Passagens sobre SilĂȘncio

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As mulheres sĂŁo apenas mulheres, choram, arrufam-se ou resignam-se; as que tĂȘm alguma coisa mais do que a debilidade feminina, lutam ou recolhem-se Ă  dignidade do silĂȘncio.

O Paradoxo da Sabedoria

SĂŁo muito raros no gĂ©nero humano os homens verdadeiramente sĂĄbios; o concurso de condiçÔes e circunstĂąncias especiais necessĂĄrio para que os haja, ocorre com tanta dificuldade que nĂŁo deve admirar a sua raridade: demais a sua aparição pouco ou nada aproveita aos outros homens que os desprezam, perseguem ou motejam, incapazes de compreendĂȘ-los, e os obrigam finalmente ao silĂȘncio, retiro e reclusĂŁo.
(…) NĂŁo esperem os homens por, maior que seja o progresso da sua inteligĂȘncia, chegar a conhecer as verdades capitais e primitivas sobre a essĂȘncia e natureza das coisas: mudarĂŁo de erros, fĂĄbulas, hipĂłteses e teorias, mas nunca poderĂŁo alcançar conhecimentos que hajam de mudar a natureza humana, e fazer os homens diversos do que farĂŁo e do que sĂŁo.
O mundo varia aos olhos e nas opiniÔes dos homens, conforme as idades e condiçÔes da vida.

Cerimonial do Amor

Se nĂŁo houver esperanças de que o teu amor seja recebido, o que tens a fazer Ă© nĂŁo o declarar. PoderĂĄ desenvolver-se em ti, num ambiente de silĂȘncio. Esse amor proporciona-te entĂŁo uma direcção que permite aproximares-te, afastares-te, entrares, saĂ­res, encontrares, perderes. Porque tu Ă©s aquele que tem de viver. E nĂŁo hĂĄ vida se nenhum deus te criou linhas de força.
Se o teu amor nĂŁo Ă© recebido, se ele se transforma em sĂșplica vĂŁ como recompensa da tua fidelidade, se nĂŁo tens coração para te calares, nessa altura vai ter com um mĂ©dico para ele te curar. É bom nĂŁo confundir o amor com a escravatura do coração. O amor que pede Ă© belo, mas aquele que suplica Ă© amor de criado.
Se o teu amor esbarra com o absoluto das coisas, se por exemplo tem de franquear a impenetrĂĄvel parede de um mosteiro ou do exĂ­lio, agradece a Deus que ela por hipĂłtese retribua o teu amor, embora na aparĂȘncia se mostre surda e cega. HĂĄ uma lamparina acesa para ti neste mundo. Pouco me importa que tu nĂŁo possas servir-te dela. Aquele que morre no deserto tem a riqueza de uma casa longĂ­nqua, embora morra.

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Meditação

Às vezes, quando a noite vem caindo,
Tranquilamente, sossegadamente,
Encosto-me Ă  janela e vou seguindo
A curva melancĂłlica do Poente.

NĂŁo quero a luz acesa. Na penumbra,
Pensa-se mais e pensa-se melhor.
A luz magoa os olhos e deslumbra,
E eu quero ver em mim, Ăł meu amor!

Para fazer exame de consciĂȘncia
Quero silĂȘncio, paz, recolhimento
Pois sĂł assim, durante a tua ausĂȘncia,
Consigo libertar o pensamento.

Procuro entĂŁo aniquilar em mim,
A nefasta influĂȘncia que domina
Os meus nervos cansados; mas por fim,
Reconheço que amar-te é minha sina.

Longe de ti atrevo-me a pensar
Nesse estranho rigor que me acorrenta:
E tenho a sensação do alto mar,
Numa noite selvagem de tormenta.

Tens no olhar magias de profeta
Que sabe ler no cĂ©u, no mar, nas brasas…
Adivinhas… Serei a borboleta
Que vendo a luz deixa queimar as asas.

No entanto — vĂȘ lĂĄ tu!— Eu nĂŁo lamento
Esta vontade que se impĂ”e Ă  minha…
Nem me revolto… cedo ao encantamento…
— Escrava que não soube ser Rainha!

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Amizade: quando o silĂȘncio a dois nĂŁo se torna incĂŽmodo. Amor: quando o silĂȘncio a dois se torna cĂŽmodo.

A Cautela dos EspĂ­ritos Livres

Os homens de espírito livre, que vivem só para o conhecimento, em breve acharão ter alcançado a sua definitiva posição relativamente à sociedade e ao Estado e, por exemplo, dar-se-ão de bom grado por satisfeitos com um pequeno emprego ou com uma fortuna que chega à justa para viver; pois arranjar-se-ão para viver de maneira que uma grande transformação dos bens materiais, até mesmo um derrube da ordem política, não deite também abaixo a sua vida. Em todas essas coisas eles gastam a menor energia possível, de modo a poderem imergir, com todas as forças reunidas e, por assim dizer, com um grande fÎlego, no elemento do conhecimento. Podem, assim, ter esperança de mergulhar profundamente e também de, talvez, verem bem até ao fundo.
De um dado acontecimento, um tal espĂ­rito pegarĂĄ de bom grado sĂł numa ponta: ele nĂŁo gosta das coisas em toda a sua amplitude e superabundĂąncia das suas pregas, pois nĂŁo se quer emaranhar nelas. TambĂ©m ele conhece os dias de semana da falta de liberdade, da dependĂȘncia, da servidĂŁo. Mas, de tempos a tempos, tem de lhe aparecer um domingo de liberdade, senĂŁo ele nĂŁo suportarĂĄ a vida. É provĂĄvel que mesmo o seu amor pelos seres humanos seja cauteloso e com pouco fĂŽlego,

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Soneto para Greta Garbo

(Em louvor da decadĂȘncia bem comportada)

Entre silĂȘncio e sombra se devora
e em longínquas lembranças se consome;
tĂŁo longe que esqueceu o prĂłprio nome
e talvez jĂĄ nem saiba porque chora.

Perdido o encanto de esperar agora
o antigo deslumbrar que jĂĄ nĂŁo cabe,
transforma-se em silĂȘncio, porque sabe
que o silĂȘncio se oculta e se evapora.

Esquiva e só como convém a um dia
despregado do tempo, esconde a face
que jĂĄ foi sol e agora Ă© cinza fria.

Mas vĂȘ nascer da sombra outra alegria:
como se o olhar magoado contemplasse
o mundo em que viveu, mas que nĂŁo via.

Funchal

O restaurante do peixe na praia, uma simples barraca, construĂ­da por nĂĄufragos.

Muitos, chegados à porta, voltam para trås, mas não assim as rajadas de vento do mar. Uma sombra encontra-se num cubículo fumarento e assa dois peixes, segundo uma antiga receita da Atlùntida, pequenas explosÔes de alho.

O Ăłleo flui sobre as rodelas do tomate. Cada dentada diz que o oceano nos quer bem, um zunido das profundezas.

Ela e eu: olhamos um para o outro. Assim como se trepĂĄssemos as agrestes colinas floridas, sem qualquer cansaço. Encontramo-nos do lado dos animais, bem-vindos, nĂŁo envelhecemos. Mas jĂĄ suportĂĄmos tantas coisas juntos, lembramo-nos disso, horas em que tambĂ©m de pouco ou nada servĂ­amos ( por exemplo, quando esperĂĄvamos na bicha para doar o sangue saudĂĄvel – ele tinha prescrito uma transfusĂŁo). Acontecimentos, que nos podiam ter separado, se nĂŁo nos tivĂ©ssemos unido, e acontecimentos que, lado a lado, esquecemos – mas eles nĂŁo nos esqueceram!

Eles tornaram-se pedras, pedras claras e escuras, pedras de um mosaico desordenado.

E agora aconteceu: os cacos voam todos na mesma direcção, o mosaico nasce.

Ele espera por nĂłs. Do cimo da parede,

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Chuva

Chuva, caindo tĂŁo mansa,
Na paisagem do momento,
Trazes mais esta lembrança
De profundo isolamento.

Chuva, caindo em silĂȘncio
Na tarde, sem claridade…
A meu sonhar d’hoje, vence-o
Uma infinita saudade.

Chuva, caindo tĂŁo mansa,
Em branda serenidade.
Hoje minh’alma descansa.
— Que perfeita intimidade!…

CastelĂŁ da Tristeza

Altiva e couraçada de desdém,
Vivo sozinha em meu castelo: a Dor!
Passa por ele a luz de todo o amor …
E nunca em meu castelo entrou alguém!

CastelĂŁ da Tristeza, vĂȘs? … A quem? …
– E o meu olhar Ă© interrogador –
Perscruto, ao longe, as sombras do sol-pĂŽr …
Chora o silĂȘncio … nada … ninguĂ©m vem …

CastelĂŁ da Tristeza, porque choras
Lendo, toda de branco, um livro de horas,
À sombra rendilhada dos vitrais? …

À noite, debruçada, plas ameias,
Porque rezas baixinho? … Porque anseias? …
Que sonho afagam tuas mĂŁos reais? …

Conselhos de Vida

1 – Faça o menos possĂ­vel de confidĂȘncias. Melhor nĂŁo as fazer, mas, se fizer alguma, faça com que sejam falsas ou vagas.
2 – Sonhe tĂŁo pouco quanto possĂ­vel, excepto quando o objectivo directo do sonho seja um poema ou produto literĂĄrio. Estude e trabalhe.
3 – Tente e seja tĂŁo sĂłbrio quanto possĂ­vel, antecipando a sobriedade do corpo com a sobriedade do espĂ­rito.
4 – Seja agradĂĄvel apenas para agradar, e nĂŁo para abrir a sua mente ou discutir abertamente com aqueles que estĂŁo presos Ă  vida interior do espĂ­rito.
5 – Cultive a concentração, tempere a vontade, torne-se uma força ao pensar de forma tĂŁo pessoal quanto possĂ­vel, que na realidade vocĂȘ Ă© uma força.
6 – Considere quĂŁo poucos sĂŁo os amigos reais que tem, porque poucas pessoas estĂŁo aptas a serem amigas de alguĂ©m. Tente seduzir pelo conteĂșdo do seu silĂȘncio.
7 – Aprenda a ser expedito nas pequenas coisas, nas coisas usuais da vida mundana, da vida em casa, de maneira que elas nĂŁo o afastem de vocĂȘ.
8 – Organize a sua vida como um trabalho literĂĄrio, tornando-a tĂŁo Ășnica quanto possĂ­vel.

A vida Ă© puro ruĂ­do entre dois silĂȘncios abismais. SilĂȘncio antes de nascer, silĂȘncio apĂłs a morte.

PrudĂȘncia Ă© o Saber Acomodar

Espaçosa esfera Ă© a do entendimento para discorrer por todos os objectos, e contudo tem seus intervalos em que acha comodidades o corpo: nĂŁo descansa este no silĂȘncio da noite, sem que aquele se esconda no mais interior da alma. Ainda o discorrer demasiado, dando voltas ao entendimento, Ă© arriscar a que dĂȘ o entendimento uma volta; e como Ă© arriscado o discorrer sem termo, nĂŁo Ă© o menos perigoso o luzir sem pausa. Seus intervalos hĂŁo-de ter os luzimentos grandes, e nem por isso deixarĂŁo de ser lĂșcidos intervalos, quando o saber acomodar Ă© para melhor luzir; por isso o Sol Ă© o melhor dos planetas, porque sabe acomodar suas luzes Ă  dureza do diamante, como Ă  brandura da cera; e os mesmos raios que infundem a dureza no bronze, se acomodam aos melindres de uma flor. PrudĂȘncia Ă© o saber acomodar, para melhor luzir e viver.
Brilhar com demasiado luzimento nas acçÔes, mais estorva os aplausos do que os granjeia; porque, na opinião de Séneca, não sabem os homens aplaudir senão aquilo que só podem imitar. Com ser a luz do Sol o mais agradåvel objecto à vista, contudo, se é grande o excesso de seus ardores,

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fingir que estĂĄ tudo bem

fingir que estĂĄ tudo bem: o corpo rasgado e vestido
com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro
do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir
que estĂĄ tudo bem: olhas-me e sĂł tu sabes: na rua onde
os nossos olhares se encontram Ă© noite: as pessoas
nĂŁo imaginam: sĂŁo tĂŁo ridĂ­culas as pessoas, tĂŁo
desprezĂ­veis: as pessoas falam e nĂŁo imaginam: nĂłs
olhamo-nos: fingir que estĂĄ tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos lĂĄbios a sorrir: serĂĄ que vou morrer?, pergunto
dentro de mim: serĂĄ que vou morrer? olhas-me e sĂł tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silĂȘncio e chuva que nĂŁo se pode dizer:
amor e morte: fingir que estĂĄ tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que nos queima, um incĂȘndio que nos afoga.