Entre o Bater Rasgado dos PendÔes
Entre o bater rasgado dos pendÔes
E o cessar dos clarins na tarde alheia,
A derrota ficou: como uma cheia
Do mal cobriu os vagos batalhÔes.Foi em vão que o Rei louco os seus varÔes
Trouxe ao prolixo prélio, sem idéia.
Ăgua que mĂŁo infiel verteu na areia â
Tudo morreu, sem rastro e sem razÔes.A noite cobre o campo, que o Destino
Com a morte tornou abandonado.
Cessou, com cessar tudo, o desatino.Só no luar que nasce os pendÔes rotos
Mostram no absurdo campo desolado
Uma derrota herĂĄldica de ignotos.
Sonetos sobre Alheio de Fernando Pessoa
3 resultadosDeixei De Ser Aquele Que Esperava
Deixei de ser aquele que esperava,
Isto Ă©, deixei de ser quem nunca fui…
Entre onda e onda a onda nĂŁo se cava,E tudo, em ser conjunto, dura e flui.
A seta treme, pois que, na ampla aljava,
O presente ao futuro cria e inclui.
Se os mares erguem sua fĂșria brava
Ă que a futura paz seu rastro obstrui.Tudo depende do que nĂŁo existe.
Por isso meu ser mudo se converte
Na própria semelhança, austero e triste.Nada me explica. Nada me pertence.
E sobre tudo a lua alheia verte
A luz que tudo dissipa e nada vence.
Depois Que O Som Da Terra, Que Ă NĂŁo TĂȘ-Lo
Depois que o som da terra, que Ă© nĂŁo tĂȘ-lo,
Passou, nuvem obscura, sobre o vale
E uma brisa afastando meu cabelo
Me diz que fale, ou me diz que cale,A nova claridade veio, e o sol
Depois, ele mesmo , e tudo era verdade,
Mas quem me deu sentir e a sua prole?
Quem me vendeu nas hastas da vontade?Nada. Uma nova obliquação da luz,
Interregno factĂcio onde a erva esfria.
E o pensamento inĂștil se conduzAtĂ© saber que nada vale ou pesa.
E nĂŁo sei se isto me ensimesma ou alheia,
Nem sei se Ă© alegria ou se Ă© tristeza.