HĂĄ momentos na vida, em que se deveria calar e deixar que o silĂȘncio falasse ao coração, pois hĂĄ emoçÔes que as palavras nĂŁo sabem traduzir!
Passagens sobre SilĂȘncio
845 resultadosEu sei que o silĂȘncio muitas vezes tira a vontade de alguĂ©m ouvir uma palavra, mas tem hora que as palavras doem mais do que o silĂȘncio.
Quanto barulho cabe no silĂȘncio
Beijos No Ar
No silĂȘncio da noite, alta e deserta,
inebriante, férvido sintoma,
uma fragrĂąncia feminina assoma
e tentadoramente me desperta.Entrou-me, em ondas, a janela aberta,
como se se quebrara uma redoma,
da qual fugira o delirante aroma,
que o mistério do amor assim me oferta.De que dama-da-noite ou jasmineiro,
de que magnĂłlia em flor, em fevereiro,
se exala esse cĂĄlido desejo?Ela sonha comigo: esse perfume
vem da sua saudade, que presume,
embora em sonho, ter-me dado um beijo!
SilĂȘncio, Nostalgia…
SilĂȘncio, nostalgia…
Hora morta, desfolhada,
sem dor, sem alegria,
pelo tempo abandonada.Luz de Outono, fria, fria…
Hora inĂștil e sombria
de abandono.
Não sei se é tédio, sono,
silĂȘncio ou nostalgia.InterminĂĄvel dia
de indizĂveis cansaços,
de funda melancolia.
Sem rumo para os meus passos,
para que servem meus braços,
nesta hora fria, fria?
Descansa do som no silĂȘncio, e do silĂȘncio digna-te tornar ao som. Sozinho, se souberes estar sĂł, deixa-te ir por vezes atĂ© Ă multidĂŁo.
As mais lindas palavras de amor sĂŁo ditas no silĂȘncio de um olhar.
Nihil Novum
Na penumbra do pĂłrtico encantado
De bruges, noutras eras, jĂĄ vivi;
Vi os templos do Egipto com Loti;
Lancei flores, na Ăndia, ao rio sagrado.No horizonte de bruma opalizado,
Frente ao BĂłsforo errei, pensando em ti!…
O silĂȘncio dos claustros conheci
Pelos poentes de nĂĄcar e brocado…Mordi as rosas brancas de IspaĂŁ
E o gosto a cinza em todas era igual!
Sempre a charneca bĂĄrbara e deserta,Triste, a florir, numa ansiedade vĂŁ!
Sempre da vida — o mesmo estranho mal,
E o coração — a mesma chaga aberta!
Acreditei que Podia Dar-te um CĂ©u para Brincares
Filho. Gostava que houvesse uma aragem qualquer que me explicasse esse teu sorriso e outra que te explicasse, sem te magoar, o meu silĂȘncio. Gostava de aprender o trejeito dos teus lĂĄbios, a maneira dos teus olhos, e to lembrar quando tivesses a minha idade. Fui um dia a tua inocĂȘncia. E dela ficou-me a grande inocĂȘncia de acreditar.
Acreditei que podia dar-te um cĂ©u para brincares e que a vida seria o que nĂłs quisĂ©ssemos. Assim. Bastaria querermos, esforçarmo-nos muito, trabalharmos, e terĂamos entĂŁo o que desejĂĄssemos. NĂŁo digo coisas majestosas, roupas bonitas ou charretes, mas comida, comida gostosa e bem temperada, e um cavalo de cartĂŁo novo, se por acaso esquecesses o teu no quintal numa noite de chuva. Acreditei que a felicidade dos teus olhos a sorrir podia voltar aos olhos da tua mĂŁe, aos meus e perdurar intocada nos teus. Acreditei em tantas coisas. Sabes, aproximo-me da vila e o que me espera Ă© morrer um pouco mais. Preferia que nĂŁo o soubesses, mas infelizmente nem isso posso esconder-te, porque um dia, quando te contarem a histĂłria da tua vida, dir-te-ĂŁo que numa noite de estrelas, o teu pai foi Ă vila e levou uma sova;
As ĂĄguias deixam que os passarinhos cantem, sem nenhuma preocupação com o seu trinado alegre, certas de que com a sombra das suas asas poderĂŁo reduzi-los ao silĂȘncio.
O silĂȘncio Ă© a alma do negĂłcio.
Morte
Num imenso salĂŁo, alto e rotundo,
De caveiras iguais, ossos sem dono,
Perpétua habitação de eterno sono
Que tem por tecto o CĂ©u, por base o mundo:Bem no meio, em silĂȘncio o mais profundo,
Se levanta da Morte o fatal trono:
Ceptros sem rei, arados sem colono,
São os degraus do sólio furibundo.Lanças, arneses pelo chão, quebrados,
Murchas grinaldas, bĂĄculos partidos,
Liras de vates, pastoris cajados,Algemas, ferros e brasÔes luzidos,
No terrĂvel salĂŁo sĂŁo misturados,
No palĂĄcio da Morte confundidos.
O silĂȘncio (…) Ă© uma virtude que nos torna agradĂĄveis aos nossos semelhantes.
TĂŁo Grande Dor
“TĂŁo grande dor para tĂŁo pequeno povo” palavras de um timorense Ă RTP
Timor fragilĂssimo e distante
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha“SĂąndalo flor bĂșfalo montanha
Cantos danças ritos
E a pureza dos gestos ancestrais”Em frente ao pasmo atento das crianças
Assim contava o poeta Rui Cinatti
Sentado no chĂŁo
Naquela noite em que voltara da viagemTimor
Dever que nĂŁo foi cumprido e que por isso dĂłiDepois vieram notĂcias desgarradas
Raras e confusas
ViolĂȘncias mortes crueldade
E anos apĂłs ano
Ia crescendo sempre a atrocidade
E dia a dia – espanto prodĂgio assombro –
Cresceu a valentia
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanhaTimor cercado por um bruto silĂȘncio
Mais pesado e mais espesso do que o muro
De Berlim que foi sempre falado
Porque nĂŁo era um muro mas um cerco
Que por segundo cerco era cercadoO cerco da surdez dos consumistas
TĂŁo cheios de jornais e de notĂciasMas como se fosse o milagre pedido
Pelo rio da prece ao som das balas
As imagens do massacre foram salvas
As imagens romperam os cercos do silĂȘncio
Irromperam nos Ă©crans e os surdos viram
A evidĂȘncia nua das imagens
O silĂȘncio Ă© um amigo que jamais atraiçoa.
A Subfelicidade
O que mais dĂłi nĂŁo Ă© â desengana-te â a infelicidade. A infelicidade dĂłi. Magoa. Martiriza. Ă intensa; faz gritar, sofrer, saltar, chorar. Mas a infelicidade nĂŁo Ă© o que mais dĂłi. A infelicidade Ă© infeliz â mas nĂŁo Ă© o que mais dĂłi.
O que mais dĂłi Ă© a subfelicidade. A felicidade mais ou menos, a felicidade que nĂŁo se faz felicidade, que fica sempre a meio de se ser. A quase felicidade. A subfelicidade nĂŁo magoa â vai magoando; a subfelicidade nĂŁo martiriza â vai martirizando. NĂŁo Ă© intensa â mas Ă© imensa; faz gritar, sofrer, saltar, chorar â mas em silĂȘncio, em surdina, em anonimato. Como se nĂŁo fosse. Mas Ă©: a subfelicidade Ă©. A subfelicidade faz-te ficar refĂ©m do que tens â mas nem assim te impede de te sentires apeado do que nĂŁo tens e gostarias de ter. Do que estĂĄ ali, sempre ali, sempre Ă mĂŁo de semear â e que, mesmo assim, nunca consegues tocar. A subfelicidade Ă© o piso -1 da felicidade. E nĂŁo hĂĄ elevador algum que te leve a subir de piso. Tens de ser tu a pegar nas tuas perninhas e a subir as escadas. Anda daĂ.
A Idade
Ao princĂpio, era a doença de ser, pura e simples
exaltação das trevas de que a casa era a luz do mundo.
Ao princĂpio, estava o amor oculto no secreto fio
da memĂłria do mundo. Ao princĂpio, era o insondĂĄveldesconhecido, aberto nas mĂŁos maternais, sortilĂ©gio
do mundo. Ao princĂpio, vinha o silĂȘncio como ponto
de encontro do nada do mundo. Ao princĂpio, chegava
a dor da pedra opressa nos coraçÔes, sublime prodĂgiodo mundo. Ao princĂpio, revelava-se o inominĂĄvel,
o imĂłvel, o informe, a intimidade temida do mundo.
Ao princĂpio, clamava-se a concĂłrdia e a piedade,afirmação absoluta da constĂąncia do mundo.
Ao princĂpio, era o calor e a paz. Depois, a casa
abriu-se à terra fértil, a madre terra, a medonha terra.
Pergunto-te Onde se Acha a Minha Vida
Pergunto-te onde se acha a minha vida.
Em que dia fui eu. Que hora existiu formada
de uma verdade minha bem possuĂda.VĂŁo-se as minhas perguntas aos depĂłsitos do nada.
E a quem Ă© que pergunto? Em quem penso, iludida
por esperanças hereditårias? E de cada
pergunta minha vai nascendo a sombra imensa
que envolve a posição dos olhos de quem pensa.Jå não sei mais a diferença
de ti, de mim, da coisa perguntada,
do silĂȘncio da coisa irrespondida.
O Poema Ă© uma Ărvore de um SĂł Fruto
Creio que nenhum de vĂłs hĂĄ-de estranhar que eu diga que o poeta Ă© aquele que perdeu a palavra antes de a poder dizer; dito de outro modo. Ele Ă© o que fala ou escreve antes de conhecer o enunciado do que vai dizer. O grito, o silĂȘncio, a aridez da nĂŁo inspiração determinam inicialmente a criação poĂ©tica; o poema nunca Ă© real, nunca se efectiva numa conclusĂŁo, ou num objectivo determinado. O poema nasce de um grito, de um assombro, de uma ruptura, da noite do nada e da disponibilidade da linguagem relacional; Ă© sempre a transposição de um referente real ou imaginĂĄrio para uma linguagem de equivalĂȘncia, mas necessariamente, livremente, distanciada da referĂȘncia. Esta linguagem Ă© a «coerĂȘncia da incoerĂȘncia», «uma linguagem na linguagem», mantendo embora a voz mesma do existente ausente que Ă© o poeta, no «fingimento», na ficção, na heteronĂmia do poema. Longe de ser um astro fixo, o poema suspende o enunciado para fluir numa relação metamĂłrfica de palavras, de imagens, de sons e de relaçÔes que sĂŁo todos os elementos consonantes do poema; o poema Ă©, assim, um Ă©brio fluir de chamas, de estrelas, de possibilidades, de vibraçÔes, de silĂȘncios de uma respiração errante em que a verdade nos escapa no mistĂ©rio da sua nostalgia,
O silĂȘncio Ă© o desafogo das grandes emoçÔes, que abafam o espĂrito, enturvando-nos a razĂŁo.