Passagens sobre Seriedade

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Como Diderot já disse, em “O Sobrinho de Rameau”, a pessoa que ensina a ciência não é a mesma que entende dela e a realiza com seriedade, pois a esta não sobra tempo para ensinar.

Conselhos a um Príncipe

Vais pela primeira vez ficar com uma responsabilidade. Lembra-te que este primeiro passo na tua vida política, pode decidir de todo o teu futuro. Ouve pois os conselhos de um pai e do teu melhor amigo. Continua o mesmo sistema que tenho sempre seguido, não alardear de querer fazer muito porque então nada se faz, e mesmo tu és apenas um delegado meu por oito a dez dias. Sê modesto sem pareceres ignorante é a primeira qualidade para um príncipe. Trata a todos bem, não dês confianças a ninguém senão aos teus mestres naturais, que deves consultar, porque ninguém nasce ensinado. Desconfia de elogios rasgados, poucas vezes são sinceros. Sê o Carlos meu filho, não queiras nunca parecer mais do que isso, e todos te hão-de estimar e respeitar, porque os desejos e as vontades dos pais são credos para os bons filhos. Não quero senão o teu bem. Ouve-me mais — sobretudo, sê grave, mais ainda que se estivéssemos junto de ti; porque os príncipes se devem distinguir entre todos. Pode-se ser rapaz, divertir-se mas sempre que nos revista um carácter de seriedade que nesta época moderna nos faça reconhecer mais príncipe pelas virtudes e porte do que pela nascença.

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Da Conversa

Há quem, na conversa, prefira mostrar espírito brilhante, e ser capaz de sustentar todos os argumentos, a exercer o juízo no discernimento da verdade, como se houvesse maior mérito em saber o que pode ser dito, do que em conhecer o que deve ser pensado, alguns têm certos lugares comuns e certos temas em que se mostram bons conversadores, mas são falhos na variedade; esta espécie de indigência é quase sempre aborrecida, e de vez em quando ridícula; a parte mais honrosa do colóquio consiste em dar ocasião a novo tema, e também em moderar ou acelerar a transição para assunto diferente; é bom variar, mesclando o assunto de que se está a conversar com argumentos, narrativas com discussões, perguntas com respostas, jocosidades com seriedades; há, porém, assuntos que não permitem brincadeira, nomeadamente a religião, os negócios do Estado, as altas personalidades, todas as questões de importância para as pessoas presentes, enfim, todos os casos dignos de dó.
Aquele que muito interrogar muito aprenderá também, muito contentará também, especialmente se adaptar as suas perguntas aos conhecimentos daqueles que lhe podem responder, pois assim lhes dará ocasião de se comprazerem a falar, e ele próprio continuará a ganhar conhecimentos; se por vezes fingirdes ignorar o que consta que sabeis,

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Amizade sem Tabus

Se a todos nós fosse concedido o poder, como num passe de mágica, de ler a mente uns dos outros, suponho que o primeiro efeito seria que quase todas as amizades se desfariam. O segundo efeito, entretanto, poderia ser excelente, pois um mundo sem amigos seria sentido como intolerável, e nós teríamos de aprender a gostar uns dos outros sem a necessidade de um véu de ilusão para esconder de nós mesmos que não nos consideramos uns aos outros pessoas absolutamente perfeitas. Sabemos que os nossos amigos têm as suas falhas, e que apesar disso são pessoas de um modo geral aprazíveis das quais gostamos. Consideramos intolerável, no entanto, que tenham a mesma atitude conosco. Esperamos que pensem que, ao contrário do resto da humanidade, nós não temos falhas. Quando somos compelidos a reconhecer que temos falhas, tomamos esse facto óbvio com demasiada seriedade.

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso – para viver um grande amor.

Tempo e Idade

A jovialidade e a coragem da vida, características da juventude, devem-se em parte ao facto de estarmos a subir a colina, sem ver a morte situada no sopé do outro lado. Porém, ao transpormos o cume, avistamos de facto a morte, até então conhecida só de ouvir dizer. Ora, como ao mesmo tempo a força vital começa a diminuir, a coragem também decresce, de modo que, nesse momento, uma seriedade sombria reprime a audácia juvenil e estampa-se no nosso rosto. Enquanto somos jovens, digam o que quiserem, consideramos a vida como sem fim e usamos o nosso tempo com prodigalidade. Contudo, quanto mais velhos ficamos, mais o economizamos. Na velhice, cada dia vivido desperta uma sensação semelhante à do delinquente ao dirigir-se ao julgamento.
Do ponto de vista da juventude, a vida é um futuro infinitamente longo; do da velhice, é um passado bastante breve. Desse modo, o começo apresenta-se-nos como as coisas ao serem vistas pela lente objectiva do binóculo de opera; o fim, entretanto, como se vistas pela ocular. É preciso ter envelhecido, portanto ter vivido muito, para reconhecer como a vida é breve. O próprio tempo, na juventude, dá passos bem mais lentos. Por conseguinte, o primeiro quartel da vida é não só o mais feliz,

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Em todos os grandes vencedores e nos que amam o poder encontra-se a seriedade que se explica por uma sobriedade de desejos. A aspiração mata o desejo. E a aspiração é um dos pontos cardeais do poder.

Só se dedicará a um assunto com toda a seriedade alguém que esteja envolvido de modo imediato e que se ocupe dele com amor. É sempre de tais pessoas, e não dos assalariados, que vêm as grandes descobertas.

O Provincianismo Português (I)

Se, por um daqueles artifícios cómodos, pelos quais simplificamos a realidade com o fito de a compreender, quisermos resumir num síndroma o mal superior português, diremos que esse mal consiste no provincianismo. O facto é triste, mas não nos é peculiar. De igual doença enfermam muitos outros países, que se consideram civilizantes com orgulho e erro.
O provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela — em segui-la pois mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz. O síndroma provinciano compreende, pelo menos, três sintomas flagrantes: o entusiasmo e admiração pelos grandes meios e pelas grandes cidades; o entusiasmo e admiração pelo progresso e pela modernidade; e, na esfera mental superior, a incapacidade de ironia.
Se há característico que imediatamente distinga o provinciano, é a admiração pelos grandes meios. Um parisiense não admira Paris; gosta de Paris. Como há-de admirar aquilo que é parte dele? Ninguém se admira a si mesmo, salvo um paranóico com o delírio das grandezas. Recordo-me de que uma vez, nos tempos do “Orpheu”, disse a Mário de Sá-Carneiro: “V. é europeu e civilizado, salvo em uma coisa, e nessa V. é vítima da educação portuguesa. V. admira Paris,

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A arte não é um jogo. Há seriedade na arte, e um resultado definitivo, o que todas as espécies de jogo rejeitam energicamente.

O humorismo alivia-nos das vicissitudes da vida, activando o nosso senso de proporção e revelando-nos que a seriedade exagerada tende ao absurdo.

A Seriedade é uma Doença

A seriedade é uma doença, e o mais sério dos animais é o burro. Ninguém lhe tira, nem com afagos nem com a chibata aquele semblante cabido de mágoas recônditas que o ralam no seu peito. Há nele a linha, o perfil do sábio refugado no concurso ao magistério, do candidato á camara baixa bigodeado pela perfídia de eleitores que, saturados de genebra e Carta constitucional, desde a taberna até à urna, fermentaram a crisálida de consciências novas. O burro é assim triste por fora; mas é feliz por dentro, e riria dos seus homónimos, se pudesse igualá-os na faculdade de rir, que é exclusiva do homem e da hiena, a qual ri com umas exultações ferozes tão autênticas como as lágrimas insidiosas do crocodilo.

Não é amar as raparigas tratá-las como seres que não entendem senão as suas lisonjas e as suas anedotas; só as amará e só elas o poderão amar a você, para além das enganadoras aparências, quando a sua alma se lhes abrir, e com todos os seus problemas, todas as suas angústias, toda a sua seriedade, toda a sua gravidade humana.