O Supremo Palhaço da Criação
A velha noção antropomórfica de que todo o universo se centraliza no homem – de que a existência humana é a suprema expressão do processo cósmico – parece galopar alegremente para o baú das ilusões perdidas. O facto é que a vida do homem, quanto mais estudada à luz da biologia geral, parece cada vez mais vazia de significado. O que no passado deu a impressão de ser a principal preocupação e obra-prima dos deuses, a espécie humana começa agora a apresentar o aspecto de um sub-produto acidental das maquinações vastas, inescrutáveis e provavelmente sem sentido desses mesmos deuses.
(…) O que nĂŁo quer dizer, naturalmente, que um dia a tal teoria seja abandonada pela grande maioria dos homens. Pelo contrário, estes a abraçarĂŁo Ă medida que ela se tornar cada vez mais duvidosa. De fato, hoje, a teoria antropomĂłrfica ainda Ă© mais adoptada do que nas eras de obscurantismo, quando a doutrina de que um homem era um quase Deus foi no mĂnimo aperfeiçoada pela doutrina de que as mulheres inferiores. O que mais está por trás da caridade, da filantropia, do pacifismo, da “inspiração” e do resto dos atuais sentimentalismos? Uma por uma, todas estas tolices sĂŁo baseadas na noção de que o homem Ă© um animal glorioso e indescritĂvel,
Passagens sobre Setenta
8 resultadosCaros jovens, transportais a alegria da fé e dizei-nos que devemos viver a fé com um coração jovem, sempre; um coração jovem, mesmo aos setenta ou aos oitenta anos! Com Cristo, o coração nunca envelhece!
Tragédia
Foi para a escola e aprendeu a ler
e as quatro operações, de cor e salteado.
Era um menino triste:
nunca brincou no largo.
Depois, foi para a loja e pĂ´s a uso
aquilo que aprendeu
— vagaroso e sério,
sem um engano,
sem um sorriso.
Depois, o pai morreu
como estava previsto.
E o Senhor AntĂłnio
(tão novinho e já era «o Senhor António»!…)
ficou dono da loja e chefe da famĂlia…
Envelheceu, casou, teve meninos,
tudo como quem soma ou faz multiplicação!…
E quando o mais velhinho
já sabia contar, ler, escrever,
o Senhor António deu balanço à vida:
tinha setenta anos, um nome respeitado…
— que mais podia querer?
Por isso,
num meio-dia de VerĂŁo,
sentiu-se mal.
Decentemente abriu os braços
e disse: — Vou morrer.
E morreu!, morreu de congestão…
SĂŞ de Pedra!
NĂŁo reparaste nunca? Pela aldeia,
Nos fios telegraphicos da estrada,
Cantam as aves, desde que o sol nada,
E, á noite, se faz sol a lua cheia…No entanto, pelo arame que as tenteia,
Quanta tortura vae, n’uma ancia alada!
O Ministro que joga uma cartada,
Alma que, ás vezes, d’além-mar anceia:– Revolução! – Inutil. – Cem feridos,
Setenta mortos. – Beijo-te! – Perdidos!
– Emfim, feliz! – ?- ! – Desesperado. -Vem!E as lindas aves, bem se importam ellas!
Continuam cantando, tagarellas:
Assim, Antonio! deves ser tambem.
Morre-se Agora Muito Tarde
Pensando bem, vale mais morrer já, morre-se agora muito tarde. Quero dizer, muito depois de ter morrido muita coisa Ă nossa volta e dentro de nĂłs. A vida humana estendeu-se e o que havia nela encolheu. A vida humana Ă© assim vagarosa, «objectivamente» vagarosa, mas o que acontece dentro dela Ă© rapidĂssimo (…) Porque aos vinte e cinco anos, digamos aos trinta, temos o farnel pronto para a viagem. Antigamente dava para a viagem toda, agora temos de nos abastecer outra vez – com quĂŞ?
Temos a bagagem pronta, o amor, as ideias, o corte das camisas e do cabelo, tudo na mala – como aguentar até aos setenta sem mudar de mala nem de camisas? Mesmo que as camisas sejam novas. Imagina agora tu a usares o coco do teu avô.
Um CĂ©rebro Sempre Jovem
A sociedade está a ser varrida por um movimento chamado nova velhice. A norma social para as pessoas de idade era passiva e sombria; confinadas a cadeiras de baloiço, esperava-se que entrassem em declĂnio fĂsico e mental. Agora o inverso Ă© verdade. As pessoas mais velhas tĂŞm expetativas mais elevadas de que permanecerĂŁo ativas e com vitalidade. Consequentemente, a definição de velhice mudou. Num inquĂ©rito perguntou-se a uma amostra de baby boomers: “Quando tem inĂcio a velhice?” A resposta mĂ©dia foi aos 85. Ă€ medida que aumentam as expetativas, o cĂ©rebro deve claramente manter-se a par e adaptar-se Ă nova velhice. A antiga teoria do cĂ©rebro fixo e estagnado sustentava ser inevitável um cĂ©rebro que envelhecesse. Supostamente as cĂ©lulas cerebrais morriam continuamente ao longo do tempo Ă medida que uma pessoa envelhecia, e a sua perda era irreversĂvel.
Agora que compreendemos quĂŁo flexĂvel e dinâmico Ă© o cĂ©rebro, a inevitabilidade da perda celular já nĂŁo Ă© válida. No processo de envelhecimento — que progride Ă razĂŁo de 1% ao ano depois dos trinta anos de idade — nĂŁo há duas pessoas que envelheçam de maneira igual. AtĂ© os gĂ©meos idĂŞnticos, nascidos com os mesmos genes, terĂŁo muito diferentes padrões de atividade genĂ©tica aos setenta anos,
Há várias coisas com as quais eu não me preocuparia se fosse viver apenas setenta anos, mas que me preocupam seriamente com a perspectiva da vida eterna.
Hoje, setenta por cento da humanidade ainda morre de fome… e trinta por cento faz dieta.