RuĂ­nas

I

E Ă© triste ver assim ir desfolhando,
VĂŞ-las levadas na amplidĂŁo do ar,
As ilusões que andámos levantando
Sobre o peito das mĂŁes, o eterno altar.

Nem sabe a gente já como, nem quando,
Há-de a nossa alma um dia descansar!
Que as almas vĂŁo perdidas, vĂŁo boiando
Nesta corrente elĂ©ctrica do mar!…

Ă“ ciĂŞncia, minha amante, Ăł sonho belo!
És fria como a folha dum cutelo…
Nunca o teu lábio conheceu piedade!

Mas caia embora o velho paraĂ­so,
Caia a fé, caia Deus! sendo preciso,
Em nome do Direito e da Verdade.

II

Morreu-me a luz da crença — alva cecém,
Pálida virgem de luzentas tranças
Dorme agora na campa das crianças,
Onde eu quisera repousar também.

A graça, as ilusões, o amor, a unção,
Doiradas catedrais do meu passado,
Tudo caiu desfeito, escalavrado
Nos tremendos combates da razĂŁo.

Perdida a fé, esse imortal abrigo,
Fiquei sozinho como herĂłi antigo
Batalhando sem elmo e sem escudo.

A implacável, a rígida ciência
Deixou-me unicamente a ProvidĂŞncia,

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