Passagens sobre SilĂȘncio

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ExĂ­lio

Quando a pĂĄtria que temos nĂŁo a temos
Perdida por silĂȘncio e por renĂșncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia Ă© como grades

O Ferrador de Cavalos

Em que lĂ­ngua falarei
ao ferrador de cavalos?
Por que, na minha lĂ­ngua
de assombro e vogal,
sĂł falo a mim mesmo
— ao meu nada e ao meu tudo —
e nem sequer disponho
do gesto dos mudos?
Se as palavras morrem
Ă  mĂ­ngua como os homens
e se o silĂȘncio fala
seu prĂłprio idioma
em que lĂ­ngua direi
ao homem diferente
que ele Ă© meu semelhante
quando o vejo ferrar
o casco de um cavalo?
Empunhando o martelo
ele me conta histĂłrias
de cravos perdidos
e cavalos mancos.
Palavras que se perdem
como ferraduras
no caminho do pasto.

Cartas

Vou correndo buscĂĄ-las – sĂŁo tĂŁo leves!
mas trazem a minha alma um grande encanto,
– por que as cartas que escreves custam tanto?
– por que demora tanto o que me escreves?

NĂŁo deves torturar-me assim, nĂŁo deves!
– Do teu silĂȘncio muita vez me espanto…
Mando-te longas cartas – e entretanto
como tuas respostas sĂŁo tĂŁo breves!…

Recebes cartas minhas todo dia,
e elas nĂŁo dizem tudo o que eu queria
mas falam-te de amor… de coisas belas!

Tuas cartas… Mas dou-te o meu perdĂŁo,
– que me importa afinal ter razĂŁo,
se gosto tanto de esperar por elas!

Vilegiatura

O sossego da noite, na vilegiatura no alto;
O sossego, que mais aprofunda
O ladrar esparso dos cĂŁes de guarda na noite;
O silĂȘncio, que mais se acentua,
Porque zumbe ou murmura uma coisa nenhuma no escuro …
Ah, a opressĂŁo de tudo isto!
Oprime como ser feliz!
Que vida idĂ­lica, se fosse outra pessoa que a tivesse
Com o zumbido ou murmĂșrio monĂłtono de nada
Sob o céu sardento de estrelas,
Com o ladrar dos cĂŁes polvilhando o sossego de tudo!

Vim para aqui repousar,
Mas esqueci-me de me deixar lĂĄ em casa,
Trouxe comigo o espinho essencial de ser consciente,
A vaga nåusea, a doença incerta, de me sentir.

Sempre esta inquietação mordida aos bocados
Como pĂŁo ralo escuro, que se esfarela caindo.
Sempre este mal-estar tomado aos maus haustos
Como um vinho de bĂȘbado quando nem a nĂĄusea obsta.

Sempre, sempre, sempre
Este defeito da circulação na própria alma,
Esta lipotimia das sensaçÔes,
Isto…

(Tuas mĂŁos esguias, um pouco pĂĄlidas, um pouco minhas,
Estavam naquele dia quietas pelo teu regaço de sentada,

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É um argumento dos aristocratas, esse dos crimes que uma revolução implica. Eles esquecem-se sempre dos que se cometiam em silĂȘncio antes da revolução.

Absurdo

Ninguém te disse nada, ninguém soube
do anel que se perdia em tuas mĂŁos
e crescia nas coisas reduzindo-as
Ă  ausĂȘncia mais completa do existir.

Mesmo quando o limite era essa zona
fugidia de gestos e silĂȘncios
e a noite desdobrava em tua pele
o mapa das cidades compassivas,

ninguém pÎde saber do imprevisível,
do lado mais secreto e numeroso
que havia em ti, na vida que buscavas

e que perdias sempre, por mais fundo,
por mais limpo que fosse o privilégio
da mĂĄgoa sempre nova de perdĂȘ-la.

A Vantagem do Esquecimento

O esquecimento nĂŁo Ă© sĂł uma vis inertioe, como crĂȘem os espĂ­ritos superfinos; antes Ă© um poder activo, uma faculdade moderadora, Ă  qual devemos o facto de que tudo quanto nos acontece na vida, tudo quanto absorvemos, se apresenta Ă  nossa consciĂȘncia durante o estado da «digestĂŁo» (que poderia chamar-se absorção fĂ­sica), do mesmo modo que o multĂ­plice processo da assimiliação corporal tĂŁo pouco fatiga a consciencia. Fechar de quando em quando as portas e janelas da consciĂȘncia, permanecer insensĂ­vel Ă s ruidosas lutas do mundo subterrĂąneo dos nossos orgĂŁos; fazer silĂȘncio e tĂĄbua rasa da nossa consciĂȘncia, a fim de que aĂ­ haja lugar para as funçÔes mais nobres para governar, para rever, para pressentir (porque o nosso organismo Ă© uma verdadeira oligarquia): eis aqui, repito, o ofĂ­cio desta faculdade activa, desta vigilante guarda encarregada de manter a ordem fĂ­sica, a tranquilidade, a etiqueta. Donde se coligue que nenhuma felicidade, nenhuma serenidade, nenhuma esperança, nenhum gozo presente poderiam existir sem a faculdade do esquecimento.

O silĂȘncio Ă©, tanto quanto a palavra, um momento vital de partilha de entendimento.

O Valor do SilĂȘncio

Tantos querem a projeção. Sem saber como esta limita a vida. Minha pequena projeção fere o meu pudor. Inclusive o que eu queria dizer jĂĄ nĂŁo posso mais. O anonimato Ă© suave como um sonho. Eu estou precisando desse sonho. AliĂĄs eu nĂŁo queria mais escrever. Escrevo agora porque estou precisando de dinheiro. Eu queria ficar calada. HĂĄ coisas que nunca escrevi, e morrerei sem tĂȘ-las escrito. Essas por dinheiro nenhum. HĂĄ um grande silĂȘncio dentro de mim. E esse silĂȘncio tem sido a fonte de minhas palavras. E do silĂȘncio tem vindo o que Ă© mais precioso que tudo: o prĂłprio silĂȘncio.

NĂŁo tenha medo de meu silĂȘncio… Sou um louco mas guiado dentro de mim por uma espĂ©cie de grande sĂĄbio.

Esta Noite MorrerĂĄs

Esta noite morrerĂĄs.
Quando a lua vier tocar-me o rosto
terĂĄs partido do meu leito
e aquele que procurar a marca dos teus passos
encontra urtigas crescendo
por sobre o teu nome.
Esta noite morrerĂĄs.
Quando a lua vier tocar-me o rosto
terĂĄs partido do meu leito
e uma gota de sangue ressequido
Ă© a marca dos teus passos.
No coração do tempo pulsa um maquinismo ínscio
e na casa do tempo a hora Ă© adorno.
Quando a lua vier tocar-me o rosto a tua sombra extinta marca
o fim de um eclipse horĂĄrio de uma partida iminente e o tempo
apaga a marca dos teus passos sobre o meu nome.
Constante.
O mar Ă© isso.
A lua vir tocar-me o rosto e encontrar urtigas crescendo
por sobre o teu nome.
O mar Ă© tu morreste.
O mar Ă© ser noite e vir a lua tocar-me o rosto quando tu par-
tiste e no meu leito crescem folhas sangue.
A febre é uma pira incompreensível como a aparição da lua
e a opacidade do mar.
No meu leito a lua vai tocar-me o rosto e a tua ausĂȘncia Ă© um
prisma,

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Vozes da Noite

Vozes na Noite! Quem fala
Com tanto ardor, tanto afĂŁ?
Falou o Grilo primeiro,
Logo depois foi a RĂŁ.

Pobre loucura dos homens
Quando julgam entendĂȘ-las

SĂł eles pasmam os olhos
Neste encanto das estrelas


LĂĄ no silĂȘncio dos campos
Ou no mais ermo da serra,
Na voz das rĂŁs dala a Ă gua,
Na voz dos grilos a Terra.

SĂł eles cantam a vida
Com amor e singeleza,
Por ser descuidada, alegre;
Por ser simples, com beleza.

Pudesse agora dizer-te,
Sem ser por palavras vĂŁs,
O que diz a voz dos grilos,
O que diz a voz das rĂŁs.

Desesperança

Vai-te na aza negra da desgraça,
Pensamento de amor, sombra d’uma hora,
Que abracei com delĂ­rio, vai-te, embora,
Como nuvem que o vento impele… e passa.

Que arrojemos de nós quem mais se abraça,
Com mais ancia, ĂĄ nossa alma! e quem devora
D’essa alma o sangue, com que vigora,
Como amigo comungue å mesma taça!

Que seja sonho apenas a esperança,
Enquanto a dor eternamente assiste.
E sĂł engano nunca a desventura!

Se era silĂȘncio sofrer fora vingança!..
Envolve-te em ti mesma, Ăł alma triste,
Talvez sem esperança haja ventura!

O Socorro

Ele foi cavando, foi cavando, cavando, pois sua profissĂŁo – coveiro – era cavar. Mas, de repente, na distracção do ofĂ­cio que amava, percebeu que cavara de mais. Tentou sair da cova e nĂŁo conseguiu. Levantou o olhar para cima e viu que, sozinho, nĂŁo conseguiria sair. Gritou. NinguĂ©m atendeu. Gritou mais forte. NinguĂ©m veio. Enlouqueceu de gritar, cansou de esbravejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova, desesperado. A noite chegou, subiu, fez-se o silĂȘncio das horas tardas. Bateu o frio da madrugada e, na noite escura, nĂŁo se ouvia mais um som humano, embora o cemitĂ©rio estivesse cheio dos pipilos e coaxares naturais dos matos. SĂł pouco depois da meia-noite Ă© que lĂĄ vieram uns passos. Deitado no fundo da cova o coveiro gritou. Os passos se aproximaram. Uma cabeça Ă©bria apareceu lĂĄ em cima, perguntou o que havia: «O que Ă© que hĂĄ?»
O coveiro entĂŁo gritou, desesperado: «Tire-me daqui, por favor. Estou com um frio terrĂ­vel!». «Mas coitado!» – condoeu-se o bĂȘbado. – «Tem toda razĂŁo de estar com frio.
AlguĂ©m tirou a terra toda de cima de vocĂȘ, meu pobre mortinho!». E, pegando na pĂĄ, encheu-a de terra e pĂŽs-se a cobri-lo cuidadosamente.

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A Companhia do Amor

O que eu sinto nĂŁo seria para si uma coisa nova de que necessitasse uma clara afirmação; Ă© o mesmo que eu sentia quando passeĂĄvamos ambos nas areias da Costa Nova. Ou antes, nĂŁo Ă© o mesmo sentimento: Ă© outro mais belo, mais completo; porque tendo, apesar de tudo, ficado comigo, desde que nos separĂĄmos, e tendo sido o doce e fiel companheiro da minha vida desde entĂŁo – esse sentimento penetrou-me de um modo mais absoluto e mais absorvente, exaltou-se e idealizou-se, e de tal sorte me invadiu todo que eu cheguei a nĂŁo ter pensamento, ideia, esperança, plano, a que nĂŁo estivesse misturada a sua imagem. E na Costa Nova ainda nĂŁo era assim. Dizer porque Ă© que eu, apesar de tudo, insistia em pensar em si, nĂŁo sei. O facto de nĂŁo serem dependentes da vontade os movimentos do coração nĂŁo Ă© uma suficiente explicação: porque eu podia resistir Ă  importunidade desta ideia, e em lugar disso abandonava-me a ela como Ă  minha Ășnica alegria. Devo portanto concluir que havia um pressentimento latente, uma vaga quase certeza, uma fĂ© secreta de que a afinidade que existe entre as nossas naturezas se viria um dia a manifestar apesar de tudo,

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Devo-te

Devo-te tanto como um pĂĄssaro
deve o seu voo Ă  lavada
planície do céu.

Devo-te a forma
novĂ­ssima de olhar
teu corpo onde Ă s vezes
desce o pudor o silĂȘncio
de uma pĂĄlpebra mais nada.

Devo-te o ritmo
de peixe na palavra,
a genesĂ­aca, doce
violĂȘncia dos sentidos;
esta tinta de sol
sobre o papel de silĂȘncio
das coisas – estes versos
doces, curtos, de abelhas
transportando o pĂłlen
levĂ­ssimo do dia;
estas formigas na sombra
da prĂłpria pressa e entrando
todas em fila no tempo:
com uma pergunta frĂĄgil
nas antenas, um recado invisĂ­vel, o peso
que as deixa ser e esquece;
e a tua voz que compunha
uma casa, uma rosa
a toda a volta – Ăł meu amor vieste
rasgar um sol das minhas mĂŁos!

TĂ©dio

Sobre minh’alma, como sobre um trono,
Senhor brutal, pesa o aborrecimento.
Como tardas em vir, Ășltimo outono,
Lançar-me as folhas Ășltimas ao vento!

Oh! dormir no silĂȘncio e no abandono,
SĂł, sem um sonho, sem um pensamento,
E, no letargo do aniquilamento,
Ter, Ăł pedra, a quietude do teu sono!

Oh! deixar de sonhar o que nĂŁo vejo!
Ter o sangue gelado, e a carne fria!
E, de uma luz crepuscular velada,

Deixar a alma dormir sem um desejo,
Ampla, fĂșnebre, lĂșgubre, vazia
Como uma catedral abandonada!…