Soneto XXI
Fico – deixas-me velho. Moça e bela,
partes. Estes gerânios encarnados,
que na janela vivem debruçados,
vão morrer debruçados na janela.E o piano, o teu canário tagarela,
a lâmpada, o divã, os cortinados:
– “Que Ă© feito dela?” – indagarĂŁo – coitados!
E os amigos dirĂŁo: – “Que Ă© feito dela?”Parte! E se, olhando atrás, da extrema curva
da estrada, vires, esbatida e turva,
tremer a alvura dos cabelos meus;irás pensando, pelo teu caminho,
que essa pobre cabeça de velhinho
é um lenço branco que te diz adeus!
Sonetos sobre Amigos de Guilherme de Almeida
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Soneto IX
Nessa tua janela, solitário,
entre as grades douradas da gaiola,
teu amigo de exĂlio, teu canário
canta, e eu sei que esse canto te consola.E, lá na rua, o povo tumultuário
ouvindo o canto que daqui se evola
crê que é o nosso romance extraordinário
que naquela canção se desenrola.Mas, cedo ou tarde, encontrarás, um dia,
calado e frio, na gaiola fria,
o teu canário que cantava tanto.E eu chorarei. Teu pobre confidente
ensinou-me a chorar tĂŁo docemente,
que todo mundo pensará que eu canto.