Anfitrite
Louco, Ă s doudas, roncando, em lĂĄtegos, ufano,
O vento o seu furor colĂ©rico passeia…
Enruga e torce o manto Ă prateada areia
Da praia, zune no ar, encarapela o oceano.A seus uivos, o mar chora o seu pranto insano,
Grita, ulula, revolto, e o largo dorso arqueia;
Perdida ao longe, como um pĂĄssaro que anseia,
Alva e esguia, uma nau avança a todo o pano.Sossega o vento; cala o oceano a sua mågoa;
Surge, esplĂȘndida, e vem, envolta em ĂĄurea bruma,
Anfitrite, e, a sorrir, nadando Ă tona d’ĂĄgua,LĂĄ vai… mostrando Ă luz suas formas redondas,
Sua clara nudez salpicada de espuma,
Deslizando no glauco amĂculo das ondas.
Sonetos sobre Ăgua de Francisca JĂșlia da Silva
3 resultadosSonho Africano
Ei-lo em sua choupana. A lĂąmpada, suspensa
Ao teto, oscila; a um canto, um velho e ervado fimbo;
Entrando, porta dentro, o sol forma-lhe um nimbo
Cor de cinĂĄbrio em torno Ă carapinha densa.Estira-se no chĂŁo… Tanta fadiga e doença!
Espreguiça, boceja… O apagado cachimbo
Na boca, nessa meia escuridĂŁo de limbo,
Mole, semicerrando os dĂșbios olhos, pensa…Pensa na pĂĄtria, alĂ©m… As florestas gigantes
Se estendem sob o azul, onde, cheios de mĂĄgoa,
Vivem negros reptis e enormes elefantes…Calma em tudo. Dardeja o sol raios tranquilos…
Desce um rio, a cantar… Coalham-se Ă tona d’ĂĄgua
Em compacto apertĂŁo, os velhos crocodilos…
RĂșstica
Da casinha, em que vive, o reboco alvacento
Reflete o ribeirĂŁo na ĂĄgua clara e sonora.
Este Ă© o ninho feliz e obscuro em que ela mora;
AlĂ©m, o seu quintal, este, o seu aposento.Vem do campo, a correr; e Ășmida do relento,
Toda ela, fresca do ar, tanto aroma evapora
Que parece trazer consigo, lĂĄ de fora,
Na desordem da roupa e do cabelo, o vento…E senta-se. CompĂ”e as roupas. Olha em torno
Com seus olhos azuis onde a inocĂȘncia bĂłia;
Nessa meia penumbra e nesse ambiente morno,Pegando da costura Ă luz da clarabĂłia,
PÔe na ponta do dedo em feitio de adorno,
O seu lindo dedal com pretensĂŁo de jĂłia.