Passagens sobre SilĂȘncio

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Sentir a Felicidade

EntĂŁo isso era a felicidade. E por assim dizer sem motivo. De inicio se sentiu vazia. Depois os olhos ficaram hĂșmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos poucos. E o que Ă© que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que jĂĄ estĂĄ começando a me doer como uma angĂșstia, como um grande silĂȘncio? A quem dou minha felicidade, que jĂĄ estĂĄ começando a me rasgar um pouco e me assusta? NĂŁo, nĂŁo quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas nĂŁo tĂȘm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que Ă© sentir-se feliz, e preferem a mediocridade.

Eis-me

Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mĂĄgicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silĂȘncio
Ante o silĂȘncio e o esplendor da tua face

Mas tu Ă©s de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mĂŁo me toca
O meu coração desce as escadas do tempo
[em que nĂŁo moras
E o teu encontro
SĂŁo planĂ­cies e planĂ­cies de silĂȘncio

Escura Ă© a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto estå para além do tempo opaco
E eu nĂŁo habito os jardins do teu silĂȘncio
Porque tu Ă©s de todos os ausentes o ausente

Rio Abaixo

Treme o rio, a rolar, de vaga em vaga…
Quase noite. Ao sabor do curso lento
Da ĂĄgua, que as margens em redor alaga,
Seguimos. Curva os bambuais o vento.

Vivo, hĂĄ pouco, de pĂșrpura, sangrento,
Desmaia agora o Ocaso. A noite apaga
A derradeira luz do firmamento…
Rola o rio, a tremer, de vaga em vaga.

Um silĂȘncio tristĂ­ssimo por tudo
Se espalha. Mas a lua lentamente
Surge na fĂ­mbria do horizonte mudo:

E o seu reflexo pĂĄlido, embebido
Como um glĂĄdio de prata na corrente,
Rasga o seio do rio adormecido.

Erra, Fio mortal da Alma, o Destino

Erra, fio mortal da alma, o destino.
Porém, trémulo, o não temo.
Seco serĂĄ o poder do nada, o silĂȘncio
dos deuses ou o rosto corrompido
dos homens. Estas folhas ĂĄsperas
e pĂĄlidas entardecem e conhecem-me.
O ar que queima, sem arder, a pedra
da manhĂŁ ou o inigualado luto
da noite, Ă© solene, Ă© suave,
inexorĂĄvel princĂ­pio de tudo
quanto existirá. É ido o sonho
do fogo, a exacta vida, sucumbe
o corpo no vazio enigma da cĂłlera
divina. Dura, sem medida, a excessiva,
a Ă©bria, a avara solidĂŁo, neste ar
perene que, no odor da terra se
oculta. SĂł minha absurda aparĂȘncia
a Ave dilacera.

Milhares de vidas foram encerradas subitamente pelo, por atos desprezĂ­veis de terror. As imagens de aviĂ”es voando contra edifĂ­cios, o fogo queimando, grandes estruturas em colapso, encheram-nos com a descrença, a tristeza terrĂ­vel e um silĂȘncio, inflexĂ­vel de raiva.

É de mim agora que eu preciso falar, mesmo se eu tiver que fazĂȘ-lo com sua lĂ­ngua, serĂĄ um começo, um passo em direção ao silĂȘncio e ao fim da loucura.

Viver pela EvidĂȘncia

Creio que jĂĄ falei disto. Mas de que Ă© que diabo se nĂŁo falou jĂĄ? Se nĂŁo falĂĄmos nĂłs, falaram os outros, que tambĂ©m sĂŁo gente. E no entanto, de cada vez se fala pela primeira vez, porque o que importa nĂŁo Ă© o que se sabe mas o que se vĂȘ. E ver Ă© ver sempre de outra maneira para aquele que vĂȘ. Quantas vezes se falou da morte e da vida e do amor e de mil outras coisas sisudas? Mas volta-se sempre Ă  mesma, porque o saber pela evidĂȘncia Ă© saber pela primeira vez; e uma dor que nos dĂłi ou uma alegria que nos alegra nĂŁo doeu nem alegrou senĂŁo a nĂłs. De modo que de novo me intriga a extraordinĂĄria desproporção entre o complexo de uma vida e a coisa chilra que dela resulta.
Mesmo os grandes homens, que sĂŁo maiores do que nĂłs, que Ă© que nos deixaram em testamento? Um livro, uma ideia, uma fĂłrmula. E os que nada nos deixaram? Mas uma vida Ă© fantĂĄstica pelo que nela aconteceu. HĂĄ assim um desperdĂ­cio extraordinĂĄrio, uma pura perda do que se amealhou. RelaçÔes, sentimentos, projectos, acçÔes correntes que foram desencadear mil efeitos maus ou Ășteis.

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NĂŁo hĂĄ absolutamente nenhuma vantagem em se defender a nĂŁo ser em certas cincunstĂąncias em

NĂŁo hĂĄ absolutamente nenhuma vantagem em se defender a nĂŁo ser em certas cincunstĂąncias em que o silĂȘncio causaria desgosto ou escĂąndalo.

O silĂȘncio Ă© o espaço que envolve toda a acção e vida em comum. A amizade nĂŁo precisa de palavras: Ă© a solidĂŁo livre da angĂșstia da solidĂŁo.

A Minha FamĂ­lia Ă© a Minha Casa

A solidĂŁo absoluta Ă© nĂŁo ter ninguĂ©m a quem dizer um simples: “tenho vontade de chorar”. NĂŁo precisamos de muito para viver bem – para ser feliz basta uma famĂ­lia e pouco mais.

A famĂ­lia Ă© a casa e a paz. O refĂșgio onde uma vontade de chorar nĂŁo Ă© motivo de julgamento, apenas e sĂł uma necessidade sĂșbita de… famĂ­lia. De um equilĂ­brio para o qual o outro Ă© essencial… assim tambĂ©m se passa com a vontade de sorrir que, em famĂ­lia, se contagia apenas pelo olhar.

Nos dias de hoje vai sendo cada vez mais difĂ­cil encontrar gente capaz de ser famĂ­lia. Os egoĂ­smos abundam e cultiva-se, sozinho, o individual. Como se nĂŁo houvesse espaço para o amor. Dizem que amar Ă© arriscado, que Ă© coisa de loucos…
Todos temos sentimentos mais profundos. Cada um de nĂłs Ă© uma unidade, mas o que somos passa por sermos mais do que um. Parte de unidades maiores. Estamos com quem amamos e quem amamos tambĂ©m estĂĄ, de alguma forma, connosco. O amor Ă© o que existe entre nĂłs e nos enlaça os sentimentos mais profundos. Onde uma vontade de chorar Ă© um sinal de que hĂĄ algo em mim que Ă© maior do que eu…

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És como o Ar que Respiro

Qual Ă© a força extraordinĂĄria que possuis? — pergunto muitas vezes a mim mesmo. Dois ou trĂȘs princĂ­pios cristĂŁos inabalĂĄveis — e por trĂĄs milhares de seres que desapareceram ignorados, cumprindo a vida ignorada. Nem sequer se debateram. Entregaram-se. Confiaram. A mulher portuguesa comunica ao lar a ternura com que os pĂĄssaros aquecem o ninho. Sua vida dĂĄ luz, para alumiar os outros. Foi assim com tĂŁo pequenos meios, que me ensinaste. Com uma palavra e mais nada, com um simples olhar, com silĂȘncio e mais nada. Uma atitude fazia-me pensar. E mal sabes tu quando Os teus dedos ĂĄgeis trabalhavam a meu lado, teciam ao mesmo tempo o pano grosso de casa e a nossa vida espiritual.

E como tu milhares de seres tĂȘem cumprido a vida em silĂȘncio, aceitando-a sem exageros. Nas mĂŁos das mulheres atĂ© as coisas vulgares que se fazem na aldeia, cozer o pĂŁo, lançar a teia — assumem um carĂĄcter sagrado. Elas passam desconhecidas e dispĂ”em dum poder extraordinĂĄrio. MantĂȘem a vida ordenada com um sorriso tĂ­mido. A mulher estĂĄ mais perto que nĂłs da natureza e de Deus.

Cada vez me aproximo mais de ti. O que hĂĄ de puro em mim a ti o devo.

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Ângelus

Desmaia a tarde. Além, pouco e pouco, no poente,
O sol, rei fatigado, em seu leito adormece:
Uma ave canta, ao longe; o ar pesado estremece
Do Ângelus ao soluço agoniado e plangente.

Salmos cheios de dor, impregnados de prece,
Sobem da terra ao céu numa ascensão ardente.
E enquanto o vento chora e o crepĂșsculo desce,
A ave-maria vai cantando, tristemente.

Nest’hora, muita vez, em que fala a saudade
Pela boca da noite e pelo som que passa,
Lausperene de amor cuja mĂĄgoa me invade,

Quisera ser o som, ser a noite, Ă©bria e douda
De trevas, o silĂȘncio, esta nuvem que esvoaça,
Ou fundir-me na luz e desfazer-me toda.

Este Ă© o Papel Singular da Alegria

Este Ă© o papel singular da alegria
a lei errante do paĂ­s
Ă© o maior dos silĂȘncios.

Caminhei por entre rios pontos de ĂĄgua
estaçÔes de novembro
pequena razĂŁo dos ventos da manhĂŁ.

NĂŁo trafiquei nĂŁo porque seja forte
mas porque falo da alegria do estar sobre vĂłs
nestes pontos de ĂĄgua
na acidez da flor
neste paĂ­s frequentado

algumas coisas nunca mudarĂŁo. O rigor
da luz torna invulnerĂĄvel o desejo de perder
esta pressa de verĂŁo.

Algumas coisas serĂŁo sempre as mesmas: manhĂŁ
encosta o teu ouvido sobre a porta escuta
era a voz os cavaleiros roubados a Ucello
longĂ­nquos.

(Profanamos a casa nĂŁo o corpo
esta forma desenhada ruga a ruga
esta cor amarela sobre a praia.)

MĂłdulo

Alguém te considera e te recolhe
das hélades perdidas.

Um navio sem hélice levanta
seu voo de silĂȘncio, desdobrando
as velas que te alindam na distĂąncia
da noite mais antiga.

Os deuses se juntaram para ouvir
a leitura solene de teu nome
disperso no poema.
Tudo o mais
Ă© sinal de ruptura, senĂŁo rapto.

Se Eu Agora Inventasse o Mundo

Se eu agora inventasse o mundo
criaria a luz da manhĂŁ jĂĄ explicada
sem o luto que pesa
na sombra dos homens
– conspiração da noite
com as pedras.

Luz que o cheiro das ervas da madrugada
aproxima os mortos do silĂȘncio
com esqueletos de asas
– conluio com o sol
para estarem mais presentes
no tacto da pele da manhĂŁ,
mil mĂŁos a afogarem a paisagem,
bafo de flores donde cai
o enlace das sementes…

Abro a janela
O mundo cheira tĂŁo bem a trevos ausentes!

Bons dias, mortos. Bons dias, Pai.

Uma Doença CĂșmplice

uma doença cĂșmplice, marcas pĂșrpura
dĂŁo ao teu rosto a expressĂŁo do exĂ­lio
a que te submetes, gemeste
toda a noite, soçobraste

Ă  febre alta do final da tarde, uma prega,
vincada no teu rosto,
mantém-te inanimado
entre a vigĂ­lia e a injĂșria

que hĂĄ no sacrifĂ­cio
e te pÔe a carne em chaga.
uma doença altiva, a consistĂȘncia

do silĂȘncio Ă© como aço e o transe
permanece, Ă© superiormente excessiva
tanta angĂșstia.