Passagens sobre SilĂȘncio

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Aqui jaz um grande poeta. Nada deixou escrito. Este silĂȘncio, acredito, sĂŁo suas obras completas.

O SilĂȘncio nĂŁo Existe

O silĂȘncio nĂŁo existe porque Ă© o constante rumor de uma inexistĂȘncia. O que se ouve, para alĂ©m do movimento da cidade, Ă© o monĂłtono murmĂșrio do nada. Apenas sombra de nada, quem nele procura um apelo ou uma resposta nĂŁo os encontra ou encontra um sinal negativo. Nada diz esse murmĂșrio nulo, que Ă© o eco inalterĂĄvel do vazio do mundo, mas quem o ouve sente a radicalidade da sua negação como se a cada momento nos dissesse: NĂŁo hĂĄ.

Chove. HĂĄ SilĂȘncio

Chove. HĂĄ silĂȘncio, porque a mesma chuva
NĂŁo faz ruĂ­do senĂŁo com sossego.
Chove. O cĂ©u dorme. Quando a alma Ă© viĂșva
Do que nĂŁo sabe, o sentimento Ă© cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego…

TĂŁo calma Ă© a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que nĂŁo Ă© chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece…

Não paira vento, não hå céu que eu sinta.
Chove longĂ­nqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente…

Vertentes

As palavras esperam o sono
e a mĂșsica do sangue sobre as pedras corre
a primeira treva surge
o primeiro nĂŁo a primeira quebra

A terra em teus braços é grande
o teu centro desenvolve-se como um ouvido
a noite cresce uma estrela vive
uma respiração na sombra o calor das årvores

HĂĄ um olhar que entra pelas paredes da terra
sem lĂąmpadas cresce esta luz de sombra
começo a entender o silĂȘncio sem tempo
a torre extĂĄtica que se alarga

A plenitude animal Ă© o interior de uma boca
um grande orvalho puro como um olhar

Deslizo no teu dorso sou a mĂŁo do teu seio
sou o teu lĂĄbio e a coxa da tua coxa
sou nos teus dedos toda a redondez do meu corpo
sou a sombra que conhece a luz que a submerge

A luz que sobe entre
as gargantas agrestes
deste cair na treva
abre as vertentes onde
a ĂĄgua cai sem tempo

Sei que nunca terei o que procuro E que nem sei buscar o que desejo, Mas busco, insciente, no silĂȘncio escuro E pasmo do que sei que nĂŁo almejo.

Adormecer

O barco parte em silĂȘncio
a alma Ă© aventura
navegar
sem cartas          sem rumo
e desta viagem nocturna
que notĂ­cias nĂŁo direi sequer a mim
[mesmo?

Vida verdadeira Ă© como a ĂĄgua: em silĂȘncio se adapta ao nĂ­vel inferior, que os homens desprezam.

Viver o Hoje

Nunca a vida foi tĂŁo actual como hoje: por um triz Ă© o futuro. Tempo para mim significa a desagregação da matĂ©ria. O apodrecimento do que Ă© orgĂąnico como se o tempo tivesse como um verme dentro de um fruto e fosse roubando a este fruto toda a sua polpa. O tempo nĂŁo existe. O que chamamos de tempo Ă© o movimento de evolução das coisas, mas o tempo em si nĂŁo existe. Ou existe imutĂĄvel e nele nos transladamos. O tempo passa depressa demais e a vida Ă© tĂŁo curta. EntĂŁo — para que eu nĂŁo seja engolido pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa — eu cultivo um certo tĂ©dio. Degusto assim cada detestĂĄvel minuto. E cultivo tambĂ©m o vazio silĂȘncio da eternidade da espĂ©cie. Quero viver muitos minutos num sĂł minuto. Quero me multiplicar para poder abranger atĂ© ĂĄreas desĂ©rticas que dĂŁo a idĂ©ia de imobilidade eterna. Na eternidade nĂŁo existe o tempo. Noite e dia sĂŁo contrĂĄrios porque sĂŁo o tempo e o tempo nĂŁo se divide. De agora em diante o tempo vai ser sempre atual. Hoje Ă© hoje. Espanto-me ao mesmo tempo desconfiado por tanto me ser dado.

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Hora MĂ­stica

Noite caindo … CĂ©u de fogo e flores.
Voz de CrepĂșsculo exalando cores,
O céu vai cheio de Deus e de harmonia.
SilĂȘncio … Eis-me rezando aos fins do dia.

Névoa de luz criando imagens na ågua,
Nome das åguas esculpindo os céus,
Tarde aos relevos hĂșmidos de frĂĄgua,
Boca da noite, eis-me rezando a Deus.

Eis-me entoando, a voz de cinza e ouro,
— Oh, cores na água vindo às mãos em branco! —
Minha Ăłpera de Sol ao Ășltimo arranco.

E, oh! hora mĂ­stica em que o olhar abraso,
— Sol expirando aos Pórticos do Ocaso! —
Dobra em meu peito um oceano em coro.

Ser Dos Seres

No teu ser de silĂȘncio e d’esperança
A doce luz das AmplidÔes flameja.
Ele sente, ele aspira, ele deseja
A grande zona da imortal Bonança.

Pelos largos espaços se balança
Como a estrela infinita que dardeja,
Sempre isento da Treva que troveja
O clamor inflamado da Vingança.

Por entre enlevos e deslumbramentos
Entra na Força astral dos Sentimentos
E do Poder nos mĂĄgicos poderes.

E traz, embora os íntimos cansaços,
Ânsias secretas para abrir os braços
Na generosa comunhĂŁo dos Seres!

Faço perguntas Ă s minhas prĂłprias dĂșvidas e lembro-me de um filme antigo quando percebo que nĂŁo respondem: silĂȘncio a preto e branco.

LV

Em profundo silĂȘncio jĂĄ descansa
Todo o mortal; e a minha triste idéia
Se estende, se dilata, se recreia
Pelo espaçoso campo da lembrança.

Fatiga-se, prossegue, em vĂŁo se cansa;
E neste vĂĄrio giro, em que se enleia,
Ao duvidoso passo jĂĄ receia,
Que lhe possa faltar a segurança.

Que diferente tudo estĂĄ notando!
Que perplexo as imagens do perdido
Num e noutro despojo vem achando!

Este nĂŁo Ă© o templo (eu o duvido)
Assim o afirma, assim o estĂĄ mostrando:
Ou morreu Nise, ou este nĂŁo Ă© Fido.

O que se Ă© Vem Ă  Flor?

“NĂŁo, nĂŁo digas nada” Fernando Pessoa

Melhor seria nĂŁo dizer-te nada
jĂĄ que as palavras se frustram, Pessoa
– ai! onde as pĂĄs sutis e as virgens lavras
do ver de terna fala entre as criaturas?
JĂĄ que as palavras nos frustram, pessoas
perdidas no universo das palavras
– ai tempos de durames sem ternuras! –
melhor seria nĂŁo dizer-te nada.
Calo. Do teu silĂȘncio aflora a fala
desse verde essencial – cerne, mensagem,
viva raiz-mistério da linguagem.
Na força de não ter dito o que mais cala.

A Morte que Trazemos no Coração

É no coração que morremos. É aí que a morte habita.

Nem sempre nos damos conta que a carregamos connosco, mas, desde que somos vida, ela segue-nos de perto. Enquanto nĂŁo somos tomados pela nossa, vamos assistindo e sentindo, em ritmo crescente ao longo da vida, Ă s mortes de quem nos Ă© querido. A morte de um amigo Ă© como uma amputação: perdemos uma parte de nĂłs; uma fonte de amor; alguĂ©m que dava sentido Ă  nossa existĂȘncia… porque despertava o amor em nĂłs.

Mas não hå sabedoria alguma, cultura ou religião, que não parta do princípio de que a realidade é composta por dois mundos: um, a que temos acesso direto e, outro, que não passa pelos sentidos, a ele se chega através do coração. Contudo, o visível e o invisível misturam-se de forma misteriosa, ao ponto de se confundirem e, como alguns chegam a compreender, não serem jå dois mundos, mas um só.
Só as pessoas que amamos morrem. Só a sua morte é absoluta separação. Os estranhos, com vidas com as quais não nos cruzamos, não morrem, porque, para nós, de facto, não chegam sequer a ser.

SĂł as pessoas que amamos nĂŁo morrem.

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