Passagens sobre SilĂȘncio

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Sobre um Poema

Um poema cresce inseguramente
na confusĂŁo da carne,
sobe ainda sem palavras, sĂł ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo. Fora, a esplĂȘndida violĂȘncia
ou os bagos de uva de onde nascem
as raĂ­zes minĂșsculas do sol.
Fora, os corpos genuĂ­nos e inalterĂĄveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silĂȘncio,
as sementes Ă  beira do vento,
– a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

E jĂĄ nenhum poder destrĂłi o poema.
InsustentĂĄvel, Ășnico,
invade as Ăłrbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.

– Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
– E o poema faz-se contra o tempo e a carne.

SilĂȘncio

Assim como do fundo da mĂșsica
brota uma nota
que enquanto vibra cresce e se adelgaça
atĂ© que noutra mĂșsica emudece,
brota do fundo do silĂȘncio
outro silĂȘncio, aguda torre, espada,
e sobe e cresce e nos suspende
e enquanto sobe caem
recordaçÔes, esperanças,
as pequenas mentiras e as grandes,
e queremos gritar e na garganta
o grito se desvanece:
desembocamos no silĂȘncio
onde os silĂȘncios emudecem.

Tradução de Luis Pignatelli

Aleluia

Se cantas, nasce o dia;
A luz segreda Ă  flor: Ave, Maria!

Tudo Ă© silĂȘncio, espanto,
Quando vaga no Azul o teu encanto…

Passas e deixas no ar
O perfume das rosas de toucar!

Creio em ti, como em Deus;
Viver Ă  tua luz Ă© estar nos CĂ©us!

Verdes enleios de hera
Cingem de amor teu vulto, Ăł Primavera!

Nos perdidos caminhos,
Voam gorjeios, mĂșsicas dos ninhos…

A Terra em névoas de ouro
Ascende a Deus em teu olhar de choro!

Senhora da Harmonia,
Em ti a minha vida principia!

Se voas pela Altura,
Gravas no Azul a tua formosura!

Teu voo Ă© um longo adeus:
O caminho das almas para os CĂ©us…

Longe, saudosa, adejas,
E pairas sobre mim… bendita sejas!

Se Te Pertenço

Se te pertenço, separo-me de mim.
Perco meu passo nos caminhos de terra
E de DionĂ­sio sigo a carne, a ebriedade.
Se te pertenço perco a luz e o nome
E a nitidez do olhar de todos os começos:
O que me parecia um desenho no eterno
Se te pertenço Ă© um acorde ilusĂłrio no silĂȘncio.

E por isso, por perder o mundo
Separo-me de mim. Pelo Absurdo.

Para um poeta, o silĂȘncio Ă© uma resposta aceitĂĄvel, atĂ© mesmo um elogio.

Eu Vi Dos PĂłlos O Gigante Alado

Eu vi dos pĂłlos o gigante alado,
Sobre um montĂŁo de pĂĄlidos coriscos,
Sem fazer caso dos bulcÔes ariscos,
Devorando em silĂȘncio a mĂŁo do fado!

Quatro fatias de tufĂŁo gelado
Figuravam da mesa entre os petiscos;
E, envolto em manto de fatais rabiscos,
Campeava um sofisma ensangĂŒentado!

– “Quem Ă©s, que assim me cercas de episĂłdios?”
Lhe perguntei, com voz de silogismo,
Brandindo um facho de trovÔes seródios.

– “Eu sou” – me disse, – “aquele anacronismo,
Que a vil coorte de sulfĂșreos Ăłdios
Nas trevas sepultei de um solecismo…”

Quem fala de Amor nĂŁo ama verdadeiramente: talvez deseje, talvez possua, talvez esteja realizando uma Ăłptima obra literĂĄria, mas realmente nĂŁo ama; sĂł a conquista do vulgar Ă© pelo vulgar apregoado aos quatro ventos; quando se ama, em silĂȘncio se ama.

Afirmação

A essĂȘncia das coisas Ă© senti-las
tĂŁo densas e tĂŁo claras,
que nĂŁo possam conter-se por completo
nas palavras.

A essĂȘncia das coisas Ă© nutri-las
tĂŁo de alegria e mĂĄgoa,
que o silĂȘncio se ajuste Ă  sua forma
sem mais nada.

Do Fim dos Segredos

Quando se conta a outrem um segredo este
desmaia: a palavra
torna-se pele
sem leĂŁo lĂĄ dentro.

NĂŁo Ă© mais segredo e nĂŁo o sendo
finge ser lembrança
de fabrico imperfeito:
um cliqueti no silĂȘncio escancara

a dantes inamovĂ­vel porta
e virada a pĂĄgina acha-se apenas
uma moeda
que nĂŁo corre jĂĄ.

Medo

Quem dorme Ă  noite comigo?
É meu segredo, Ă© meu segredo!
Mas se insistirem lhes digo.
O medo mora comigo,
Mas sĂł o medo, mas sĂł o medo!

E cedo, porque me embala
Num vaivém de solidão,
É com silĂȘncio que fala,
Com voz de mĂłvel que estala
E nos perturba a razĂŁo.

Que farei quando, deitado,
Fitando o espaço vazio,
Grita no espaço fitado
Que estĂĄ dormindo a meu lado,
LĂĄzaro e frio?

Gritar? Quem pode salvar-me
Do que estĂĄ dentro de mim?
Gostava até de matar-me.
Mas eu sei que ele hĂĄ-de esperar-me
Ao pé da ponte do fim.

Sou companhia, mas posso ser solidĂŁo. Tranquilidade e inconstĂąncia, pedra e coração. Sou abraços, sorrisos, Ăąnimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e sono. MĂșsica alta e silĂȘncio.

O SilĂȘncio

Peço apenas o teu silĂȘncio,
como uma criança pede uma flor
ou um velho pedinte um bocado de pĂŁo.
Um silĂȘncio
onde a tua alma se embrulha, friorenta,
trémula, à aproximação das invernias.
Um silĂȘncio com ressonĂąncias de antigas primaveras,
de outonos descoloridos
e da chuva a cair no negrume da noite.

– VĂĄ, motorista de tĂĄxi,
transporta-me
através das ruas da cidade inextricåvel,
vertiginosamente,
buzinando, buzinando,
abafando o ruĂ­do de um outro silĂȘncio!

SubmissĂŁo

1.

no topo desta escada
tem um chefe
que te olha.
na curva desta estrada
tem um dono
que me manda.

2.

mais desço quando subo,
a cada passo,
se me movo
para cima e para baixo,
mais volto quando ando,
a cada passo,
para frente e para os lados,
na curva desta estrada,
se me curvo
sem mais nada.

3.

no caminho em que caminho
cruzo os braços
a cada passo
e, mudo, avanço
no caminho sem recuo
que me leva
nesta escada,
nesta estrada
a cada curva que me curva
tĂŁo curvada.

4.

a cada passo,
mais tropeço
se começo
nesta dança
sob o peso
desta canga
que jĂĄ levo
sobre os ombros;
sobre os ombros
jĂĄ tĂŁo curvos
jĂĄ tĂŁo duros
no silĂȘncio em que me escondo.

5.

a cada passo, em cada curva
sĂł te vejo tĂŁo curvado,
que dependo da procura procurada
na ida desta volta,

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