Passagens sobre SilĂȘncio

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Data

{Ă  maneira de Eustache Deschamps)

Tempo de solidĂŁo e de incerteza
Tempo de medo e tempo de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação

Tempo de covardia e tempo de ira
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo que mata quem o denuncia
Tempo de escravidĂŁo

Tempo dos coniventes sem cadastro
Tempo de silĂȘncio e de mordaça
Tempo onde o sangue nĂŁo tem rastro
Tempo de ameaça

Alvorecer

A noite empalidece. Alvorecer…
Ouve-se mais o gargalhar da fonte…
Sobre a cidade muda, o horizonte
É uma orquídea estranha a florescer.

HĂĄ andorinhas prontas a dizer
A missa d’alva, mal o sol desponte.
Gritos de galos soam monte em monte
Numa intensa alegria de viver.

Passos ao longe… um vulto que se esvai…
Em cada sombra Colombina trai…
Anda o silĂȘncio em volta a q’rer falar…

E o luar que desmaia, macerado,
Lembra, pĂĄlido, tonto, esfarrapado,
Um Pierrot, todo branco, a soluçar…

CenĂĄrio de Natal Sem o Natal

Nenhuma estrela luz, com mais brilho no céu.
Não oiço rumor d’asa ou de vagido
É meia-noite já. E ainda não nasceu.
O que terĂĄ acontecido?

Eu, para aqui ajoelhado,
A memĂłria da infĂąncia a pedir-me alegria,
Todo o presépio armado
… E a mangedoira vazia!

O silĂȘncio apavora:
Nem uma loa, nem o som de um sino.
PorquĂȘ tanta demora?
NĂŁo mais irĂĄ nascer o meu menino?

Nenhum sinal de sobrenatural
No cenårio onde a fé não sublima nem arde.
Por isso, o meu Natal
Vai chegar tarde.

(Para sempre tarde?)

Assistirmos ao sofrimento do nosso filho Ă© estarmos em carne viva por dentro, Ă© nĂŁo termos pele, Ă© um incĂȘndio a arder no mundo inteiro, mesmo no mundo inteiro. E cada som do nosso filho a sofrer Ă© silĂȘncio em brasa, Ă© a cabeça cheia de silĂȘncio em brasa, o peito cheio, incandescente, o mundo inteiro em brasa.

Ame como a chuva fina.Esta cai em silĂȘncio, quase sem fazer notar, mas Ă© capaz de transbordar rios.

Os livros, esses animais opacos por fora, essas donzelas. Os livros caem do cĂ©u, fazem grandes linhas rectas e, ao atingir o chĂŁo, explodem em silĂȘncio. Tudo neles Ă© absoluto, atĂ© as contradiçÔes em que tropeçam. E estĂŁo lĂĄ, aqui, a olhar-nos de todos os lados, a hipnotizar-nos por telepatia. Devemos-lhes tanto, atĂ© a loucura, atĂ© os pesadelos, atĂ© a esperanças em todas as suas formas.

O Maior Triunfo do Homem

O maior triunfo do homem Ă© quando se convence de que o ridĂ­culo Ă© uma coisa sua que existe sĂł para os outros, e, mesmo, sempre que outros queiram. Ele entĂŁo deixa de importar-se com o ridĂ­culo, que, como nĂŁo estĂĄ em si, ele nĂŁo pode matar.

TrĂȘs coisas tem o homem superior que ensinar-se a esquecer para que possa gozar no perfeito silĂȘncio a sua superioridade – o ridĂ­culo, o trabalho e a dedicação.
Como nĂŁo se dedica a ninguĂ©m, tambĂ©m nada exige da dedicação alheia. SĂłbrio, casto, frugal, tocando o menos possĂ­vel na vida, tanto para nĂŁo se incomodar como para nĂŁo aproximar as coisas de mais, a ponto de destruir nelas a capacidade de serem sonhadas, ele isola-se por conveniĂȘncia do orgulho e da desilusĂŁo. Aprende a sentir tudo sem o sentir directamente; porque sentir directamente Ă© submeter-se – submeter-se Ă  acção da coisa sentida.

Vive nas dores e nas alegrias alheias, Whitman olĂ­mpico, Proteu da compreensĂŁo, sem partilhar de vivĂȘ-las realmente. Pode, a seu talante, embarcar ou ficar nas partidas de navios e pode ficar e embarcar ao mesmo tempo, porque nĂŁo embarca nem fica. Esteve com todos em todas as sensaçÔes de todas as horas da sua vida.

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Eu gosto de olhos que sorriem, de gestos que se desculpam, de toques que sabem conversar e de silĂȘncios que se declaram.

Blasfémia

SilĂȘncio, meu Amor, nĂŁo digas nada!
Cai a noite nos longes donde vim…
Toda eu sou alma e amor, sou um jardim,
Um pĂĄtio alucinante de Granada!

Dos meus cĂ­lios a sombra enluarada,
Quando os teus olhos descem sobre mim,
Traça trémulas hastes de jasmim
Na palidez da face extasiada!

Sou no teu rosto a luz que o alumia,
Sou a expressão das tuas mãos de raça,
E os beijos que me dĂĄs jĂĄ foram meus!

Em ti sou GlĂłria, Altura e Poesia!
E vejo-me — milagre cheio de graça! —
Dentro de ti, em ti igual a Deus!…

Conduta e Poesia

Quando o tempo nos vai comendo com o seu relĂąmpago quotidiano decisivo, as atitudes fundadas, as confianças, a fĂ© cega se precipitam e a elevação do poeta tende a cair como o mais triste nĂĄcar cuspido, perguntamo-nos se jĂĄ chegou a hora de envilecermos. A hora dolorosa de ver como o homem se sustĂ©m a puro dente, a puras unhas, a puros interesses. E como entram na casa da poesia os dentes e as unhas e os ramos da feroz ĂĄrvore do Ăłdio. É o poder da idade, ou proventura, a inĂ©rcia que faz retroceder as frutas no prĂłprio bordo do coração, ou talvez o «artĂ­stico» se apodere do poeta e, em vez do canto salobro que as ondas profundas devem fazer saltar, vemos cada dia o miserĂĄvel ser humano defendendo o seu miserĂĄvel tesouro de pessoa preferida?
AĂ­, o tempo avança com cinza, com ar e com ĂĄgua! A pedra que o lodo e a angĂșstia morderam floresce com prontidĂŁo com estrondo de mar, e a pequena rosa regressa ao seu delicado tĂșmulo de corola.
O tempo lava e desenvolve, ordena e continua.
E que fica entĂŁo das pequenas podridĂ”es, das pequenas conspiraçÔes do silĂȘncio, dos pequenos frios sujos da hostilidade?

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Teus Olhos

Teus olhos sĂŁo a pĂĄtria do relĂąmpago e da lĂĄgrima,
silĂȘncio que fala,
tempestades sem vento, mar sem ondas,
pĂĄssaros presos, douradas feras adormecidas,
topĂĄzios Ă­mpios como a verdade,
outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro
duma ĂĄrvore e sĂŁo pĂĄssaros todas as folhas,
praia que a manhĂŁ encontra constelada de olhos,
cesta de frutos de fogo,
mentira que alimenta,
espelhos deste mundo, portas do além,
pulsação tranquila do mar ao meio-dia,
universo que estremece,
paisagem solitĂĄria.

Tradução de Luis Pignatelli

O Mar Ă© Longe, mas Somos NĂłs o Vento

O mar Ă© longe, mas somos nĂłs o vento;
e a lembrança que tira, até ser ele,
Ă© doutro e mesmo, Ă© ar da tua boca
onde o silĂȘncio pasce e a noite aceita.
Donde estås, que névoa me perturba
mais que nĂŁo ver os olhos da manhĂŁ
com que tu mesma a vĂȘs e te convĂ©m?
Cabelos, dedos, sal e a longa pele,
onde se escondem a tua vida os dĂĄ;
e Ă© com mĂŁos solenes, fugitivas,
que te recolho viva e me concedo
a hora em que as ondas se confundem
e nada é necessårio ao pé do mar.

Eu penso 99 vezes e nĂŁo descubro a verdade. Paro de pensar, mergulho em em profundo silĂȘncio, e eis que a verdade me Ă© revelada.

Eu acho que nĂłs atĂ© comunicamos muito bem, no nosso silĂȘncio, no que nĂŁo Ă© dito, e que o que ocorre Ă© uma evasĂŁo contĂ­nua, enquanto tentamos desesperadamente manter-nos a nĂłs prĂłprios para nĂłs prĂłprios. A comunicação Ă© muito alarmante. Entrar na vida de outra pessoa Ă© algo assustador. Divulgar aos outros a pobreza que estĂĄ dentro de nĂłs Ă© uma possibilidade muito assustadora.

Em amor um silĂȘncio vale mais do que uma linguagem. É bom ficar sem palavras; hĂĄ uma eloquĂȘncia no silĂȘncio que penetra mais do que a lĂ­ngua o conseguiria.