão e saraiva
Rugem seu caminho
E agarram,
Velozes passando,
Um após outro.Tal a sorte às cegas
Lança mãos à turba
E agarra os cabelos
Do menino inocente
Ou a fronte calva
Do velho culpado.Por eternas leis,
Grandes e de bronze,
Temos todos nós
De fechar os círculos
Da nossa existência.Mas somente o homem
Pode o impossível:
Só ele distingue,
Escolhe e julga;
E pode ao instante
Dar duração.Só ele é que pode
Premiar o bom,
Castigar o mau,
Pouco importa o julgamento dos outros. Os seres são tão contraditórios que é impossível atender às suas demandas, satisfazê-los. Tenha em mente simplesmente ser autêntico e verdadeiro…
Teoria da Presença de Deus
Somos seres olhados
Quando os nossos braços ensaiarem um gesto
fora do dia-a-dia ou não seguirem
a marca deixada pelas rodas dos carros
ao longo da vereda marginada de choupos
na manhã inocente ou na complexa tarde
repetiremos para nós próprios
que somos seres olhadosE haverá nos gestos que nos representam
a unidade de uma nota de violoncelo
E onde quer que estejamos será sempre um terraço
a meia altura
com os ao longe por muito tempo estudados
perfis do monte mário ou de qualquer outro monte
o melhor sítio para saber qualquer coisa da vida
Expectativa Frustrada
Quão melhor é apercebermo-nos de que as origens da ira são insignificantes e inofensivas! O que tu vês acontecer junto dos animais, também encontrarás nos homens: vivemos perturbados por coisas frívolas e vãs. O vermelho excita o touro, a áspide ergue-se perante uma sombra, um pano atiça um urso ou um leão: todos os seres da natureza ferozes e selvagens se assustam com coisas vãs. O mesmo acontece com os espíritos inquietos e insensatos: são vencidos pelas aparências; é por isso que consideram ofensiva uma gratificação modesta, a causa mais frequente da ira ou, pelo menos, a mais amarga de todas. De facto, iramo-nos com aqueles que nos são mais queridos porque nos deram menos do que esperávamos ou menos do que os outros obtiveram; para qualquer um dos casos, há um remédio. Ele deu mais a outro homem: contentemo-nos com a nossa parte, sem fazermos comparações: nunca será feliz aquele que atormenta quem é mais feliz que ele. Recebi menos do que esperava: talvez esperasse mais do que me era devido. Este capricho é um dos mais temíveis, pois dele nascem as iras mais perniciosas e mais capazes de atentar contra as coisas mais sagradas.
Ontologia do Amor
Tua carne é a graça tenra dos pomares
e abre-se teu ventre de uma a outra lua;
de teus próprios seios descem dois luares
e desse luar vestida é que ficas nua.Ânsia de voo em asas de ficar
de ti mesma sou o mar e o fundo.
Praia dos seres, quem te viajar
só naufragando recupera o mundo.Ritmo de céu, por quem és pergunta
de uma azul resposta que não trazes junta
vitral de carne em catedral infinda.Ter-te amor é já rezar-te, prece
de um imenso altar onde acontece
quem no próprio corpo é céu ainda.
Que horror é meter entranhas em entranhas, engordar um corpo com outro corpo, viver da morte de seres vivos.