Passagens sobre SilĂȘncio

845 resultados
Frases sobre silĂȘncio, poemas sobre silĂȘncio e outras passagens sobre silĂȘncio para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Dar Ă© Viver

DĂĄ-te.

Dar Ă© viver.

NinguĂ©m, por muito pouco que receba, viverĂĄ em alegria se nĂŁo der nada a ninguĂ©m. DĂĄ-se um sorriso, uma mĂŁo, um beijo, um abraço, um conselho, uma ideia, uma palavra, uma hora, duas ou trĂȘs, de silĂȘncio ou de ouvidos em alerta para o outro poder desabafar, chorar ou libertar-se. DĂĄ-se boleia, dĂŁo-se sugestĂ”es, brinca-se, dĂĄ-se o corpo, dĂĄ-se prazer, dĂŁo-se pistas, dĂĄ-se tanta coisa. Tanta coisa que custa zero mas vale tanto. E quanto mais dermos de nĂłs, mais recebemos. Nem sempre daqueles a quem damos, Ă© um facto, faz parte da experiĂȘncia de aprender a lidar com a expectativa, o apego e a cobrança, mas se dermos de coração, e sĂł porque nos faz sentir bem, recebemos sempre e quase sempre de onde menos esperamos.

Quando somos incondicionais podemos ser surpreendidos a qualquer momento.

É tĂŁo bom. Sabe tĂŁo bem. Dar e nunca saber de onde podemos vir a receber. Torna os dias surpreendentes. A vida agiganta-se. Acaba-se a agonia do «tem de ser» e de repente Ă© tudo novidade. É como dizer «Amo-te» a alguĂ©m que amo, e porque o senti naquele instante, e nĂŁo ficar Ă  espera de ouvir o mesmo dessa pessoa no segundo a seguir.

Continue lendo…

Cultivar a Felicidade

Desde os primórdios da humanidade, que o ser humano procura a felicidade como a terra seca clama pela água. É fácil conquistá-la? Nem sempre! Os poetas homenagearam-na, os romancistas descreveram-na, os filósofos contemplaram-na, mas grande parte deles saudaram-na apenas de longe.
Os reis tentaram dominĂĄ-la, mas ela nĂŁo se submeteu ao poder deles. Os ricos tentaram comprĂĄ-la, mas ela nĂŁo se deixou vender. Os intelectuais tentaram compreendĂȘ-la, mas ela confundiu-os. Os famosos tentaram fascinĂĄ-la, mas ela contou-lhes que preferia o anonimato. Os jovens disseram que ela lhes pertencia, mas ela disse-lhes que nĂŁo se encontrava no prazer imediato, nem se deixava encontrar pelos que nĂŁo pensavam nas consequĂȘncias dos seus atos.
Alguns acreditaram que poderiam cultivĂĄ-la em laboratĂłrio. Isolaram-se do mundo e dos problemas da vida, mas a felicidade enviou um claro recado a dizer que ela apreciava o cheiro das pessoas e crescia no meio das dificuldades.
Outros tentaram cultivĂĄ-la com os avanços da ciĂȘncia e da tecnologia, mas eis que a ciĂȘncia e a tecnologia se multiplicaram e a tristeza e as mazelas da alma se expandiram.

Desesperados, muitos tentaram encontrar a felicidade em todos os cantos do mundo. Mas no espaço ela não estava,

Continue lendo…

Um Dia Te AcharĂĄs

Um dia te acharĂĄs
sem inteirar a casa:
ouvirĂĄs o marido ressonando,
os filhos dormindo em calma

O espelho te acenarĂĄ,
te lembrarĂĄ coisas da mocidade,
coisas da meninice,
te mostrarĂĄ vindas algumas rugas;
contemplarĂĄs o espelho,
o quarto, a casa;
perguntarĂĄs por ti mesma,
pelo teu prĂłprio destino
— e o espelho farĂĄ silĂȘncio:
serĂĄ o sinal de estares acordando.

no obscuro desejo

no obscuro desejo,
no incerto silĂȘncio,
nos vagares repetidos,
na sĂșbita canção

que nasce como a sombra
do dia agonizante,
quando empalidece
o exterior das coisas,

e quando nĂŁo se sabe
se por dentro adormecem
ou vacilam, e quando
se prefere nĂŁo chegar

a sabĂȘ-lo, a nĂŁo ser,
pressentindo-as, ainda
um momento, na aresta
indizĂ­vel do lusco-fusco.

O Amor nĂŁo se Promete

HĂĄ uma distĂąncia fundamental entre as palavras e os gestos de cada homem. As palavras prometem mundos, os gestos constroem-nos. As palavras esclarecem pouco, os gestos definem quase tudo.

O amor Ă© um projeto, uma construção que necessita de ser realizada a cada dia. Sem grandes discursos. Qualquer hora Ă© tempo de amar. Se o amor Ă© verdadeiro, nĂŁo hĂĄ tempos de descanso, porque o silĂȘncio no coração dos que buscam lutar contra as trevas dos egoĂ­smos Ă© a paz mais profunda e o maior descanso… ainda que se cravem espinhos na carne, ainda que nĂŁo sarem as feridas antigas, ainda que a esperança tenha pouco mais onde se apoiar do que nela prĂłpria.

Cada um de nĂłs Ă© aquilo que for capaz de ir construindo de firme e duradouro a cada dia por entre todas as tempestades da vida.
HĂĄ muito quem sonhe e passe o tempo a desejar o que nĂŁo Ă©… esperam e desesperam por algo que lhes hĂĄ de chegar de fora… rejeitando quase tudo quanto sĂŁo, quando, na verdade, Ă© com o que temos e somos que devemos ser felizes, por pouco e por pior que seja… somos nĂłs. Mas nĂłs nĂŁo somos quem somos sĂł para nĂłs mesmos.

Continue lendo…

Requiem para um Defunto Vulgar

Antoninho morreu. Seu corpo resignado
Ă© como um rio incolor, regressando Ă  nascente
num silĂȘncio de espanto e mistĂ©rio revelado.
EstĂĄ ali – estando ausente.

Jaz de corpo inteiro e fato preto.
Ele, da cabeça aos pés,
trivial e completo,
eståtua de proa e moço de convés.

Jaz como se dormisse (pelo menos
Ă© o que dizem as velhas carpideiras).
Jaz imĂłvel, sem gestos, sem acenos.
Jaz morto de todas as maneiras.

Jaz morto de cansaço, de pobreza, de fome
(sobretudo, de fome). Jaz morto sem remédio.
É apenas, sobre um papel azul, um nome.
De ser mais qualquer coisa, a morte impede-o.

Jaz alheio a tudo Ă  sua volta,
Ă  grita dos parentes, companheiros,
como um cavalo à rédea solta
ou no mar largo, os rĂĄpidos veleiros.

Jaz inĂștil, feio, pesado,
a colcha de crochet aconchega-o na cama.
Nunca esteve tĂŁo quente e animado.
Nunca foi tĂŁo menino de mama.

Os filhos olham-no e fazem contas cuidadosas:
padre, enterro, velĂłrio, certidĂŁo
de Ăłbito… E discutem, com manhas de raposas,

Continue lendo…

O ar nĂŁo Ă© silencioso? O vento nĂŁo faz barulho? E que Ă© o vento senĂŁo ar? A mĂșsica Ă© o silĂȘncio em movimento.

Orientar Filosoficamente a Vida

A Ăąnsia de uma orientação filosĂłfica da vida nasce da obscuridade em que cada um se encontra, do desamparo que sente quando, em carĂȘncia de amor, fica o vazio, do esquecimento de si quando, devorado pelo afadigamento, sĂșbito acorda assustado e pergunta: que sou eu, que estou descurando, que deverei fazer?
O auto-esquecimento Ă© fomentado pelo mundo da tĂ©cnica. Pautado pelo cronĂłmetro, dividido em trabalhos absorventes ou esgotantes que cada vez menos satisfazem o homem enquanto homem, leva-o ao extremo de se sentir peça imĂłvel e insubstituivel de um maquinismo de tal modo que, liberto da engrenagem, nada Ă© e nĂŁo sabe o que hĂĄ-de fazer de si. E, mal começa a tomar consciĂȘncia, logo esse colosso o arrasta novamente para a voragem do trabalho inane e da inane distracção das horas de Ăłcio.
Porém, o pendor para o auto-esquecimento é inerente à condição humana. O homem precisa de se arrancar a si próprio para não se perder no mundo e em håbitos, em irreflectidas trivialidades e rotinas fixas.
Filosofar é decidirmo-nos a despertar em nós a origem, é reencontrarmo-nos e agir, ajudando-nos a nós próprios com todas as forças.
Na verdade a existĂȘncia Ă© o que palpavelmente estĂĄ em primeiro lugar: as tarefas materiais que nos submetem Ă s exigĂȘncias do dia-a-dia.

Continue lendo…

A Um GĂ©rmen

Começaste a existir, geléia crua,
E hĂĄs de crescer, no teu silĂȘncio, tanto
Que, Ă© natural, ainda algum dia, o pranto
Das tuas concreçÔes plåsmicas flua!

A ågua, em conjugação com a terra nua,
Vence o granito, deprimindo-o … O espanto
Convulsiona os espĂ­ritos, e, entanto,
Teu desenvolvimento continua!

Antes, geléia humana, não progridas
E em retrogradaçÔes indefinidas,
Volvas Ă  antiga inexistĂȘncia calma!…

Antes o Nada, oh! gérmen, que ainda haveres
De atingir, como o gérmen de outros seres,
Ao supremo infortĂșnio de ser alma!

Andamos Ă  procura de quĂȘ? A resposta Ă© dada a cada um de nĂłs, de acordo com o caminho que formos construindo com as nossas mĂŁos e percorrendo com os nossos pĂ©s. A resposta estĂĄ no fundo do nosso coração. LĂĄ onde apenas se pode escutar o silĂȘncio e a verdade.

ReticĂȘncias

Arrumar a vida, pÎr prateleiras na vontade e na acção.
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado;
Mas que bom ter o propĂłsito claro, firme sĂł na clareza, de fazer qualquer coisa!
Vou fazer as malas para o Definitivo,
Organizar Álvaro de Campos,
E amanhĂŁ ficar na mesma coisa que antes de ontem — um antes de ontem que Ă© sempre…
Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei.
Sorrio ao menos; sempre Ă© alguma coisa o sorrir…
Produtos romĂąnticos, nĂłs todos…
E se nĂŁo fĂŽssemos produtos romĂąnticos, se calhar nĂŁo serĂ­amos nada.
Assim se faz a literatura…
Santos Deuses, assim até se faz a vida!
Os outros também são romùnticos,
Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres,
Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar,
Os outros também dormem ao lado dos papéis meio compostos,
Os outros também são eu.
Vendedeira da rua cantando o teu pregĂŁo como um hino inconsciente,
Rodinha dentada na relojoaria da economia polĂ­tica,
Mãe, presente ou futura, de mortos no descascar dos Impérios,

Continue lendo…

Pergunto-me por que o uivar de lobos, os trovĂ”es, os raios constituem o pano de fundo para as cenas de horror. Pois, quando o medo Ă© muito, faz-se um silĂȘncio na alma. E nada mais existe.

O Interior da Alma

O olho do espírito em parte nenhuma pode encontrar mais deslumbramentos, nem mais trevas, do que no homem, nem fixar-se em coisa nenhuma, que seja mais temível, complicada, misteriosa e infinita. Hå um espectåculo mais solene do que o mar, é o céu; e hå outro mais solene do que o céu, é o interior da alma.
Fazer o poema da consciĂȘncia humana, mas que nĂŁo fosse senĂŁo a respeito de um sĂł homem, e ainda nos homens o mais Ă­nfimo, seria fundir todas as epopeias numa epopeia superior e definitiva. A consciĂȘncia Ă© o caos das quimeras, das ambiçÔes e das tentativas, o cadinho dos sonhos, o antro das ideias vergonhosas: Ă© o pandemĂłnio dos sofismas, Ă© o campo de batalha das paixĂ”es. Penetrai, a certas horas, atravĂ©s da face lĂ­vida de um ser humano, e olhai por trĂĄs dela, olhai nessa alma, olhai nessa obscuridade. HĂĄ ali, sob a superfĂ­cie lĂ­mpida do silĂȘncio exterior, combates de gigante como em Homero, brigas de dragĂ”es e hidras, e nuvens de fantasmas, como em Milton, espirais visionĂĄrias como em Dante.

Como uma Voz de Fonte que Cessasse

Como uma voz de fonte que cessasse
(E uns para os outros nossos vĂŁos olhares
Se admiraram), p’ra alĂ©m dos meus palmares
De sonho, a voz que do meu tédio nasce

Parou… Apareceu jĂĄ sem disfarce
De mĂșsica longĂ­nqua, asas nos ares,
O mistério silente como os mares,
Quando morreu o vento e a calma pasce…

A paisagem longĂ­nqua sĂł existe
Para haver nela um silĂȘncio em descida
P’ra o mistĂ©rio, silĂȘncio a que a hora assiste…

E, perto ou longe, grande lago mudo,
O mundo, o informe mundo onde hĂĄ a vida…
E Deus, a Grande Ogiva ao fim de tudo…

Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
MĂŁos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim serĂĄ nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois tĂșmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silĂȘncio.
NĂŁo hĂĄ muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos coraçÔes
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos…
Hoje a noite Ă© jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Ode ao Gato

Tu e eu temos de permeio
a rebeldia que desassossega,
a matéria compulsiva dos sentidos.
Que ninguém nos dome,
que ninguém tente
reduzir-nos ao silĂȘncio branco da cinza,
pois nĂłs temos fĂŽlegos largos
de vento e de névoa
para de novo nos erguermos
e, sobre o desconsolo dos escombros,
formarmos o salto
que leva Ă  glĂłria ou Ă  morte,
conforme a harmonia dos astros
e a regra elementar do destino.