Passagens sobre SilĂȘncio

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HĂĄ momentos na vida, em que se deveria calar e deixar que o silĂȘncio falasse ao coração, pois hĂĄ emoçÔes que as palavras nĂŁo sabem traduzir!

Eu sei que o silĂȘncio muitas vezes tira a vontade de alguĂ©m ouvir uma palavra, mas tem hora que as palavras doem mais do que o silĂȘncio.

Beijos No Ar

No silĂȘncio da noite, alta e deserta,
inebriante, férvido sintoma,
uma fragrĂąncia feminina assoma
e tentadoramente me desperta.

Entrou-me, em ondas, a janela aberta,
como se se quebrara uma redoma,
da qual fugira o delirante aroma,
que o mistério do amor assim me oferta.

De que dama-da-noite ou jasmineiro,
de que magnĂłlia em flor, em fevereiro,
se exala esse cĂĄlido desejo?

Ela sonha comigo: esse perfume
vem da sua saudade, que presume,
embora em sonho, ter-me dado um beijo!

SilĂȘncio, Nostalgia…

SilĂȘncio, nostalgia…
Hora morta, desfolhada,
sem dor, sem alegria,
pelo tempo abandonada.

Luz de Outono, fria, fria…
Hora inĂștil e sombria
de abandono.
Não sei se é tédio, sono,
silĂȘncio ou nostalgia.

InterminĂĄvel dia
de indizíveis cansaços,
de funda melancolia.
Sem rumo para os meus passos,
para que servem meus braços,
nesta hora fria, fria?

Descansa do som no silĂȘncio, e do silĂȘncio digna-te tornar ao som. Sozinho, se souberes estar sĂł, deixa-te ir por vezes atĂ© Ă  multidĂŁo.

Nihil Novum

Na penumbra do pĂłrtico encantado
De bruges, noutras eras, jĂĄ vivi;
Vi os templos do Egipto com Loti;
Lancei flores, na Índia, ao rio sagrado.

No horizonte de bruma opalizado,
Frente ao BĂłsforo errei, pensando em ti!…
O silĂȘncio dos claustros conheci
Pelos poentes de nĂĄcar e brocado…

Mordi as rosas brancas de IspaĂŁ
E o gosto a cinza em todas era igual!
Sempre a charneca bĂĄrbara e deserta,

Triste, a florir, numa ansiedade vĂŁ!
Sempre da vida — o mesmo estranho mal,
E o coração — a mesma chaga aberta!

Acreditei que Podia Dar-te um CĂ©u para Brincares

Filho. Gostava que houvesse uma aragem qualquer que me explicasse esse teu sorriso e outra que te explicasse, sem te magoar, o meu silĂȘncio. Gostava de aprender o trejeito dos teus lĂĄbios, a maneira dos teus olhos, e to lembrar quando tivesses a minha idade. Fui um dia a tua inocĂȘncia. E dela ficou-me a grande inocĂȘncia de acreditar.
Acreditei que podia dar-te um céu para brincares e que a vida seria o que nós quiséssemos. Assim. Bastaria querermos, esforçarmo-nos muito, trabalharmos, e teríamos então o que desejåssemos. Não digo coisas majestosas, roupas bonitas ou charretes, mas comida, comida gostosa e bem temperada, e um cavalo de cartão novo, se por acaso esquecesses o teu no quintal numa noite de chuva. Acreditei que a felicidade dos teus olhos a sorrir podia voltar aos olhos da tua mãe, aos meus e perdurar intocada nos teus. Acreditei em tantas coisas. Sabes, aproximo-me da vila e o que me espera é morrer um pouco mais. Preferia que não o soubesses, mas infelizmente nem isso posso esconder-te, porque um dia, quando te contarem a história da tua vida, dir-te-ão que numa noite de estrelas, o teu pai foi à vila e levou uma sova;

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As ĂĄguias deixam que os passarinhos cantem, sem nenhuma preocupação com o seu trinado alegre, certas de que com a sombra das suas asas poderĂŁo reduzi-los ao silĂȘncio.

Morte

Num imenso salĂŁo, alto e rotundo,
De caveiras iguais, ossos sem dono,
Perpétua habitação de eterno sono
Que tem por tecto o CĂ©u, por base o mundo:

Bem no meio, em silĂȘncio o mais profundo,
Se levanta da Morte o fatal trono:
Ceptros sem rei, arados sem colono,
SĂŁo os degraus do sĂłlio furibundo.

Lanças, arneses pelo chão, quebrados,
Murchas grinaldas, bĂĄculos partidos,
Liras de vates, pastoris cajados,

Algemas, ferros e brasÔes luzidos,
No terrĂ­vel salĂŁo sĂŁo misturados,
No palĂĄcio da Morte confundidos.

TĂŁo Grande Dor

“TĂŁo grande dor para tĂŁo pequeno povo” palavras de um timorense Ă  RTP
Timor fragilĂ­ssimo e distante
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha

“SĂąndalo flor bĂșfalo montanha
Cantos danças ritos
E a pureza dos gestos ancestrais”

Em frente ao pasmo atento das crianças
Assim contava o poeta Rui Cinatti
Sentado no chĂŁo
Naquela noite em que voltara da viagem

Timor
Dever que nĂŁo foi cumprido e que por isso dĂłi

Depois vieram notĂ­cias desgarradas
Raras e confusas
ViolĂȘncias mortes crueldade
E anos apĂłs ano
Ia crescendo sempre a atrocidade
E dia a dia – espanto prodĂ­gio assombro –
Cresceu a valentia
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha

Timor cercado por um bruto silĂȘncio
Mais pesado e mais espesso do que o muro
De Berlim que foi sempre falado
Porque nĂŁo era um muro mas um cerco
Que por segundo cerco era cercado

O cerco da surdez dos consumistas
TĂŁo cheios de jornais e de notĂ­cias

Mas como se fosse o milagre pedido
Pelo rio da prece ao som das balas
As imagens do massacre foram salvas
As imagens romperam os cercos do silĂȘncio
Irromperam nos Ă©crans e os surdos viram
A evidĂȘncia nua das imagens

A Subfelicidade

O que mais dĂłi nĂŁo Ă© – desengana-te – a infelicidade. A infelicidade dĂłi. Magoa. Martiriza. É intensa; faz gritar, sofrer, saltar, chorar. Mas a infelicidade nĂŁo Ă© o que mais dĂłi. A infelicidade Ă© infeliz – mas nĂŁo Ă© o que mais dĂłi.

O que mais dĂłi Ă© a subfelicidade. A felicidade mais ou menos, a felicidade que nĂŁo se faz felicidade, que fica sempre a meio de se ser. A quase felicidade. A subfelicidade nĂŁo magoa – vai magoando; a subfelicidade nĂŁo martiriza – vai martirizando. NĂŁo Ă© intensa – mas Ă© imensa; faz gritar, sofrer, saltar, chorar – mas em silĂȘncio, em surdina, em anonimato. Como se nĂŁo fosse. Mas Ă©: a subfelicidade Ă©. A subfelicidade faz-te ficar refĂ©m do que tens – mas nem assim te impede de te sentires apeado do que nĂŁo tens e gostarias de ter. Do que estĂĄ ali, sempre ali, sempre Ă  mĂŁo de semear – e que, mesmo assim, nunca consegues tocar. A subfelicidade Ă© o piso -1 da felicidade. E nĂŁo hĂĄ elevador algum que te leve a subir de piso. Tens de ser tu a pegar nas tuas perninhas e a subir as escadas. Anda daĂ­.

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A Idade

Ao princípio, era a doença de ser, pura e simples
exaltação das trevas de que a casa era a luz do mundo.
Ao princĂ­pio, estava o amor oculto no secreto fio
da memĂłria do mundo. Ao princĂ­pio, era o insondĂĄvel

desconhecido, aberto nas mãos maternais, sortilégio
do mundo. Ao princĂ­pio, vinha o silĂȘncio como ponto
de encontro do nada do mundo. Ao princĂ­pio, chegava
a dor da pedra opressa nos coraçÔes, sublime prodígio

do mundo. Ao princĂ­pio, revelava-se o inominĂĄvel,
o imĂłvel, o informe, a intimidade temida do mundo.
Ao princĂ­pio, clamava-se a concĂłrdia e a piedade,

afirmação absoluta da constùncia do mundo.
Ao princĂ­pio, era o calor e a paz. Depois, a casa
abriu-se à terra fértil, a madre terra, a medonha terra.

Pergunto-te Onde se Acha a Minha Vida

Pergunto-te onde se acha a minha vida.
Em que dia fui eu. Que hora existiu formada
de uma verdade minha bem possuĂ­da.

VĂŁo-se as minhas perguntas aos depĂłsitos do nada.

E a quem Ă© que pergunto? Em quem penso, iludida
por esperanças hereditårias? E de cada
pergunta minha vai nascendo a sombra imensa
que envolve a posição dos olhos de quem pensa.

Jå não sei mais a diferença
de ti, de mim, da coisa perguntada,
do silĂȘncio da coisa irrespondida.

O Poema é uma Árvore de um Só Fruto

Creio que nenhum de vĂłs hĂĄ-de estranhar que eu diga que o poeta Ă© aquele que perdeu a palavra antes de a poder dizer; dito de outro modo. Ele Ă© o que fala ou escreve antes de conhecer o enunciado do que vai dizer. O grito, o silĂȘncio, a aridez da nĂŁo inspiração determinam inicialmente a criação poĂ©tica; o poema nunca Ă© real, nunca se efectiva numa conclusĂŁo, ou num objectivo determinado. O poema nasce de um grito, de um assombro, de uma ruptura, da noite do nada e da disponibilidade da linguagem relacional; Ă© sempre a transposição de um referente real ou imaginĂĄrio para uma linguagem de equivalĂȘncia, mas necessariamente, livremente, distanciada da referĂȘncia. Esta linguagem Ă© a «coerĂȘncia da incoerĂȘncia», «uma linguagem na linguagem», mantendo embora a voz mesma do existente ausente que Ă© o poeta, no «fingimento», na ficção, na heteronĂ­mia do poema. Longe de ser um astro fixo, o poema suspende o enunciado para fluir numa relação metamĂłrfica de palavras, de imagens, de sons e de relaçÔes que sĂŁo todos os elementos consonantes do poema; o poema Ă©, assim, um Ă©brio fluir de chamas, de estrelas, de possibilidades, de vibraçÔes, de silĂȘncios de uma respiração errante em que a verdade nos escapa no mistĂ©rio da sua nostalgia,

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