Sonetos sobre Amor de Glauco Mattoso

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Sonetos de amor de Glauco Mattoso. Leia este e outros sonetos de Glauco Mattoso em Poetris.

Soneto 263 A Mama Cass

Se magra Ă© minha Sandra carioca,
gordona foi Cassandra, outro tesĂŁo
das minhas fantasias, que hoje sĂŁo
lembranças se a vitrola, ao fundo, toca.

Mulher o meu desejo sĂł provoca
se for ou varapau ou balofĂŁo:
oitenta ou oito; o meio termo nĂŁo.
Por isso a Mama Cass, morta, me choca.

Um simples sanduĂ­che nos privava,
fatĂ­dico, entalado na garganta,
daquela voz famosa, que nĂŁo grava

mais coisas como aquilo que me encanta:
“Palavras de amor”. Cass, você foi brava!
Nenhum peso mais alto se alevanta!

Soneto 434 A NĂ©stor Perlongher

Na frente esteve e está, depois ou antes.
Poeta já portento de portenho,
em NĂ©stor o barroco ganha engenho
e os verbos reverberam mais brilhantes.

Da Frente mĂ­tico entre os militantes,
aqui tem maior campo seu empenho.
Da causa negra um dado a depor tenho:
tratou mais que os tratados dos tratantes.

Aos putos imputou novo valor.
Da lĂ­ngua tinha humor sempre na ponta.
Das classes, luta e amor, Ă© professor.

Mediu o que a estatĂ­stica nĂŁo conta.
Territorializou do corpo a cor.
Deu tom de santa a tanta tinta tonta!

Soneto 549 Tematizado

De duas coisas todo bom poeta
dever tem de falar para ser posto
no cĂ­rculo dos grandes e no gosto
do povo ser mais um que se projeta:

de estrelas e de rosas. Nada veta
que seja seu soneto sĂł composto
de pétalas que espelhem-lhe o desgosto
do amor que feneceu e nos afeta.

Também ninguém proíbe que as estrelas
figurem esperanças ou paixões
e todos os sonetos tentem lĂŞ-las.

Não morre um de Bilac ou de Camões,
mas falta o que um poeta mede pelas
(dum cego) fantasias e visões…