Passagens sobre SilĂȘncio

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Namorados do Mirante

Eles eram mais antigos que o silĂȘncio
A perscrutar-se intimamente os sonhos
Tal como duas sĂșbitas estĂĄtuas
Em que apenas o olhar restasse humano.
Qualquer toque, por certo, desfaria
Os seus corpos sem tempo em pura cinza.
A Remontavam às origens — a realidade
Neles se fez, de substĂąncia, imagem.
Dela a face era fria, a que o desejo
Como um hictus, houvesse adormecido
Dele apenas restava o eterno grito
Da espĂ©cie — tudo mais tinha morrido.
CaĂ­am lentamente na voragem
Como duas estrelas que gravitam
Juntas para, depois, num grande abraço
Rolarem pelo espaço e se perderem
Transformadas na magma incandescente
Que milénios mais tarde explode em amor
E da matéria reproduz o tempo
Nas galĂĄxias da vida no infinito.

Eles eram mais antigos que o silĂȘncio…

ExĂ­lio

Dentro de cada rosto vai-se
e perde o passo antes certo
que nĂŁo se quisera passo, mas silĂȘncio.

Se em vĂŁo caminha e nada encontra,
um rosto e cada ruga, cada cancro
conferem o périplo e o decretam
desde sempre, nas frias manhĂŁs do tempo, nulo.

MĂĄrmores, fĂĄtua memĂłria de um crime,
ou qualquer mĂșsica degredada em pranto,
nada falta, mas fasta, imĂłvel, sucessiva
uma lua basta e sua lousa, desterro.

Letras, pedras, fomes, por entre grades paisagem
ou rosto informe no fundo de uma pĂĄgina,
vai a viagem ontem e esquece, urro ou simples erro.

Algumas Coisas

A morte e a vida morrem
e sob a sua eternidade fica
sĂł a memĂłria do esquecimento de tudo;
tambĂ©m o silĂȘncio de aquele que fala se calarĂĄ.

Quem fala de estas
coisas e de falar de elas
foge para o puro esquecimento
fora da cabeça e de si.

O que existe falta
sob a eternidade;
saber Ă© esquecer, e
esta Ă© a sabedoria e o esquecimento.

SilĂȘncio!

No fadĂĄrio que Ă© meu, neste penar,
Noite alta, noite escura, noite morta,
Sou o vento que geme e quer entrar,
Sou o vento que vai bater-te Ă  porta…

Vivo longe de ti, mas que me importa?
Se eu jĂĄ nĂŁo vivo em mim! Ando a vaguear
Em roda Ă  tua casa, a procurar
Beber-te a voz, apaixonada, absorta!

Estou junto de ti e nĂŁo me vĂȘs…
Quantas vezes no livro que tu lĂȘs
Meu olhar se pousou e se perdeu!

Trago-te como um filho, nos meus braços!
E na tua casa…Escuta!…Uns leves passos…
SilĂȘncio, meu Amor!…Abre! Sou eu!…

Durmo e desdurmo.
Do outro lado de mim, lĂĄ para trĂĄs de onde jazo, o silĂȘncio da casa toca no infinito. Oiço cair o tempo, gota a gota, e nenhuma gota que cai se ouve cair.

A Festa do SilĂȘncio

Escuto na palavra a festa do silĂȘncio.
Tudo estĂĄ no seu sĂ­tio. As aparĂȘncias apagaram-se.
As coisas vacilam tĂŁo prĂłximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.

Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura Ă© o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
RelaçÔes, variaçÔes, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.

Nada Ă© inacessĂ­vel no silĂȘncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia hĂĄ uma fonte de ĂĄgua clara.
Se digo ĂĄrvore a ĂĄrvore em mim respira.
Vivo na delĂ­cia nua da inocĂȘncia aberta.

HĂĄ momentos na vida, em que se deveria calar e deixar que o silĂȘncio falasse ao coração, pois hĂĄ emoçÔes que as palavras nĂŁo sabem traduzir!

Eu sei que o silĂȘncio muitas vezes tira a vontade de alguĂ©m ouvir uma palavra, mas tem hora que as palavras doem mais do que o silĂȘncio.

Beijos No Ar

No silĂȘncio da noite, alta e deserta,
inebriante, férvido sintoma,
uma fragrĂąncia feminina assoma
e tentadoramente me desperta.

Entrou-me, em ondas, a janela aberta,
como se se quebrara uma redoma,
da qual fugira o delirante aroma,
que o mistério do amor assim me oferta.

De que dama-da-noite ou jasmineiro,
de que magnĂłlia em flor, em fevereiro,
se exala esse cĂĄlido desejo?

Ela sonha comigo: esse perfume
vem da sua saudade, que presume,
embora em sonho, ter-me dado um beijo!

SilĂȘncio, Nostalgia…

SilĂȘncio, nostalgia…
Hora morta, desfolhada,
sem dor, sem alegria,
pelo tempo abandonada.

Luz de Outono, fria, fria…
Hora inĂștil e sombria
de abandono.
Não sei se é tédio, sono,
silĂȘncio ou nostalgia.

InterminĂĄvel dia
de indizíveis cansaços,
de funda melancolia.
Sem rumo para os meus passos,
para que servem meus braços,
nesta hora fria, fria?

Descansa do som no silĂȘncio, e do silĂȘncio digna-te tornar ao som. Sozinho, se souberes estar sĂł, deixa-te ir por vezes atĂ© Ă  multidĂŁo.

Nihil Novum

Na penumbra do pĂłrtico encantado
De bruges, noutras eras, jĂĄ vivi;
Vi os templos do Egipto com Loti;
Lancei flores, na Índia, ao rio sagrado.

No horizonte de bruma opalizado,
Frente ao BĂłsforo errei, pensando em ti!…
O silĂȘncio dos claustros conheci
Pelos poentes de nĂĄcar e brocado…

Mordi as rosas brancas de IspaĂŁ
E o gosto a cinza em todas era igual!
Sempre a charneca bĂĄrbara e deserta,

Triste, a florir, numa ansiedade vĂŁ!
Sempre da vida — o mesmo estranho mal,
E o coração — a mesma chaga aberta!

Acreditei que Podia Dar-te um Céu para Brincares

Filho. Gostava que houvesse uma aragem qualquer que me explicasse esse teu sorriso e outra que te explicasse, sem te magoar, o meu silĂȘncio. Gostava de aprender o trejeito dos teus lĂĄbios, a maneira dos teus olhos, e to lembrar quando tivesses a minha idade. Fui um dia a tua inocĂȘncia. E dela ficou-me a grande inocĂȘncia de acreditar.
Acreditei que podia dar-te um céu para brincares e que a vida seria o que nós quiséssemos. Assim. Bastaria querermos, esforçarmo-nos muito, trabalharmos, e teríamos então o que desejåssemos. Não digo coisas majestosas, roupas bonitas ou charretes, mas comida, comida gostosa e bem temperada, e um cavalo de cartão novo, se por acaso esquecesses o teu no quintal numa noite de chuva. Acreditei que a felicidade dos teus olhos a sorrir podia voltar aos olhos da tua mãe, aos meus e perdurar intocada nos teus. Acreditei em tantas coisas. Sabes, aproximo-me da vila e o que me espera é morrer um pouco mais. Preferia que não o soubesses, mas infelizmente nem isso posso esconder-te, porque um dia, quando te contarem a história da tua vida, dir-te-ão que numa noite de estrelas, o teu pai foi à vila e levou uma sova;

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As ĂĄguias deixam que os passarinhos cantem, sem nenhuma preocupação com o seu trinado alegre, certas de que com a sombra das suas asas poderĂŁo reduzi-los ao silĂȘncio.

Morte

Num imenso salĂŁo, alto e rotundo,
De caveiras iguais, ossos sem dono,
Perpétua habitação de eterno sono
Que tem por tecto o Céu, por base o mundo:

Bem no meio, em silĂȘncio o mais profundo,
Se levanta da Morte o fatal trono:
Ceptros sem rei, arados sem colono,
SĂŁo os degraus do sĂłlio furibundo.

Lanças, arneses pelo chão, quebrados,
Murchas grinaldas, bĂĄculos partidos,
Liras de vates, pastoris cajados,

Algemas, ferros e brasÔes luzidos,
No terrĂ­vel salĂŁo sĂŁo misturados,
No palĂĄcio da Morte confundidos.