Passagens sobre Soluços

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Frases sobre soluços, poemas sobre soluços e outras passagens sobre soluços para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

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Entre nĂłs e as palavras hĂĄ metal fundente
entre nós e as palavras hå hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nĂłs o mais Ăștil segredo
entre nĂłs e as palavras hĂĄ perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
Ă  espera do seu tempo e do seu precipĂ­cio

Ao longo da muralha que habitamos
hĂĄ palavras de vida hĂĄ palavras de morte
hĂĄ palavras imensas, que esperam por nĂłs
e outras, frĂĄgeis, que deixaram de esperar
hĂĄ palavras acesas como barcos
e hĂĄ palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nĂłs e as palavras, surdamente,
as mĂŁos e as paredes de Elsenor
E hĂĄ palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegĂ­veis Ă  boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossĂ­veis de escrever
por nĂŁo termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
sĂł espasmo sĂł amor sĂł solidĂŁo desfeita

Entre nĂłs e as palavras,

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A Harpa

Prende, arrebata, enleva, atrai, consola
A harpa tangida por convulsos dedos,
Vivem nela mistérios e segredos,
É berceuse, Ă© balada, Ă© barcarola.

Harmonia nervosa que desola,
Vento noturno dentre os arvoredos
A erguer fantasmas e secretos medos,
Nas suas cordas um soluço rola…

Tu’alma Ă© como esta harpa peregrina
Que tem sabor de mĂșsica divina
E sĂł pelos eleitos Ă© tangida.

Harpa dos céus que pelos céus murmura
E que enche os cĂ©us da mĂșsica mais pura,
como de uma saudade indefinida.

Elegia

Vae em seis mezes que deixei a minha terra
E tu ficaste lĂĄ, mettida n’uma serra,
Boa velhinha! que eras mais uma criança…
Mas, tĂŁo longe de ti, n’este Payz de França,
Onde mal viste, entĂŁo, que eu viesse parar,
Vejo-te, quanta vez! por esta sala a andar…
Bates. Entreabres de mansinho a minha porta.
VirĂĄs tratar de mim, ainda depois de morta?
Vens de tĂŁo longe! E fazes, sĂł, essa jornada!
Ajuda-te o bordĂŁo que te empresta uma fada.
Altas horas, emquanto o bom coveiro dorme,
Escapas-teĂŁda cova e vens, Bondade enorme!
Atravez do MarĂŁo que a lua-cheia banha,
Atravessas, sorrindo, a mysteriosa Hespanha,
Perguntas ao pastor que anda guardando o gado,
(E as fontes cantam e o cĂ©u Ă© todo estrellado…)
Para que banda fica a França, e elle, a apontar,
Diz: «Vå seguindo sempre a minha estrella, no Ar!»
E ha-de ficar scismando, ao ver-te assim, velhinha,
Que Ă©s tu a Virgem disfarçada em probrezinha…
Mas tu, sorrindo sempre, olhando sempre os céus,
Deixando atraz de ti, os negros Pyrineus,
Sob os quaes rola a humanidade,

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Piedade

O coração de todo o ser humano
Foi concebido para ter piedade,
Para olhar e sentir com caridade
Ficar mais doce o eterno desengano.

Para da vida em cada rude oceano
Arrojar, através da imensidade,
Tåbuas de salvação, de suavidade,
De consolo e de afeto soberano.

Sim! Que não ter um coração profundo
É os olhos fechar à dor do mundo,
ficar inĂștil nos amargos trilhos.

É como se o meu ser campadecido
Não tivesse um soluço comovido
Para sentir e para amar meus filhos!

MemĂłria

I

Na cristalina, líquida presença,
crescente lua no abismo enquanto
o mar se cala, desconheço a margem
onde me espera no desejo
esguio do poente a deusa branca…

À ínfima visão dum lírio encosto
o meu soluço! O espaço Ă© grande…
NĂŁo invoco o lugar mas a verdade
surge aquĂ©m da espera…

Gaivotas sussurrantes, deixo a mĂșsica
morrer, pegadas frescas, desperdĂ­cios
quentes na relva da minha alma…

II

Quando se oculta julgando a noite
indefesa enorme, a fugidia
estrela me ilumina e desce!

Vem até mim, quebrada a natural
cadĂȘncia do seu mundo, e cresce… cresce…
TentĂĄculos de luz me envolvem. Comovido,
aperto em minhas mĂŁos o elanguescente
ardor do seu chegar…

III

Reconquisto agora o teu rosto, um horizonte,
silĂȘncio de grito suspenso, labirinto,
mais desfeito
no hĂĄlito das nuvens…

Me surges tĂŁo sem ti
que envolve o dia a espessura deste longe…
E afogo assim na Ă­ntima, na Ășnica
beleza do teu rasto,
o meu soluço de ĂĄgua…

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MĂșsica Brasileira

Tens, Ă s vezes, o fogo soberano
Do amor: encerras na cadĂȘncia, acesa
Em requebros e encantos de impureza,
Todo o feitiço do pecado humano.

Mas, sobre essa volĂșpia, erra a tristeza
Dos desertos, das matas e do oceano:
Bårbara poracé, banzo africano,
E soluços de trova portuguesa.

És samba e jongo, xiba e fado, cujos
Acordes sĂŁo desejos e orfandades
De selvagens, cativos e marujos:

E em nostalgias e paixÔes consistes,
Lasciva dor, beijo de trĂȘs saudades,
Flor amorosa de trĂȘs raças tristes.

Dois Excertos de Odes

(Fins de duas odes, naturalmente)

I

Vem, Noite antiquĂ­ssima e idĂȘntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silĂȘncio, Noite
Com as estrelas lentejoulas rĂĄpidas
No teu vestido franjado de Infinito.

Vem, vagamente,
Vem, levemente,
Vem sozinha, solene, com as mĂŁos caĂ­das
Ao teu lado, vem
E traz os montes longínquos para o pé das årvores próximas,
Funde num campo teu todos os campos que vejo,
Faze da montanha um bloco sĂł do teu corpo,
Apaga-lhe todas as diferenças que de longe vejo,
Todas as estradas que a sobem,
Todas as vĂĄrias ĂĄrvores que a fazem verde-escuro ao longe.
Todas as casas brancas e com fumo entre as ĂĄrvores,
E deixa sĂł uma luz e outra luz e mais outra,
Na distĂąncia imprecisa e vagamente perturbadora,
Na distĂąncia subitamente impossĂ­vel de percorrer.

Nossa Senhora
Das coisas impossĂ­veis que procuramos em vĂŁo,
Dos sonhos que vĂȘm ter conosco ao crepĂșsculo, Ă  janela,
Dos propĂłsitos que nos acariciam
Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas
Ao som europeu das mĂșsicas e das vozes longe e perto,

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Na Luz

De soluço em soluço a alma gravita,
De soluço em soluço a alma estremece,
Anseia, sonha, se recorda, esquece
E no centro da Luz dorme contrita.

Dorme na paz sacramental, bendita,
Onde tudo mais puro resplandece,
Onde a Imortalidade refloresce
Em tudo, e tudo em cĂąnticos palpita.

Sereia celestial entre as sereias,
Ela só quer despedaçar cadeias,
De soluço em soluço, a alma nervosa.

Ela só quer despedaçar algemas
E respirar nas amplidÔes supremas,
Respirar, respirar na Luz radiosa.

À Tua Porta Há um Pinheiro Manso

À tua porta há um pinheiro manso
De cabeça pendida, a meditar,
Amor! Sou eu, talvez, a contemplar
Os doces sete palmos do descanso.

Sou eu que para ti atiro e lanço,
Como um grito, meus ramos pelo ar,
Sou eu que estendo os braços a chamar
Meu sonho que se esvai e não alcanço.

Eu que do sol filtro os ruivos brilhos
Sobre as louras cabeças dos teus filhos
Quando o meio-dia tomba sobre a serra…

E, Ă  noite, a sua voz dolente e vaga
É o soluço da minha alma em chaga:
Raiz morta de sede sob a terra!

Soneto

N’augusta solidĂŁo dos cemitĂ©rios,
Resvalando nas sombras dos ciprestes,
Passam meus sonhos sepultados nestes
Brancos sepulcros, pålidos, funéreos.

São minhas crenças divinais, ardentes
– Alvos fantasmas pelos merencĂłrios
TĂșmulos tristes, soturnais, silentes,
Hoje rolando nos umbrais marmĂłreos.

Quando da vida, no eternal soluço,
Eu choro e gemo e triste me debruço
Na lĂĄjea fria dos meus sonhos pulcros.

Desliza entĂŁo a lĂșgubre coorte,
E rompe a orquestra sepulcral da morte,
Quebrando a paz suprema dos sepulcros.

Eu Passava Na Vida Errante E Vago

Eu passava na vida errante e vago
Como o nauta perdido em noite escura,
Mas tu te ergueste peregrina e pura
Como o cisne inspirado em manso lago,

Beijava a onda, num soluço mago,
Das moles plumas a brilhante alvura,
E a voz ungida de eternal doçura
Roçava as nuvens em divino afago.

Vi-te; e nas chamas de fervor profundo
A teus pés afoguei a mocidade
Esqueci de mim, de Deus, do mundo ! …

Mas ai! Cedo Fugiste ! … da saudade,
Hoje te imploro desse amor tĂŁo fundo
Uma idéia, uma queixa, uma saudade!

Outonal

Caem as folhas mortas sobre o lago!
Na penumbra outonal, nĂŁo sei quem tece
As rendas do silĂȘncio…Olha, anoitece!
— Brumas longĂ­nquas do PaĂ­s Vago…

Veludos a ondear…MistĂ©rio mago…
Encantamento…A hora que nĂŁo esquece,
A luz que a pouco e pouco desfalece,
Que lança em mim a bĂȘnção dum afago…

Outono dos crepĂșsculos doirados,
De pĂșrpuras, damascos e brocados!
— Vestes a Terra inteira de esplendor!

Outono das tardinhas silenciosas,
Das magnĂ­ficas noites voluptuosas
Em que soluço a delirar de amor…

A Dor

Torva Babel das lĂĄgrimas, dos gritos,
Dos soluços, dos ais, dos longos brados,
A Dor galgou os mundos ignorados,
Os mais remotos, vagos infinitos.

Lembrando as religiÔes, lembrando os ritos,
Avassalara os povos condenados,
Pela treva, no horror, desesperados,
Na convulsĂŁo de TĂąntalos aflitos.

Por buzinas e trompas assoprando
As geraçÔes vão todas proclamando
A grande Dor aos frĂ­gidos espaços…

E assim parecem, pelos tempos mudos,
Raças de Prometeus titùnios, rudos,
Brutos e colossais, torcendo os braços!

4A Sombra – FabĂ­ola

Como teu riso dĂłi… como na treva
Os lĂȘmures respondem no infinito:
Tens o aspecto do pĂĄssaro maldito,
Que em sĂąnie de cadĂĄveres se ceva!

Filha da noite! A ventania leva
Um soluço de amor pungente, aflito…
FabĂ­ola!… É teu nome!… Escuta Ă© um grito,
Que lacerante para os cĂ©us s’eleva!…

E tu folgas, Bacante dos amores,
E a orgia que a mantilha te arregaça,
Enche a noite de horror, de mais horrores…

É sangue, que referve-te na taça!
É sangue, que borrifa-te estas flores!
E este sangue Ă© meu sangue… Ă© meu… Desgraça!

Quando o Amor Morrer Dentro de Ti

Quando o amor morrer dentro de ti,
Caminha para o alto onde haja espaço,
E com o silĂȘncio outrora pressentido
Molda em duas colunas os teus braços.
Relembra a confusĂŁo dos pensamentos,
E neles ateia o fogo adormecido
Que uma vez, sonho de amor, teu peito ferido
Espalhou generoso aos quatro ventos.
Aos que passarem dĂĄ-lhes o abrigo
E o nocturno calor que se debruça
Sobre as faces brilhantes de soluços.
E se ninguém vier, ergue o sudårio
Que mil saudosas lĂĄgrimas velaram;
Desfralda na tua alma o inventĂĄrio
Do templo onde a vida ora de bruços
A Deus e aos sonhos que gelaram.

Interrogação

A Guido Batelli

Neste tormento inĂștil, neste empenho
De tornar em silĂȘncio o que em mim canta,
Sobem-me roucos brados Ă  garganta
Num clamor de loucura que contenho.

Ó alma de charneca sacrossanta,
IrmĂŁ da alma rĂștila que eu tenho,
Dize pra onde vou, donde Ă© que venho
Nesta dor que me exalta e me alevanta!

VisÔes de mundos novos, de infinitos,
CadĂȘncias de soluços e de gritos,
Fogueira a esbrasear que me consome!

Dize que mĂŁo Ă© esta que me arrasta?
NĂłdoa de sangue que palpita e alastra…
Dize de que Ă© que eu tenho sede e fome?!

Chorar e Rir

E enquanto uma chora, outra ri; é a lei do mundo, meu rico senhor; é a perfeição universal. Tudo chorando seria monótono, tudo rindo, cansativo; mas uma boa distribuição de lågrimas e polcas, soluços e sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessåria, e faz-se o equilíbrio da vida.

Salve! Rainha!

Ó sempre virgem Maria, concebida
sem pecado original, desde o
primeiro instante do teu ser…

MĂŁe de MisericĂłrdia, sem pecado
Original, desde o primeiro instante!
Salve! Rainha da MansĂŁo radiante,
Virgem do Firmamento constelado…

Teu coração de espadas lacerado,
Sangrando sangue e fel martirizante,
Escute a minha Dor, a torturante,
A Dor do meu soluço eternizado.

A minha Dor, a minha Dor suprema,
A Dor estranha que me prende, algema
Neste Vale de lĂĄgrimas profundo…

Salve! Rainha! por quem brado e clamo
E brado e brado e com angĂșstia chamo,
Chamo, atravĂ©s das convulsĂ”es do mundo!…

Natal

Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Era gente a correr pela mĂșsica acima.
Uma onda uma festa. Palavras a saltar.

Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.
Guitarras guitarras. Ou talvez mar.
E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.

Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.
No teu ritmo nos teus ritos.
No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).
Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.
E nos silĂȘncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.
No teu sol acontecia.

Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).
Todo o tempo num sĂł tempo: andamento
de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.
Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva
acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de ĂĄgua turva
na cidade agitada pelo vento.

Natal Natal (diziam). E acontecia.
Como se fosse na palavra a rosa brava
acontecia. E era Dezembro que floria.
Era um vulcĂŁo. E no teu corpo a flor e a lava.
E era na lava a rosa e a palavra.

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MĂșsica Da Hora

Habito a pausa no hĂĄbito da pauta
mĂșsica de silĂȘncios e soluços
a refrear desmandos dos impulsos
que se querem agudos sons de flauta.

A vida Ă© toda mĂșsica em seu curso
do grito original em rima incauta
ao sussurro que se ouve em cama infausta
nesse fim dissonante do percurso.

O tempo se encarrega do metrĂŽnomo
unido a dois ponteiros de um cronĂŽmetro
em que o delgado veste-se de momo

para alegrar as horas do pequeno
que dança a marcha gris em chão sereno
fugindo ao dois por quatro do abandono.