Sonetos sobre Aduladores

3 resultados
Sonetos de aduladores escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

NĂŁo Desejo Chegar a tal Grandeza

NĂŁo desejo chegar a tal grandeza,
Que aduladores vis cerquem meus lados,
Nem palácios magníficos doirados,
Ricas alfaias, nem polida mesa.

Não me lembram heranças, nem riqueza,
Que me obrigue a pĂ´r nela meus cuidados;
NĂŁo ocupar honrosos magistrados,
Nem outras coisas vĂŁs, que o mundo preza.

Quisera sĂł fugir de tanta estima,
Livrar-me deste pélago profundo,
Mudar da natureza que me anima;

Subir da lua ao globo alto e rotundo,
E depois de apanhar-me lá de cima,
Desatar os calções, cagar no mundo.

Preside O Neto Da Rainha Ginga

Preside o neto da rainha Ginga
Ă€ corja vil, aduladora, insana.
Traz sujo moço amostras de chanfana,
Em copos desiguais se esgota a pinga.

Vem pão, manteiga e chá, tudo à catinga;
Masca farinha a turba americana;
E o oragotango a corda Ă  banza abana,
Com gesto e visagens de mandinga.

Um bando de comparsas logo acode
Do fofo Conde ao novo Talaveiras;
Improvisa berrando o rouco bode.

Aplaudem de contĂ­nuo as frioleiras
Belmiro em ditirambo, o ex-frade em ode.
Eis aqui de Lereno as quartas-feiras.

Ingratos

NĂŁo maldigo o rigor da inĂ­qua sorte,
Por mais atroz que fosse e sem piedade,
Arrancando-me o trono e a majestade,
Quando a dous passos sĂł estou da morte.

Do jogo das paixões minha alma forte
Conhece bem a estulta variedade,
Que hoje nos dá contĂ­nua f’licidade
E amanhã nem — um bem que nos conforte.

Mas a dor que excrucia e que maltrata,
A dor cruel que o ânimo deplora,
Que fere o coração e pronto mata,

É ver na mão cuspir a extrema hora
A mesma boca aduladora e ingrata,
Que tantos beijos nela pôs — outrora.