Sonetos sobre Alma de Cruz e Souza

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Sonetos de alma de Cruz e Souza. Leia este e outros sonetos de Cruz e Souza em Poetris.

Quando Apareces, Fica-Se ImpassĂ­vel

Quando apareces, fica-se impassĂ­vel
E mudo e quedo, trĂŞmulo, gelado!…
Quer-se ficar com atenção, calado,
Quer-se falar sem mesmo ser possĂ­vel!.

Anda-se c’o a alma n’um estado horrĂ­vel
O coração completamente ervado!…
Quer-se dar palmas, mas sem ser notado,
Quer-se gritar, n’uma explosĂŁo temĂ­vel!…

Sobe-se e desce-se ao paĂ­s das fadas,
Vaga-se co’as nuvens das mansões douradas
Sob um esforço colossal, titânico!…

E as idĂ©ias galopando voam…
Então lá dentro sem parar, ressoam
As indomáveis convulsões do crânio!!…

Único Remédio

Como a chama que sobe e que se apaga
Sobem as vidas a espiral de Inferno.
O desespero Ă© como o fogo eterno
Que o campo quieo em convulções alaga…

Tudo Ă© veneno, tudo cardo e praga!
E al almas que tĂŞm sede de falerno
Bebem apenas o licor moderno
Do tédio pessimista que as esmaga.

Mas a Caveira vem se aproximando,
Vem exótica e nua, vem dançando,
No estrambotismo lĂşgubre vem vindo.

E tudo acaba entĂŁo no horror insano –
– Desespero do Inferno e tĂ©dio humano –
Quando, d’esguelha, a Morte surge, rindo…

Inefável!

Nada há que me domine e que me vença
Quando a minh’alma mudamente acorda…
Ela rebenta em flor, ela transborda
Nos alvoroços da emoção imensa.

Sou como um Réu de celestial Sentença,
Condenado do Amor, que se recorda
Do Amor e sempre no SilĂŞncio borda
D’estrelas todo o cĂ©u em que erra e pensa.

Claros, meus olhos tornam-se mais claros
E tudo vejo dos encantos raros
E de outra mais serenas madrugadas!

todas as vozes que procuro e chamo
Ouço-as dentro de mim, porque eu as amo
Na minh’alma volteando arrebatadas!

O Assinalado

Tu és o louco da imortal loucura,
O louco da loucura mais suprema.
A Terra Ă© sempre a tua negra algema,
Prende-te nela a extrema Desventura.

Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma Desventura extrema
Faz que tu’alma suplicando gema
E rebente em estrelas de ternura.

Tu és o Poeta, o grande Assinalado
Que povoas o mundo despovoado,
De belezas etrenas, pouco a pouco…

Na Natureza prodigiosa e rica
Toda a audácia dos nervos justifica
Os teus espasmos imortais de louco!

Repouso

A cabeça pendida docemente
Em sonhos, sonha o sonhador inquieto,
Repousa e nesse repousar discreto
É sempre o sonho o seu bordão clemente.

Cego desta PrisĂŁo impenitente
Da Terra e cego do profundo Afeto,
O sonho Ă© sempre o seu bordĂŁo secreto
O seu guia divino e refulgente.

Nem no repouso encontra a paz que espera,
Para lhe adormecer toda a quimera,
Os cĂ­rculos fatais do seu Inferno.

Entre a calma aparente, a estranha calma,
O seu repouso Ă© sempre a febre d’alma,
O seu repouso Ă© sonho, e sonho eterno.

Asas Abertas

As asas da minh’alma estĂŁo abertas!
Podes te agasalhar no meu Carinho,
Abrigar-te de frios no meu Ninho
Com as tuas asas trĂŞmulas, incertas.

Tu’alma lembra vastidões desertas
Onde tudo Ă© gelado e Ă© sĂł espinho.
Mas na minh’alma encontrarás o Vinho
e as graças todas do Conforto certas.

Vem! Há em mim o eterno Amor imenso
Que vai tudo florindo e fecundando
E sobe aos céus como sagrado incenso.

Eis a minh’alma, as asas palpitando
Com a saudade de agitado lenço
o segredo dos longes procurando…

Almas Indecisas

Almas ansiosas, trĂŞmulas, inquietas,
Fugitivas abelhas delicadas
Das colméias de luz das alvoradas,
Almas de melancĂłlicos poetas.

Que dor fatal e que emoções secretas
vos tornam sempre assim desconsoladas,
Na pungĂŞncia de todas as espadas,
Na dolĂŞncia de todos os ascetas?!

Nessa esfera em que andais, sempre indecisa,
Que tormento cruel vos nirvaniza,
Que agonias titânicas são estas?!

Por que nĂŁo vindes, Almas imprevistas,
Para a missĂŁo das lĂ­mpidas Conquistas
E das augustas, imortais Promessas?!